Henrique Avancini se tornou referência e entrou para a história do ciclismo brasileiro. No último sábado, o carioca coroou a excelente temporada e conquistou o título mundial de Mountain Bike Maratona, em Auronzo do Cadore, na Itália. O resultado surpreendeu principalmente pela recuperação do ciclista, que disputou a mesma competição em 2017 e terminou na 30ª colocação.
- Eu ainda não consegui digerir o que conquistei. Era uma coisa que eu mirava, almejava. Mas quando se realiza, não deixa de ser chocante. Eu acreditava todos os dias quando subia na bicicleta que um dia eu poderia ser o melhor do mundo e ainda estou processando isso - detalhou Avancini em entrevista coletiva nesta quarta-feira, contando todo seu esforço em seguida:
- Foi uma trajetória longa e progressiva. Eu busquei muito evoluir e busco até hoje. Concretizar isso com um titulo mundial é alcançar uma mensagem que sempre procurei passar, de que é possível crescer e se tornar um dos melhores. Eu fico muito feliz com o que esse título representa para a modalidade. Construí esse caminho passo a passo, ao longo de anos. Essa mensagem que eu deixei é o que realmente tem valor e isso é a minha maior realização até o momento.
Essa conquista é de grande importância para o brasileiro, que vem em um ótimo ano. Tudo começou em março com o terceiro lugar no Cape Epic e meses depois a quarta colocação na Copa do Mundo de Cross Country Olímpico. O atleta também se destacou nas duas provas mais importantes disputadas no Brasil. Venceu a etapa de Araxá da Copa Internacional de Mountain Bike e foi campeão brasileiro em julho. Avancini assume a segunda colocação no ranking da União Ciclística Internacional (UCI).
- Vim de uma temporada muito expressiva, desde o começo do ano com a participação na Cape Epic, uma ultramaratona de oito dias, depois passei a dar uma atenção maior para a Copa do Mundo de Cross Country e terminei o ano na Suíça, onde eu conquistei a quarta colocação do Mundial de Cross Country Olímpico. Uma semana depois, fui para o Campeonato Mundial de Maratona sabendo que eu estava em boa forma, mas consciente que seria uma prova diferente, um pouco mais aberta. Esse foi considerado o Mundial mais duro da história, um percurso absurdamente pesado. Procurei buscar uma estratégia diferente do pelotão de frente. Trabalhei ao longo da prova para direcionar o andamento da competição ao meu favor e acabei tendo bastante sucesso e acredito que grande parte dessa conquista se deve ao meu planejamento estratégico. A forma que eu competi a prova foi determinante para o título - expôs o atleta, que completou explicando a diferença dos Mundiais.
- O Cross Country Olímpico, que foi disputado na semana anterior na Suíça, é uma prova que dura 90 minutos e é realizada em um circuito fechado. Então, nessa competição, foram oito voltas em um circuito de quatro quilômetros. É uma prova muito intensa, com subidas mais curtas. Por exemplo, no circuito suíço a subida mais puxada durava cerca de dois minutos, já no Mundial de Maratona o esforço mais continuo durava 30 minutos. Portanto, é uma prova de 90 minutos, contra um circuito de cinco horas.
A cansativa maratona da Itália foi realizada em um percurso de 120 quilômetros com mais de 4.000 metros de altitude. Avancini concluiu a prova no tempo de cinco horas, oito minutos e 28 segundos. O austríaco Daniel Geismayr brigou com o carioca até o fim, mas passou a linha de chegada dois segundos mais tarde.
- Eu sabia que a subida mais longa era o ponto chave da prova. Esse seria o pior trecho para mim, por ser uma subida mais constante e em grande parte no asfalto. Optei em competir com uma bicicleta com amortecedor dianteiro e traseiro e isso acrescentou 1kg no meu peso de equipamento. A grande maioria dos atletas competiu com uma bicicleta, em média, 1kg mais leve que a minha. Então, nesse tipo de sessão eu tive uma perda muito grande, pelo equipamento que escolhi e também pelas minhas características fisiológicas. Eu sabia que se eu chegasse no topo dessa subida dentro de um minuto para os líderes, eu estaria no jogo e ainda faltaria cerca de 45km para o final. Mas, nessa parte final eu saberia gerenciar de uma maneira um pouco melhor. Meu objetivo foi usar o começo da prova de uma maneira mais agressiva, para diminuir o ritmo dos meus adversários nessa parte do percurso e acabei chegando no topo da subida em uma situação bem agradável. A reta final foi onde eu consegui desgastá-los ainda mais e construir na cabeça deles que eu era o atleta mais explosivo - disse.
Por fim, o atleta contou tudo que passou até chegar nessa conquista. Com 29 anos, Henrique é a inspiração para os jovens ciclistas que estão começando na modalidade. Ele garante que um bom psicológico é essencial para quem almeja grandes coisas na carreira.
- Quando eu tinha 20 anos de idade, larguei a vida no Brasil para tentar carreira internacional na Itália. E essa foi uma fase muito difícil. Tive um manager que chegou até a me dizer que deveria abandonar a carreira. Quando ele me falou isso, eu aceitei de uma maneira boa. Foi quando refleti: se não tenho o que eles têm, vou ter o que eles não têm. E a partir disso, eu comecei a largar nas provas com uma única certeza: a de que eu tinha me preparado muito mais do que qualquer atleta. É fundamental ter equilíbrio e um bom psicológico. Eu ainda não me vejo e acho que nunca vou me ver como um cara talentoso no que eu faço, mas ainda sim, eu sou campeão mundial hoje - concluiu o campeão mundial.