Os clubes da Premier League decidiram em conjunto pela proibição do patrocínio de sites de apostas na frente das camisas. A regra entrará em vigor a partir da temporada 2026/27 e impactará diretamente oito times que têm empresas do setor como patrocinadores máster. Mas, afinal, qual o motivo e os possíveis impactos desta medida? O LANCE! ouviu especialistas do mercado para descobrir.
Embora a maioria das pessoas aposte por diversão, uma onda especialistas e ativistas argumentam que a supremacia de anúncios de apostas no esporte contribui para o problema do vício em jogos de azar. Diante das restrições precedentes na publicidade de tabaco e álcool, os críticos defendem que a proibição das apostas na frente da camisa protegeria os jovens de uma categoria potencialmente prejudicial.
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A Premier League passa a imagem da proibição como um ato de responsabilidade com os fãs, mas a imprensa inglesa destaca outras razões por trás da decisão. Uma delas é a tentativa de impedir restrições maiores, uma vez que o governo do Reino Unido considera uma proibição mais ampla do patrocínio de apostas no esporte. Governos da Espanha e da Itália já tomaram medidas semelhantes.
- É natural uma empresa ou segmento, que tem na audiência de esportes grande parte de seu público alvo, investir em patrocínio que impacte essas pessoas. O poder econômico das casas de apostas trouxe para os clubes contratos muito relevantes, tanto que dominaram as camisas em diversas ligas, subindo a barra de preço sensivelmente. Isso também aconteceu com o segmento 'crypto', aliás - disse Armênio Neto, especialista em negócios do esporte, ao LANCE!.
Possíveis impactos na Premier League
O impacto da medida será sentido diretamente por oito clubes da Premier League: Bournemouth, Brentford, Everton, Fulham, Leeds, Newcastle, Southampton, West Ham. Eles têm acordos de patrocínio máster com empresas de apostas, os quais a imprensa inglesa estima que variem entre 6 e 10 milhões de libras anuais (entre R$ 40 mi e R$ 60 mi, na cotação anual).
O primeiro efeito é óbvio: a proibição obrigará as casas de apostas a investirem em outros tipos de exposição, enquanto os clubes deverão trabalhar para atrair interesse de outros setores do mercado.
- Agora, em razão dessa mudança, as casas de apostas precisarão encontrar outros caminhos, novas estratégias para continuar impactando seus consumidores com a mesma frequência e relevância que os patrocínios dos maiores times oferecem. Os clubes, por sua vez, terão que buscar a reposição dessas receitas no mercado, criar novas propriedades e trabalhar duro para atrair outras marcas - comentou Armênio Neto.
A medida ainda pode inflacionar os valores de patrocínio de outras propriedades que ainda estão permitidas para as casas de apostas, como as mangas de camisa e os painéis de LED. Com o setor limitado a poucos ativos, os clubes podem aproveitar o aumento da concorrência por esse estoque para aumentar o preço pedido.
Restrições no mercado brasileiro?
A decisão da Premier League levanta a dúvida se pode acontecer algo parecido no futebol brasileiro. Cabe destaque que, atualmente, 12 dos 20 clubes da Série A do Brasileirão têm casas de apostas como patrocinadores máster, enquanto outros sete têm acordos comerciais em diferentes propriedades.
O tema, inclusive, é alvo de discussão do Ministério da Fazenda durante a elaboração da medida provisória que vai regular as apostas esportivas. Além de definir regras de operação e tributação do setor, o governo discute possíveis normas de publicidade para as empresas de "betting". Entre elas, está a proibição do patrocínio de casas de apostas não credenciadas.
- O Ministério da Fazenda tem se reunido com diversos órgãos, inclusive com o CONAR, para, inspirado nas melhores práticas internacionais, deliberar sobre qual a melhor forma de discutir as mensagens publicitárias e cuidar de assegurar a divulgação do jogo responsável. Há estudos que comprovam que o índice de ludopatia, o vício em jogos, é inferior em países onde a prática é regulamentada. Assim como ocorre com o álcool, proibir não é a solução para evitar a dependência, mas adotar boas práticas de informação e conscientização também em âmbito publicitário - explicou Mariana Chamelette, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo.