Antes capitães de Boca e River, Schelotto e Gallardo se reencontram como treinadores na Libertadores

Em 2004, os dois eram os capitães e destaques das duas equipes, que buscavam uma vaga na final da Libertadores; Em 2018, eles são os treinadores e almejam o título continental

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No próximo sábado, a América do Sul vai parar para assistir a final da Taça Libertadores entre Boca Juniors e River Plate, dois clubes de Buenos Aires que carregam uma das maiores rivalidades da história do futebol e, após muitos anos de conquistas e histórias, finalmente disputarão o posto máximo de glória do continente.

Guillermo Barros Schelotto e Marcelo Gallardo estarão representando, respectivamente, Boca Juniors e River Plate nas casamatas, mas já o fizeram dentro de campo. Na última década, os dois eram capitães e alguns dos principais jogadores das equipes, que se enfrentaram na semifinal da Libertadores de 2004 - até então o estágio mais longe que as duas equipes haviam se encontrado na principal competição da América do Sul.

Semifinal ainda mais quente por conta de resultado no Campeonato Argentino
Além da natural rivalidade entre Boca e River, a semifinal da Libertadores de 2004 teve um toque ainda mais dramático por conta do contexto que a cercava: no dia 15 de maio, pouco menos de dois meses antes daquele fatídico encontro pela competição internacional, as duas equipes disputavam ponto a ponto o Torneo Clausura, a segunda metade do Campeonato Argentino, e se enfrentaram, em um duelo que ‘decidiu’ o torneio, apesar do mesmo ser disputado em pontos corridos.

A partida era válida pela 14ª rodada - de dezenove no total - do Clausura e Boca Juniors e River Plate, que estavam separados por poucos pontos na disputa do título, se enfrentaram na Bombonera. Mesmo jogando longe de seus domínios, os Millonarios venceram a partida, com um gol marcado por Fernando Cavenaghi após uma cobrança de escanteio, o que encaminhou a conquista nacional para a equipe do Monumental de Nuñez.

Confusão: assim pode ser definido os jogos de 2004 (Foto: Divulgação)

No primeiro jogo pela Libertadores, prejuízo para Gallardo
‘Engasgado’ pela perda do Clausura, o Boca Juniors passava por um dos maiores períodos de domínio continental já vistos na história do futebol. Sob o comando de Carlos Bianchi, a equipe havia vencido as Libertadores em 2000, 2001 e 2003, além de conquistar o mundo em 2000, sobre o Real Madrid, e em 2003, diante do Milan.

O River Plate, por sua vez, havia conquistado a Libertadores em 1996, e cinco Campeonatos Argentinos - que consagrava dois campeões por temporada naquela época, já que cada turno representava um título - entre 1999 e 2004. Portanto, as duas equipes vinham, além de um confronto direto que definiu uma conquista nacional, de grandes épocas de títulos, o que refletia ainda mais na importância dessa semifinal.

Como esperado, a torcida do Boca Juniors preparou um recebimento de cinema quando os jogadores subiram ao gramado. Em campo, a equipe da casa conseguiu abrir o placar com menos de 30 minutos, quando o próprio Guillermo Barros Schelotto fez um bom cruzamento para Rolando Schavi, que se antecipou à marcação e completou para o fundo das redes.

Gallardo parte para cima de Abbonzanzieri (Foto: Divulgação)

Com o gol, a partida, que já havia começado violenta, ficou ainda mais pegada: três minutos depois do zagueiro abrir o placar, Cascini, atleta do Boca Juniors, fez uma bonita jogada para sair da pressão, quando Marcelo Gallardo chegou com um pontapé, derrubando o camisa 22. A confusão se instaurou, com jogadores de ambas as equipes se empurrando e os dois atletas envolvidos no lance sendo expulsos.

Para piorar a situação do camisa 10 dos Millonarios, durante a aproximação dos outros jogadores na confusão, ele, com muita raiva, estrangulou Cascini e colocou a unha no rosto do goleiro Abbondanzieri, fazendo um corte pouco abaixo de seu olho. Completamente descontrolado, Gallardo saiu do campo apenas com a intervenção de seus próprios companheiros de River Plate.

No fim, vantagem para Schelotto, que deu a assistência para o gol que garantiu a vitória e a vantagem do Boca Juniors em busca de uma vaga na Libertadores. Do outro lado, saldo negativo para Marcelo Gallardo, que se descontrolou, foi expulso e desfalcaria o River Plate na partida de volta do confronto.

No Monumental, a intensa classificação do Boca
Na partida da volta, o Boca Juniors, com a vantagem do empate por conta do resultado na ida, teve uma postura paciente no primeiro tempo, colocando seu foco em se defender e na saída em possíveis contra-ataques em velocidade. O River Plate, por sua vez, mostrava certa organização em campo, muito por conta da ausência de Gallardo, que era o ponto de equilíbrio entre o meio e o ataque. Ao fim do primeiro tempo, o placar não havia sido alterado, o que era melhor para os Xeneizes.

O segundo tempo teria, logo nos primeiros instantes, resquícios da partida de ida: com menos de um minuto de bola rolando, Vargas foi expulso por conta de uma falta em Lucho González. Naturalmente, o River Plate cresceu na partida com a vantagem numérica, e, mais presente no ataque, abriria o placar cinco minutos depois, com o próprio meia envolvido na jogada da expulsão, atualmente no Atlético-PR, com um belo chute da entrada da área.

No momento de sufoco, a experiência de Guillermo Barros Schelotto foi muito positiva. O camisa 7, apesar de não participar da partida com dribles plásticos e chutes perigosos, era importante na imposição física e na provocação, tentando colocar o jogo mental dentro das quatro linhas. Em uma oportunidade, logrou êxito em sua ‘missão’, ajudando na expulsão de Sambueza, do River Plate, que foi expulso por conta de seguidas reclamações.

A famosa comemoração de Carlos Tévez (Foto: AFP)

Dessa forma, o bom momento voltava a ficar no colo do Boca Juniors, que conseguiu empatar o duelo. Aos 44 minutos, Cángele, que havia entrado lugar de Cagna, arrancou pelo lado esquerdo e, por estar com energia, conseguiu vencer Fernández na corrida e cruzou para Tévez, que fuzilou para o ângulo, sem chances de defesa para Lux. Por tirar a camisa e fazer o gesto de uma galinha, provocando a torcida rival, o camisa 9 foi expulso.

Quando tudo parecia perdido, o River conseguiu empatar a partida. Aos 50 minutos, Cavenaghi cobrou uma falta de longa distância na direção da área, a bola desviou no meio do bolo de jogadores e sobrou limpa para Nasuti que, apesar de bater na bola meio sem jeito, marcou o gol e fez o Monumental de Nuñez vibrar novamente. A partida e a classificação para a grande final da Libertadores seriam decidida nos pênaltis.

A emoção também apareceu nas cobranças da marca da cal, já que o Boca Juniors venceu por 5 a 4, com a disputa sendo definida no último chute. Pelo lado do River Plate, Marcelo Salas, Montenegro, Cavenaghi e Lucho González balançaram as redes, enquanto que Maxi López, atualmente no Vasco, parou em uma defesa de Abbondanzieri. Pelo lado dos Bosteros, aproveitamento perfeito: Schiavi, Álvarez, Ledesma, Burdisso e Villarreal fizeram os gols e garantiram a classificação.

O perfil de Guillermo Barros Schelotto
“Imagino que sou ídolo porque joguei como eles (os torcedores) teriam jogado. Não tive o talento de Riquelme nem os gols de Martín (Palermo), mas tive a atitude que teria um torcedor” - Essa é uma frase de uma entrevista que Schelotto fez em 2010, para o portal “El Gráfico”, que o define perfeitamente dentro de campo: um atleta voluntarioso, que, apesar de não dar um espetáculo em termos técnicos, apesar de ser um grande goleador, entregava vontade e era muito bom cumprindo seu papel tático.

Ainda como jogador, foi ídolo do Gimnasia y Esgrima, clube que iniciou e encerrou sua carreira, e do Columbus Crew, onde venceu uma MLS Cup, o campeonato nacional dos Estados Unidos, em 2008. Pelo Boca Juniors, é um dos jogadores mais vitoriosos da camisa azul e amarela, com 16 títulos: dois Mundiais, quatro Libertadores, duas Sul-Americanas, duas Recopas Sul-Americanas e seis Campeonatos Argentinos.

É treinador do Boca Juniors desde 2016, após vencer a Copa Sul-Americana com o Lanús, em 2013, e ser ‘reprovado’ para comandar o Palermo, já que não possuía uma licença da Uefa para ser treinador. Apesar do pouco tempo na casamata, o ex-atacante de 45 anos começou a repetir seu desempenho dentro das quatro linhas, sendo o atual bicampeão do Campeonato Argentino.

O ex-atacante fez história como atleta (Foto: Divulgação/Boca Juniors)

Dentro de campo, Schelotto conta com, pelo menos no papel, uma das melhores equipes já montadas nos últimos anos no continente americano. Com um vasto elenco, o treinador possui opções de qualidade em quase todos os setores, o que resulta em um vasto leque de opções possíveis para montar a estratégia de jogo. Apesar disso, a equipe não mostra um futebol vistoso e positivo e, mesmo com um ótimo conjunto, tem que contar com as individualidades em muitas ocasiões para conquistar as vitórias.

A equipe se comporta em um 4-3-3, tendo o jovem Wilmar Barrios como destaque do time. O volante colombiano, de boa força física e ótima leitura de jogo e de espaços, é o responsável por ser o ponto de equilíbrio do time, com a responsabilidade de oferecer estabilidade entre defesa e o setor de meio-campo.

No ataque, o Boca Juniors tem um estilo muito direto, ficando pouco tempo com a bola no pé, e resolvendo as jogadas com muita verticalidade, principalmente com as descidas em velocidades pelos lados do campo. Apesar do conjunto em si não animar, a qualidade individual da maioria dos jogadores desse estrelado elenco fala mais alto em muitas oportunidades.

O perfil de Marcelo Gallardo
Marcelo Gallardo era um meio-campo de muita habilidade, capaz de distribuir bons passes e montar um verdadeiro espetáculo em campo. Como a semifinal da Libertadores de 2004 provou, também era um jogador muito temperamental, que não sentia nenhum medo dentro de campo, característica típica dos jogadores argentinos nas últimas décadas.

Como jogador, conquistou a Libertadores em 1996 e cinco Campeonatos Argentinos no decorrer da década de 90 com o River Plate, antes de se transferir para o Monaco em 1999, onde conquistou um Campeonato Francês. Após a passagem na Europa, retornou aos Millonarios, onde venceu outro Clausura e, depois de três anos, jogar no PSG e no DC United, dos Estados Unidos. Ainda retornaria para uma quarta passagem no River Plate, mas encerrou sua carreira no Nacional-URU.

O clube uruguaio também foi seu primeiro clube como treinador, carreira que iniciou em 2011, onde foi campeão nacional logo em sua primeira temporada no cargo. Depois do destaque no Nacional, virou técnico do River Plate em 2014, onde, assim como fez como jogador, começou a construir uma história de muitos troféus.

O ex-meia constrói uma grande dinastia (Foto: Divulgação/River Plate)

Ele encontrou um River Plate que havia voltado à primeira divisão do futebol argentino há duas temporadas, mas mesmo assim contava com um bom elenco. Sob o comando do ‘Muñeco’, apelido como era conhecido, os Millionarios foram campeões da Copa Sul-Americana logo no primeiro ano de Gallardo como treinador. Além disso, Marcelo conquistou a Libertadores em 2015, duas Recopas Sul-Americanas, uma Copa Suruga, duas Copas Argentinas, uma Supercopa Euroamericana e uma Supercopa Argentina.

Dentro de campo, Gallardo superou muitas mudanças no elenco do River Plate ao longo dos recentes anos para montar uma equipe altamente competitiva. Seu jogo é baseado na pressão à posse de bola do adversário, principalmente quando ele entra no campo defensivo Millionario, que conta com uma boa defesa. Dessa maneira, os Millonarios montam seus ataques explorando os espaços deixados pela equipe rival no seu próprio campo de defesa, já que a mesma estava em um momento de construção de ataque.

Para isso, Gallardo conta com a presença do experiente Leonardo Ponzio, o volante que fica à frente da defesa e é responsável pelo começo da criação de jogadas, e do jovem Exequiel Palacios, marcado pela ótima cobertura de espaços, estando presente em todos os cantos do campo, e marcação, encaixando perfeitamente no jogo do River Plate, baseado na pressão ao ataque adversário e na reação.

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