Por Mateus Machado
Após mais de um ano sem lutar, John Allan está pronto para voltar em grande estilo ao Ultimate. O brasileiro já tinha luta marcada contra Roman Dolidze para o card do UFC 255, agendado para 21 de novembro, todavia, de última hora, aceitou o chamado para enfrentar o experiente Ed Herman no próximo dia 12 de setembro, em Las Vegas, nos Estados Unidos. Visto como uma das grandes promessas brasileiras na divisão meio-pesado, o curitibano aproveitou o tempo inativo para evoluir e aperfeiçoar seu jogo, e está disposto a mostrar uma “nova versão” em seu retorno ao octógono.
Não é comum, pelo menos no UFC, que um atleta aceite uma luta já tendo um combate agendado anteriormente, entretanto, Allan quer mostrar serviço e provar que está pronto para alçar voos maiores na organização. Em entrevista à TATAME, o atleta, que possui um cartel de 13 vitórias e cinco derrotas no MMA profissional, falou sobre o que o motivou a aceitar fazer dois combates em um curto espaço de tempo.
- Muita gente falou que somos loucos, por já termos luta marcada antes (diante de Roman Dolidze), mas é o que eu sempre falo, a gente é louco, mas não é burro (risos). Eu tenho uma equipe grande por trás de mim, e todos concordaram e acharam que dava para fazer essa outra luta (contra Ed Herman). Eu não estava sem treinar e surgiu essa luta, pelo contrário. Eu já estava focado, vinha em preparação, consegui uma boa evolução física e técnica nessa pandemia, então me sinto no auge da forma, por isso aceitamos a luta. Tenho grandes chances de vencê-lo, respeito muito meu adversário pela história dele, mas acho que esse é o meu momento e eu vou oferecer muito perigo a ele - projetou o casca-grossa.
Ao longo da entrevista, John Allan falou também sobre o quanto evoluiu durante o tempo que esteve sem lutar e deu detalhes sobre a suspensão de um ano que recebeu da USADA em 2019, por uso de metabólitos do hormônio e modulador tamoxifeno, substância proibida sob o código da Agência Mundial Antidoping (Wada) e que tem propriedades de bloqueio de estrogênio. O atleta ressaltou que, na época, provou que a substância não servia para melhora de performance, no entanto, a entidade resolveu manter a punição.
Confira o bate-papo na íntegra:
– Duas lutas marcadas no Ultimate
Eu vou lutar contra o Ed Herman sem pensar na luta contra o Roman Dolidze. Vou ter que pensar em uma luta de cada vez. Primeiro, vou lutar com o Ed Herman e, depois disso, vou pensar na luta de novembro. Se eu fizer uma luta pensando na outra, nenhuma das duas vai dar certo. Não vou com essa de tentar não me machucar, eu vou para acabar com a luta e ganhar do jeito que for, se eu tiver que me machucar para vencer, vai ser desse jeito. A gente vai traçar uma estratégia boa para que a luta não fique perigosa para mim, não para que eu não me machuque. Lesão a gente sabe que é comum em luta e não vamos lutar querendo evitar isso, vamos para buscar a vitória, o resto é consequência.
– Como surgiu a oportunidade de fazer essa segunda luta?
Eu tinha essa luta do dia 21 de novembro contra o Dolidze, no mesmo card em que a Jennifer Maia vai disputar o cinturão contra a Valentina. Era uma luta boa e a gente aceitou de primeira, porque não tem luta fácil no UFC. Acabou que um dia depois surgiu também a luta contra o Ed Herman, caiu o adversário dele, o Ultimate ofereceu para a gente e nós aceitamos, com a condição de que o duelo de novembro continuasse de pé, o UFC concordou e nós aceitamos. O Ed Herman é um cara que já tem mais de 20 lutas no UFC, um cara renomado, e eu já vinha de preparação há uns meses. Com essa pandemia, eu sabia que poderia ter a chance de lutar num curto prazo de tempo, então mantive o peso mais baixo, fiz uma preparação legal e sabíamos que, com 20 dias, poderíamos finalizar o camp e enfrentá-lo. Sem subestimar, a gente respeita demais ele, tanto que aceitei lutar pela experiência dele no UFC, e uma vitória pode me colocar em uma situação muito boa.
– Qual foi a principal razão por ter aceitado fazer duas lutas num curto espaço de tempo?
Muita gente falou que somos loucos, por já termos luta marcada antes, mas é o que eu sempre falo, a gente é louco, mas não é burro (risos). Eu tenho uma equipe grande por trás de mim, e todos concordaram e acharam que dava para fazer essa outra luta. Eu não estava sem treinar e surgiu essa luta, pelo contrário. Eu já estava focado, vinha em preparação, consegui uma boa evolução física e técnica nessa pandemia, então me sinto no auge da forma, por isso aceitamos a luta. Tenho grandes chances de vencê-lo, respeito muito meu adversário pela história dele, mas acho que esse é o meu momento e eu vou oferecer muito perigo a ele. Estou preparado e, quando eu subir no cage, vou mostrar isso para todo mundo.
– Você ficou suspenso por um ano e depois surgiu essa situação da pandemia. Como você procurou lidar com isso?
Eu fiquei mais de um ano sem lutar e, quando chegou essa pandemia, eu vi que tinha duas opções: ou me afundar de vez, não treinar, e quando tudo isso acabasse, estar inferior a todo mundo, ou me focar, treinar, fazer o que dava, do jeito que dava, e procurar evoluir, e foi o que eu fiz. Fiquei mais de dois meses treinando sozinho em casa, a minha namorada também é atleta amadora e conseguiu me ajudar em muita coisa. Peguei peso da academia, montei um tatame na minha casa, num espaço pequeno, mas suficiente para treinarmos. Depois disso, as academias voltaram a começaram a voltar devagar aqui em Curitiba, mas só depois de três meses que eu consegui fazer um sparring com alguém do meu peso, por exemplo. Isso me deu força, porque eu vi que, independentemente das circunstâncias, eu consegui evoluir. Agora, já faz mais de dois meses que estamos treinando em grupo e estou muito bem em todos os sentidos. Estou junto de boas pessoas, treinando muito Wrestling, Jiu-Jitsu e tenho certeza que vou mostrar um John Allan que ninguém viu antes.
– Como foi para você receber essa suspensão? Na sua opinião, houve exagero por parte da USADA?
Essa situação da USADA foi uma situação difícil. Primeiro que eu tomei mais de dois meses antes de estrear no UFC, não tinha possibilidade de estrear ainda, nem tinha luta marcada, depois eu lutei e aí surgiu a oportunidade de ir para o UFC. Eu ainda não estava no programa de testes da USADA, não era uma substância que ia me trazer melhora de performance. Meu médico mostrou os laudos dos exames, mostrou o motivo de eu ter tomado a substância, e mesmo assim, eu tomei a punição de um ano. Eu entendo o rigor da USADA e acho que tem que ser assim mesmo, mas eu acho que acabei pagando pelos outros. Porque muita gente tenta trapacear, faz de um jeito que não é para fazer, e a instituição tem que ser rigorosa para regularizar o esporte. Não tem dinheiro no mundo que pague uma consciência tranquila, eu sei que não fiz nada de errado. Tanto é que, 15 dias depois, eu fiz um teste e a substância já não estava mais no meu corpo. Mas foi uma situação bem difícil, porque eu estava em boa fase. Tinha nocauteado, 15 dias depois tinha vencido na minha estreia no UFC, já estava com nova luta marcada e aconteceu tudo isso. Foi difícil assimilar no começo, mas hoje eu vejo que não foi uma punição, mas uma oportunidade para fazer um camp de um ano, evoluir e voltar ainda mais forte.
– Quais são os seus planos visando a sequência no UFC?
Tenho duas lutas marcadas esse ano, então é dar um passo de cada vez. Acho que uma vitória em setembro já me credencia a fazer essa luta de novembro, e eu fechando o ano com essas duas vitórias, já posso pensar em voos maiores em 2021. Eu sei e acredito no meu potencial, e acho que posso chegar num Top 10, Top 5 em 2021, para em 2022, talvez, chegar perto de uma disputa de cinturão. Sei que é muito difícil e eu tenho muito evoluir, mas não estou no UFC a passeio. Sou um cara novo, estou buscando meu espaço, e eu lutando com esses caras bons, vai fazer o meu nível subir. Com cinco, seis vitórias, eu acho que consigo chegar no Top 5 da categoria e numa disputa de cinturão.