No dia em que seria eliminado da Copa Libertadores da América, o São Paulo acordou ansioso para praticar um milagre no Atanasio Girardot. Os jogadores sonhavam que atropelariam o Atlético Nacional (COL) em Medellín, onde caía uma chuva insistente, e por instantes foi feliz ao abrir o placar aos oito minutos. Mas, quando acordou estava derrubado pelo revés por 2 a 1. Veja a repercussão da polêmica partida em Medellin.
"Sempre sonhávamos em voltar à final", diziam os torcedores que há dez anos não disputam a final da Libertadores, evocando a tristeza pela noite desta quarta-feira ingrata. "Na semana passada tínhamos sonhado que voaríamos para a final, sem tropeçar no Morumbi", diziam. A reputação bem merecida de um tricampeão do mundo, mesmo com tantos problemas, não percebia nenhum augúrio nesses tais sonhos nos dias antes da queda.
A torcida também esqueceu os presságios. Dormia pouco e mal pela ansiedade e tirou o gosto amargo da boca com o gol de Jonathan Calleri aos oito minutos, após quatro jogos de jejum. As muitas pessoas que vibraram tiveram a alegria retalhada sete minutos depois. Lembrariam dos erros de Diego Lugano e de Bruno, que resultaram no gol de Borja e em festa muito bonita em Medellín.
Ninguém estava certo de que haveria tempo. Muitos coincidiam nas lembranças de viradas radiantes na Libertadores, como seria de se esperar de um time com tanta tradição. A maioria, porém, estava de acordo que era um tempo fúnebre, de céu sombrio e baixo e um cheiro de tristeza com a chuva banhando o instante de desgraça nos sonhos são-paulinos.
Calleri quase conseguiu fazer farra na defesa colombiana com duas chances claras, mas não conteve o alvoroço do forte time do Nacional, que jogavam em honra de uma torcida que lotou o Atanasio Girardot. Com sua camisa pesada, o São Paulo levava armas no banco, que Edgardo Bauza fez questão de utilizar. As armas, no entanto, não estavam carregadas para a caça dos sonhos.
A última imagem que a torcida teve do Tricolor foi de um choque de realidade, contra o surrealismo das projeções por uma virada espetacular. Na terra onde viveu Gabriel García Marquez, o clube paulista reviveu uma "Crônica de uma morte anunciada" para dar adeus à Libertadores. Não ter reforçado mais o elenco, ter perdido a cabeça e o jogo no Morumbi e ter errado na defesa em Medellín. A imagem do pênalti claro não marcado em Hudson, do cometido por Carlinhos e convertido por Borja aos 32 minutos do segundo tempo. Das expulsões por reclamação de Lugano e Wesley, que se recusavam a deixar o campo, revoltados, após o segundo gol no penal colombiano.
Já o Nacional tropeçou no último degrau para a decisão, mas se levantou imediatamente com gritos de olé e de "São Paulo tem medo". Entrou em sua casa pela porta da frente, aberta para mais de 40 mil fanáticos sonharem com o bi da Libertadores 27 anos depois da primeira taça, em 1989. Uma crônica de uma vitória anunciada, de um time de repertório de jogadas vasto, de talentos como Pérez, Berrío e Borja. De finalista, que agora espera o vencedor de Boca Juniors (ARG) contra Independiente del Valle (EQU), que jogam nesta quinta em Buenos Aires, após vitória por 2 a 1 dos equatorianos, em Quito.
FICHA TÉCNICA
ATLÉTICO NACIONAL (COL) 2 X 1 SÃO PAULO
Local: Atanásio Girardot, em Medellín (COL)
Árbitro: Patricio Polic (CHI)
Assistentes: Marcelo Barraza (CHI) e Christian Schiemann (CHI)
Cartões amarelos: Mejía e Bocanegra (ATL), Hudson, Centurión, Thiago Mendes, Lugano e Wesley (SAO)
Cartões vermelhos: Lugano e Wesley (SAO)
Público e renda: Não divulgados
Gols: Calleri 8' 'ºT (0-1); Borja 15' 1ºT (1-1); Borja 32' 2ºT (2-1)
ATLÉTICO NACIONAL: Armani, Bocanegra (Felipe Aguilar 28' 2ºT), Sanchez, Henriquez (Diego Arias 44' 2ºT) e Díaz; Mejía e Pérez (Alejandro Guerra 22' 2ºT); Berrío, Macnelly Torres e Marlos Moreno; Borja. Técnico: Reinaldo Rueda
SÃO PAULO: Denis; Bruno, Lugano, Rodrigo Caio e Mena (Carlinhos 27' 2ºT); Hudson (Alan Kardec 10' 2ºT)e Thiago Mendes; Wesley, Centurión (Luiz Araújo 17' 2ºT) e Michel Bastos; Calleri. Técnico: Edgardo Bauza