Fundada como consultoria esportiva, a OutField ampliou seus braços dentro da indústria e, desde 2020, se aventura no mundo dos investimentos. A última iniciativa da empresa foi anunciada nesta semana: o lançamento de dois fundos, que planejam juntar R$ 250 milhões para financiar clubes brasileiros e auxiliá-los na gestão de fluxo de caixa e dos passivos.

Em entrevista ao L!Biz, um dos sócios-fundadores da OutField, Lucas de Paula, explicou que a empresa tem como objetivo financiar o crescimento sustentável da indústria do futebol no Brasil e se posicionar como a primeira gestora com soluções customizadas para atender as necessidades dos times.

Os fundos da Outfield foram divididos em: (1) OTF Debt, que tem o foco na compra de ativos estressados e atingiu sua meta de captação de R$50 milhões, e (2) OTF Fin, que tem como premissa ser um parceiro financeiro dos clubes por meio da cessão de créditos atrelados a recebíveis e tem como pretensão a captação de R$150 milhões a R$200 milhões. Ambos os veículos foram formatados em parceria com gestoras de recursos especializadas em crédito

- O OTF Debt, nosso 1º primeiro veículo de investimentos, está focado na compra de dívidas estressadas dos clubes que são analisadas pela Câmara Nacional de Resolução de Disputas da CBF (CNRD), uma câmara de arbitragem regulamentada por FIFA e CBF que aplica sanções financeira e esportivas aos clubes que ficam inadimplentes nas dívidas transitadas em julgado. Por ser um ativo estressado, há possibilidade de grandes retornos para remunerar o alto risco assumido pelo fundo e seus cotistas. Esse veículo ajuda o mercado a destravar valor, gerando liquidez na compra desses ativos - disse Lucas de Paula, ao L!, antes de completar:

- OTF Fin, nossa 2ª tese, visa auxiliar os clubes que sofrem com fluxos de caixa instáveis e enfrentam seguidos desafios de liquidez por não possuírem acesso a crédito estruturado de médio prazo. Neste sentido, nos posicionamos como um parceiro financeiro do clube, oferecendo crédito com base nos diferentes recebíveis que o clube possui, como por exemplo: patrocínios, programas de Sócio Torcedor, recebimentos de direitos de transmissão, entre outros. Apesar de nomes conhecidos no mercado e com alto volume transacionado, a maioria dos clubes não têm acesso a crédito via mercado de capital no Brasil, nosso objetivo é dar esse acesso via o fundo. Os grandes bancos não entendem como os clubes operam e consequentemente não conseguem dar crédito analisando garantias, como sócio-torcedor e patrocínio. Esse movimento é fundamental para a profissionalização da indústria como um todo. 

Fundos prometem auxiliar finanças dos clubes brasileiros (Arte LANCE!)

As novidades surgem em um período de mudanças no futebol brasileiro. Após a regulamentação da Lei da SAF, que trouxe benefícios para a troca do modelo associativo para empresas, os clubes negociam a criação da liga para organizar o Brasileirão a partir de 2025. As duas novidades envolvem a adoção de gestão profissionalizada e a entrada de novos investidores. A visão da Outfield é que esses movimentos são apenas o início do processo de desenvolvimento do mercado local.

Confira abaixo as principais partes da entrevista de Lucas de Paula, sócio-fundador da Outfield:

L!Biz: Como surgiu a Outfield e como foi a trajetória da empresa até o lançamento dos últimos fundos?

Lucas de Paula: A OutField nasceu para que o esporte na América Latina, a começar pelo Brasil, alcance seu potencial e se aproxime da grandeza das indústrias americana e europeia. Quebrando paradigmas, a empresa busca inserir o novo no mercado esportivo, seja ele tradicional ou eletrônico, aproximando-o do entretenimento. Trabalhando em parceria com marcas globais e construindo projetos inovadores de conteúdo e digital, a OutField com sede em São Paulo e escritório em Nova York conecta empresas, clubes e atletas, como New Balance, Wix, Flamengo, Red Bull Bragantino, BMG a novas oportunidades de marketing e investimento.

Fundada em 2016, originalmente como consultoria esportiva, a OutField verificou uma oportunidade de ajudar ainda mais no desenvolvimento das empresas que prestavam serviço de consultoria criando veículos de investimento, além de entender que com recursos poderia acelerar o crescimento e transformação dos mercados que estava atuando. Assim dentro do universo de venture capital foi criado o  OTF Capital 1, o primeiro fundo de venture capital 100% focado na indústria esportiva e de entretenimento no Brasil, captou R$6 milhões, investidos em 5 empresas, dentre elas: Semexe, RadarFit, Galaxies, Final Level e 2morrow Sports, que juntas representaram uma valorização de 2,5X no valor de portfólio do fundo nos últimos 18 meses. 

Futebol brasileiro é visto com potencial de crescimento (Arte Lance!)

L!Biz: De forma geral, qual o objetivo da Outfield com o lançamento dos dois novos fundos de investimento? De que forma a iniciativa pode ser benéfica para o futebol brasileiro?

Lucas de Paula: A partir de todo o conhecimento adquirido prestando consultoria para os clubes e empresas relacionadas ao futebol, a Outfield identificou oportunidade de mercado e desenvolveu veículos de investimento que tem como objetivo auxiliar os clubes na gestão de caixa e passivos, que são dois dos principais problemas crônicos da indústria. 

OTF Debt: Nosso 1º primeiro veículo de investimentos está focado na compra de dívidas estressadas dos clubes que são analisadas pela Câmara Nacional de Resolução de Disputas da CBF (CNRD), uma câmara de arbitragem regulamentada por FIFA e CBF que aplica sanções financeira e esportivas aos clubes que ficam inadimplentes nas dívidas transitadas em julgado. Por ser um ativo estressado, há possibilidade de grandes retornos para remunerar o alto risco assumido pelo fundo e seus cotistas. Esse veículo ajuda o mercado a destravar valor, gerando liquidez na compra desses ativos. 

OTF Fin: Nossa 2ª tese visa auxiliar os clubes que sofrem com fluxos de caixa instáveis e com enfrentam seguidos desafios de liquidez por não possuírem acesso a crédito estruturado de médio prazo. Neste sentido, nos posicionamos como um parceiro financeiro do clube, oferecendo crédito com base nos diferentes recebíveis que o clube possui como por exemplo patrocínios, programas de Sócio Torcedor, recebimentos de direitos de transmissão, entre outros. Apesar de nomes conhecidos no mercado e com alto volume transacionado, a maioria dos clubes não têm acesso a crédito via mercado de capital no Brasil, nosso objetivo é dar esse acesso via o fundo. Os grandes bancos não entendem como os clubes operam e consequentemente não conseguem dar crédito analisando garantias como sócio-torcedor e patrocínio por exemplo! Esse movimento é fundamental para a profissionalização da indústria como um todo. 

Além desses dois veículos nosso objetivo não é parar por aqui, estamos analisando outras estratégias que auxiliem os clubes de diferentes maneiras, além de também estarmos acompanhando de perto boas oportunidades de compra de clubes via SAFs.

L!Biz: Como a criação da liga de clubes e a onda de SAFs influenciaram na decisão da Outfield em lançar os novos fundos? 

Lucas de Paula: Acreditamos que o mercado do futebol está passando por um momento de inflexão no qual tivemos recentemente a mudança da Lei das SAFs (agosto/21), que introduziu benefícios para os clubes migrarem de um modelo associativo para uma gestão profissionalizada, além de dar segurança jurídica para investidores. Após essa mudança na regulamentação temos alguns exemplos como a compra do Ronaldo no Cruzeiro, Grupo City com o Bahia, entre outros investidores locais e estrangeiros que apenas corroboram a nossa visão de que esse mercado tem um enorme potencial de crescimento. Se compararmos com regiões desenvolvidas como Europa e Estados Unidos, esse movimento ocorreu em décadas anteriores e atualmente as ligas e clubes são ótimos investimentos e com liquidez de mercado. 

Nossa visão é de que esses primeiros movimentos são apenas o início do processo de desenvolvimento, amadurecimento e crescimento do mercado local. 

L!Biz: Como serão selecionados os clubes a serem auxiliados? Eles devem procurar a Outfield ou a empresa fará o caminho inverso de propor ajuda?

Lucas de Paula: A partir do relacionamento criado com os clubes nos anos de consultoria construímos uma base sólida de contato com os principais tomadores de decisões. Estamos fazendo o trabalho ativo de preocupar os clubes para mostrar as diferentes soluções, porém tem acontecido também de clubes nos procurarem para ajudar na gestão dos passivos.  

No OTF Debt a geração de ativos CNRD é feita via  jogadores, empresários e escritórios de advocacia que possuem esses casos. Aqui também fazemos a originação de forma ativa, porém como são muitos não conseguimos alcançar todos e estamos disponíveis para eles procurarem a Outfield e mostrarem os casos CNRD que possuem.