Aumenta o número de pacientes com dores por causa do Home Office
Junto à tecnologia vêm os problemas posturais e dores na coluna, no pescoço (teck neck), nas falanges dos dedos, mãos e punhos (WhatsAppinite) e dores nas costas (lombalgia)
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Por Dr. Rafael Fonseca: ortopedista e médico do esporte
A pandemia do coronavírus alterou a rotina dos brasileiros. Como a orientação da OMS (Organização Mundial Da Saúde) é para que seja feito o isolamento social, alguns governadores prorrogaram o prazo da quarentena em seus estados para serviços não essenciais. Com isso, as empresas mantêm seus funcionários trabalhando em casa (home office).
Agora, mais do que nunca, as pessoas precisam estar conectadas à dispositivos móveis para conseguirem trabalhar, se exercitar, falar com amigos e até rever familiares. A tecnologia permite que isso seja fosse possível, porém, junto à ela vêm os problemas posturais e consequentemente dores na coluna, no pescoço (teck neck), nas falanges dos dedos, mãos e punhos (WhatsAppinite) e dores nas costas (lombalgia).
O problema começa a acontecer na adaptação dos móveis, cadeiras, mesas, iluminação e etc para atender vídeo chamadas, apoiar notebooks e smartphones. Segundo o ortopedista, no consutório, pacientes com essas queixas aumentaram cerca de 80%.
Tech Neck: são complicações que geram dores cervicais relacionadas ao mau posicionamento da cabeça ao usar o celular.
WhatsAppinite: é o aumento do risco da pessoa desenvolver quadros de tendinite, tenossinovite e osteoartrite nos dedos, mãos e punhos ao repetir os mesmos movimentos por muito tempo consecutivo.
Lombalgia: dor sentida na região lombar inferior que pode ser classificada como aguda, subaguda ou crônica. No Brasil, é a segunda maior causa de afastamentos do ambiente de trabalho.
A postura correta é fundamental para evitar o problema. A coluna vertebral apresenta curvaturas fisiológicas em cada nível. Temos a lordose cervical, a cifose torácica e a lordose lombar, dando à coluna o aspecto da letra ‘S’. Essa anatomia é muito importante para suportar e distribuir as cargas de forças que são aplicadas à coluna diariamente. Os músculos do pescoço são designados para suportar o peso da cabeça, que, no ser humano, pesa em média 4,5 a 5,5 quilos. Nem o pescoço nem os ombros estão adaptados para sustentar esse peso durante longos períodos com a cabeça inclinada para frente.
As forças exercidas sobre a coluna cervical são variáveis de acordo com a posição da cabeça. Na posição neutra, ou seja, com zero grau de angulação (como uma pessoa olhando na linha do horizonte), temos uma carga na coluna de cerca de 26 quilos e, à medida que essa angulação aumenta, a força aumenta. Na angulação de cerca de 60 graus – posição em que as pessoas usam o smartphone – a força pode chegar a 132 quilos, alterando a curvatura natural do pescoço. Levando em conta que uma pessoa usa o smartphone por cerca de duas a quatro horas por dia com a cabeça baixa, a somatória de um ano corresponde de 700 horas a 1.400 horas de excesso de estresse sobre a coluna cervical.
Com o tempo, esse mau alinhamento da coluna pode causar problemas às estruturas do pescoço, favorecendo o aparecimento de dor cervical e lombalgia, em virtude da mudança do alinhamento da coluna, ficando a região cervical inclinada para a frente. Ao realizar exames radiológicos da coluna podemos verificar a perda da lordose cervical com a presença de uma coluna reta ou mesmo com a inversão dessa curvatura. Ainda não há estudos comprovando essa relação, mas, provavelmente aparecerão com o tempo. Além da coluna, também colocamos nossa visão em tensão. Os músculos da face e dos olhos são ligados ao crânio e à região cervical, motivo pelo qual as contrações do olhar repetidas vezes durante o dia podem desencadear dor de cabeça, distúrbios do sono e tonteiras.
O número de consultas médicas por queixa de dor no pescoço já havia aumentado cerca de 40% antes mesmo da pandemia do coronavírus, principalmente entre pacientes jovens e crianças com dor na cervical, mas agora, nesse período de quarentena, as queixas se intensificaram ainda mais, chegando a 80%.
O QUE FAZER?
– Ao usar o smartphone, a tela deve ficar na altura dos olhos;
– Evitar atender o telefone usando apenas os ombros, com a cabeça inclinada para um dos lados;
– Fazer movimentos de rotação do pescoço para relaxar a musculatura após o uso do aparelho;
– Alternar as mãos e dedos ao segurar e digitar o celular;
– Pelo menos de meia em meia hora dar um intervalo no uso dos aparelhos digitais e alongar o pescoço, jogando a cabeça para trás;
– Os braços devem ficar ao lado do corpo, com ombros e pescoços relaxados e os antebraços devem fazer um ângulo de 90 graus;
– Usar o notebook deixando a coluna sempre ereta, apoiada no encosto da cadeira e ajustar a altura do monitor na altura dos olhos;
– Usar cadeiras que mantenham os pés apoiados no chão e que deixe a cabeça na altura do monitor;
– Deixar a iluminação clara para não precisar curvar-se à frente para poder enxergar.
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