Aos 38, Ronaldo Jacaré está feliz. Mais do que retornar ao octógono com uma vitória, conquistada no último dia 27, pelo UFC Fight Night ocorrido em Charlotte (EUA), o brasileiro tem bons motivos para sorrir. Depois de ficar nove meses parado devido a recuperação difícil de duas cirurgias, o capixaba se mudou para os Estados Unidos junto a família, mudou sua rotina de treinos, sumiu dos holofotes, e foi brindado com um nocaute arrasador contra Derek Brunson em sua luta de retorno.
Nesta entrevista, Jacaré, atual número três no ranking oficial da categoria dos médios do UFC, relembra os dias que passou no hospital, as complicações que superou após a cirurgia, a dificuldade para retomar o ritmo de treinos e revela até ter pensado em aposentadoria durante o período.
Depois de tanto tempo parado, vindo de derrota para o atual campeão (Robert Whittaker), você sentiu de alguma forma que precisa voltar e vencer de forma convincente?
Estava pensando somente na vitória, estava preparado para vencer essa luta. Eu não estava no melhor da minha forma, mas estava tecnicamente bem e feliz. Estava com saúde. É o que precisamos para estar ali. Estamos com um plano bom de luta agora.
Você é conhecido pela qualidade no jiu-jitsu, mas conquistou um nocaute com chute alto...
Depois que dei o primeiro chute, vi que o machuquei. Eu já sabia o caminho da vitória, e quando eu vi que o Brunson estava sentindo os golpes no corpo, sabia que quando chutasse alto ia pegar.
Qual foi o momento mais difícil desse período longe do octógono?
O principal que me incomodou foram as duas cirurgias. Quando eu estava pronto para voltar a trenar, voltando com exercício de pernas, tive apendicite. Fiquei com uma bolsa pendurava na barriga por dez dias e chorava igual criança. Foram quase dez dias no hospital. Fiquei muito gordo, não aguentava correr. Quando voltei a treinar, no primeiro dia, meu treinador Marcio Soares falou: "Vamos começar devagarzinho. Dez minutos de corrida leve só". Eu não consegui correr dois minutos e voltei pra casa andando! Chorava igual criança em casa. Tinha que usar uma bolsa drenando o líquido. Fiquei dez dias com isso, não podia nem brincar com meus filhos.
Você chegou a pensar em se aposentar?
Pensei em desistir de tudo, sim. Estava passando por muita coisa. Foi uma cirurgia atrás da outa. Pensava que estava velho, me machucando demais. "Meu corpo não está aguentando mais". Falei que ia parar. "Não quero ficar no hospital, viver em sala de cirurgia". Mas voltei a treinar devagar, foi difícil, mas depois de duas semanas o UFC me ofereceu a luta. Eu pedi um tempo, orei a Deus, e aceitei. Eu queria lutar no UFC Belém (dia 3 de fevereiro), mas o Derek bateu o pé e pediu em janeiro. Aceitei assim mesmo. No fim do treinamento me senti muito bem. Foi assim que nessa batalha conseguimos fazer essa luta e vencer.
Como você vê a sua situação na categoria dos médios?
Me sinto bem posicionado na divisão. Sou o terceiro do ranking e vindo de vitória espetacular. O Luke (Rockhold) acabou de ganhar do (David) Branch e foi paro cinturão. O (Yoel) Romero acabou de perder para o Robert. A categoria está embolada, a divisão é muito dura. Posso fazer mais uma luta ou lutar pelo cinturão direto. Pra mim, seria especial se tiver a chance pelo cinturão direto. Mas estou confiante, pois já enfrentei o Luke, o Romero e o Whittaker. Eu não perco em revanche. Nem no jiu-jitsu eu perdi duas vezes para o mesmo cara. Isso não existe pra mim.
Você saiu do Rio de Janeiro para viver em Orlando, Flórida (EUA). Essa mudança com a família é definitiva ou você espera voltar em breve?
Estou por aqui, devo ficar por mais um tempo ainda. A minha família está gostando bastante da vida aqui. Os meus filhos já estão adaptados, já. Eles se adaptam a tudo, e muito rápido (risos). Claro que sentimos saudade do Brasil, mas aqui também é legal, estamos gostando de como as coisas funcionam aqui.
Você deixou a X-Gym, sua academia de ano... Qual a estrutura de treinos que você tem aí nos EUA?
Na X-Gym eu tinha tudo, era a mais bem estruturada academia que eu já treinei. Tinha tudo lá. De estrutura era uma das melhores de MMA. Não existe estrutura melhor. Aqui estou em uma equipe bem humilde, num time pequeno. Estou me identificando bastante com os novos companheiros. Tenho recebido bastante apoio e estamos trabalhando para trazer coisas para melhorar meu plano de jogo.