Com a tradicional etapa comemorativa de chegada no Champs Élysées, terminou neste domingo o Tour de France-2019, a mais importante e tradicional prova do ciclismo. Como era esperado, o colombiano Egan Bernal, que entrou na etapa com 1m11s de diferença para o britânico Geraint Thomas, completou a prova e sagrou-se, aos 22 anos, o mais jovem ciclista campeão nos últimos 80 anos e o primeiro sul-americano a ficar no lugar mais alto do pódio (seus compatriotas Nairo Quintana e Rigoberto Uran já foram vice-campeões). O tempo final de Bernal foi de 82h57m00s. Thomas foi o segundo e o holandês Steven Krijswick, o terceiro.
- É incrível. ainda estou assimilando, sei que a Colômbia está em festa. Não tenho como descrever e é só felicidade - disse Bernal, com muita timidez e humildade.
Por tratar-se de uma etapa quase festiva, com os ciclistas posando para fotos e tomando champanhe durante a prova, a única disputa do dia foi para ver qual dos sprinters seria o vencedor. E na última passagem pela rua mais famosa de Paris, Caleb Ewan, australiano da Lotto Soudals, foi mais forte do que Dylan Groenewegen e ficou na frente por meia bicicleta. Ele fecha a edição 2019 do Tour como o único a vencer três etapas.
Em terceiro lugar chegou Niccolo Bonifazio, italiano da Direct. O trio, assim como todos os competidores do pelotão, fizeram o mesmo tempo: 4h04m08s. Peter Sagan já tinha assegurado a camisa verde (campeão entre os velocistas) e terminou em décimo na etapa. Ele foi o top1 com 348 pontos, com Caleb em segundo com 248 pontos.
Outros campeões
O melhor montanhista foi Romain Bardet (com Bernal em segundo lugar), da Ag2r; a espanhola Movistar vencer por equipes; Julian Alaphilippe foi o ciclista mais combativo.
Quem é Bernal
Colombiano de 22 anos (13/1/1997) Egan Arley Bernal Gómez nasceu em Bogotá e viveu a infância em Zaquipará, ambas em altitude de 2.700m. Adolescente, foi campeão júnior na Colômbia, vice no Mundial Júnior em 2015, terceiro em 2016 e com 20 anos acabou contratado pela equipe mais forte do ciclismo, a Sky (hoje Ineos) . Estreou em 2018 nas provas do circuito mundial, ganhando etapas em duas provas relevantes: Tour da Romandia e Tour da Califórnia, além de ser o melhor jovem. Em 2019, venceu duas provas de ponta: Paris-Nice e Volta da Suíça. Com a conquista do Tour de France, já passa a ser cotado como um dos astros do ciclismo. E mais: ele é o primeiro ciclista em 80 anos a ser campeão com 23 anos ou menos; e o quinto ciclista que ganha a camisa branca (melhor jovem até 25 anos) e amarela (campeão geral).
Como Bernal chegou para o Tour
Tornou-se um dos favoritos assim que o principal ciclista da equipe, Chris Froome (tetracampeão da prova) sofreu grave acidente na Criterium, uma das provas de preparação para o Tour, quebrando clavícula, fêmur, costela e quadril. Sem Froome, Geraint Thomas foi colocado como primeiro ciclista da equipe (capitão) e Bernal o número 2. Numa situação como essa, caso o número 2 entre nas etapas finais com maior possibilidade de título, a equipe troca o posicionamento. Foi isso o que aconteceu com Bernal e Thomas (que acabou como vice-campeão). Aliás, em 2018, Thomas era o número 2 para Froome e nas etapas finais, foi ele que virou o capitão (e acabou campeão). Coincidência.
Equipe Ineos
A Sky (esta mesma empresa que no Brasil tem canais de TV por assinatura), disse que não investiria mais no ciclismo e que a equipe acabaria. Mas, em maio, a Ineos (empresa que fabrica plásticos) avisou que assumiria o time. Ocorreu uma gritaria geral, pois a Sky é uma empresa que faz muitas ações a favor do meio ambiente e a Ineos é uma das maiores poluidoras do mundo. Mas as reclamações se atenuaram e a Ineos pôde focar o trabalho para manter a hegemonia na Volta da França. E deu certo: nos últimos oito anos, o time venceu o tour sete vezes: Bradley Wiggins (2012), Chris Froome (2013, 2015, 2016, 2017), Geraint Thomas (2018) e Egan Bernal (2019). O único que furou a Sky/Ineos foi a Astana, com o italiano Vicenzo Nibali (hoje na Bahrain) em 2014.
Equipe Movistar
Embora tenha o ciclista campeão e o vice, a Ineos não foi a equipe campeã da Volta da França. Quem levou foi a Movistar. Isso ocorreu porque o tempo dos principais ciclistas de cada equipe é somado, descartado tempos extremos e, no fim das contas, a Movistar, que teve o 5º, 7º e 8º colocados, fez um tempo 20 minutos menor do que a Ineos.
Sagan recordista
Antes de a Volta da França começar, a imprensa especulava se Peter Sagan, provavelmente o maior velocista da história, estaria sem chance neste ano, pois vinha com resultados ruins, problemas familiares com a separação da esposa. Mas ele em um mês deu a volta por cima. Foi segundo colocado na Volta da Califórnia e foi o camisa verde (campeão por pontos) do Tour da França pela sétima vez, se tornando o maior vencedor entre os velocistas na história da prova. É cotado como favorito para ser o campeão mundial de 2019, em outubro, na Inglaterra (no Mundial a prova é de um dia, alternando provas de montanha alta, média e plana, neste ano a prova é plana). Caso vença, Sagan ganhará o Mundial pela quarta vez.
Quem venceu as etapas?
A etapa 1 foi vencida por Mike Teunissen. Depois: 2 - Contrarrelógio por equipe, Jumbo; 3 - Julian Alaphilippe; 4 - Elia Viviani, 5 - Peter Sagan; 6 - Dylan Teuns, 7 - Dylan Groenewegen; 8 - Thomas de Gendt; 9 - Daryl Impey; 10 - Wout Van Aert; 11 - Caleb Ewan; 12 - Simon Yates; 13 - Julian Alaphilippe; 14 - Thibaut Pinot; 15 - Simon Yates; 16 - Caleb Ewan; 17 - Matteo Trentin; 18 - Nairo Quintana; 19 - Prova terminada antes do fim, sem vencedor; 20 - Vicenzo Nibali; 21 - Caleb Ewan
Campeão sem vencer nenhuma etapa?
Bernal foi campeão pela regularidade. Manteve-se sempre próximo do líder, chegou a cair para o sexto lugar no início da última semana, mas nas provas de montanha tirou a diferença. E não ganhou nenhuma etapa. Na verdade ele venceu a etapa 19, mas como ela foi encerrada no pico da penúltima subida (com Bernal em primeiro) os organizadores contaram o tempo, mas não estabeleceram um vencedor oficial da etapa. Ocorreu uma chuva de granizo que fez a estrada ficar tomada de gelo. Isso obrigou a organização a interromper a prova. Os tempos valeram, mas não houve campeão da etapa.