Longe do meu cerne discorrer sobre os motivos de cunho esportivo pelos quais Neymar escolheu esse surpreendente caminho para os próximos dois anos de sua carreira. O fato de ser uma liga menos atlética, com menos jogos durante a temporada e uma infindável menor coerção por parte da mídia e torcida com certeza foram pauta no debate com seu staff, mas minha especialidade é negócios e analisaremos a tomada de decisão apenas sob essa óptica.

Não há dúvidas que o alto salário foi determinante e que os benefícios e regalias serão nababescos, mas indo mais além do óbvio, é preciso debater sobre dois pontos imprescindíveis que o Team Ney levou pra mesa: impostos e relação com o mundo árabe. 

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Até pouco tempo atrás, brasileiros e demais jogadores não-europeus não eram tão comuns na Premier League. O motivo? Além da ótima regra de número mínimo de convocações pela respectiva seleção, jogadores do mundo inteiro perdiam quase 30% de impostos comidos pelo leão britânico. Quantas vezes já não lemos sobre polêmicas envolvendo impostos e grandes jogadores? Cristiano Ronaldo, Messi, Daniel Alves…

Quando o assunto é muito dinheiro e salário altíssimo, há de se pensar em impostos, sim ou sim. Pra quem estava na lua e não acompanhou, nosso outrora craque embolsará módicos 35 milhões de reais ao mês livre de impostos. Fosse qualquer outra liga baseada em um país diferente, 12% seria o mínimo que ele desembolsaria aos cofres públicos locais.

Quem em sã consciência gostaria de perder tanto dinheiro à toa? Atesto com veemência: a isenção de impostos foi determinante para a escolha de Neymar e seu staff. Jogadores notórios como Milinkovic-Savic e Koulibaly abertamente falaram sobre o assunto e o quão determinante essa cláusula sobre impostos foi durante a negociação.

Neymar jogará pelo Al-Hilal até 2025 (Foto: Divulgação/Al-Hilal)

O segundo motivo é igualmente decisivo: relação com o mundo árabe. Desde o advento da coligação entre governo/família real saudita e esporte local, o futebol passou a ser um dos maiores palanques para a nova imagem que o país quer mostrar ao mundo.

Longe de mim querer meter o bedelho em temas sensíveis de hoje em dia, mas é notório e escancarado o sportwashing - termo utilizado quando o esporte é tido como ferramenta de melhoria de imagem para determinado país ou empresa - por parte do governo local.

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Desde golf até Fórmula 1 e tênis, hoje o futebol também faz parte do orçamento estatal do país e embaixadores de longo prazo já estão sendo nomeados, assim como Xavi foi para o Qatar há pouco tempo atrás.

Quem não quer ter relação próxima com o governo do país que possui o maior volume de petróleo do mundo? Quem não quer ter portas abertas com um mercado de infindáveis recursos monetários? Que empresa ou empresário não adoraria ter portas abertas com um dos maiores orçamentos do mundo? Decisão fácil.

Uma lástima para o futuro da seleção brasileira, uma lástima para a carreira daquele que era tido como o nosso salvador, mas uma jogada de mestre por parte do jogador que mais movimentou dinheiro em transferências na história do futebol.

* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Lance!