Por uma série de fatores, a Libertadores da América sempre foi colocada, mesmo que às vezes de forma espontânea e com um toque de humor, como antítese à Liga dos Campeões da UEFA. Para além das questões econômicas, a imprevisibilidade que acompanha a competição sul-americana dá um toque especial aos confrontos.
Sobretudo por ser parte de um continente exportador, que, com o avanço da globalização e da mercantilização do futebol, tem facilidade para perder seus craques, a formação de super clubes na América do Sul torna-se tarefa árdua, ainda que algumas entidades flertem com tal status, se adaptado à condição local.
Mas a Libertadores mudou. E toda mudança traz consigo suas consequências. Desde 2017, com a saída oficial dos clubes mexicanos, a redistribuição de vagas feitas pela Conmebol prestigia Brasil e Argentina. Se, anteriormente, os dois tinham, cada um, cinco vagas garantidas, podendo chegar à seis em caso de título, hoje eles têm sete, que podem chegar a oito.
A atual edição é um exemplo: Palmeiras, Flamengo, Internacional, Atlético-MG, São Paulo, Fluminense, Grêmio e Santos foram os representantes brasileiros - o Santos foi eliminado na fase de grupos e o Grêmio na fase anterior. A Argentina teve sete: Boca Juniors, River Plate, Defensa y Justicia, Racing, Argentinos Juniors, Vélez Sarsfield e San Lorenzo, este eliminado ainda na segunda fase qualificatória à de grupos.
Com o leque ampliado, a possibilidade de domínio por parte dos dois países vira quase que lógica. E, mesmo que o recorte seja pequeno, as edições pós-2016, a última com mexicanos, mostram isso: de lá para cá, todos as finais tiveram times brasileiros e/ou argentino presentes. Expandindo o comparativo para a semifinal, o único intruso foi o Barcelona, do Equador, eliminado para o Grêmio em 2017.
O L! fez um levantamento das vagas nas oitavas de final das últimas dez Libertadores. E os números mostram uma tendência quase que irreversível. De 2011 até 2016, a maior concentração de Brasil e Argentina foi em 2013, com 62% dos times dos países avançando ao mata-mata. Desde 2017, por duas vezes ambos chegaram ao estrondoso número de 75%, em 2018 e em 2021. O poderio da dupla é histórico, e recentemente facilitado pela Conmebol só reduz o torneio a um grupo quase que exclusivo.
Mas a "nova Libertadores" não tem a ver somente com a redistribuição de vagas. A mudança no calendário também suprimiu a velha alternatividade. Até então, a Libertadores era disputada quase que em um tiro curto, começando em fevereiro e terminando em julho. Agora vai até dezembro. Isso permite às equipes que não foram tão bem no primeiro semestre, na fase de grupos, a repararem erros com maior tranquilidade.
Para clubes fortes financeiramente, além da possibilidade de reforçar seus elencos, o impacto da janela de transferências de meio de ano da Europa tende a não fazer tanto estrago. Flamengo e Palmeiras, últimos campeões, caminharam rumo ao título justamente com uma evolução no segundo semestre.
A porcentagem de clubes brasileiros e argentinos nas oitavas de final da Libertadores de 2011 a 2021
2011: 45%
2012: 50%
2013: 62%
2014: 43%
2015: 56%
2016: 56%
2017: 62%
2018: 75%
2019: 62%
2020: 56%
2021: 75%