Chegou a hora da mais divertida grande volta do calendário: o Giro da Itália, que começa neste sábado.
Devido ao novo calendário alterado por causa da pandemia da Covid-19, a prova saiu da primavera para o outono italiano. Iria começar na Hungria, com três etapas. Mas estas foram canceladas para evitar algum risco de contágio entre países diferentes. No lugar entraram três etapas na maravilhosa Sicília.
Originalmente na Hungria teríamos um contrarrelógio e duas etapas planas, mas com a mudança para a Sicília entraram além do contrarrelógio inicial, uma etapa ondulada com chegada em subida e logo na terceira etapa a escalada do vulcão Etna por um lado mais duro e ainda não utilizado. Ou seja, o percurso que já era bem duro acabou ficando ainda mais difícil.
Esse percurso é tão duro que lembra o de 2011, mas não é só isso. O percurso está muito bem desenhado e várias etapas convidam os oportunistas para as fugas. Junte a isso um “start list” menor número de supergregários (os ajudantes dos capitães) e menor número de favoritos para a classificação geral (que dificulta o controle de cada prova) e teremos a receita para etapas mais explosivas e imprevisíveis. Será o tema das duas primeiras semanas.
Já a semana reserva passagens em clássicas e lendárias montanhas como Stelvio (etapa 18) e o mega-combo Agnello-Izoard (etapa 20). Todas as três bem acima dos 2.000m. O topo do Agnello, por exemplo, fica a 2.744m e esta etapa etapa terá 207km.
Ironicamente foi na descida do Agnello em 2016 que o líder Kruisjwijk caiu na parede nevada e perdeu o que parecia ser a vitória certa. Quem acelerou na descida e estava lá para capitalizar em algum erro? o italiano Vicenzo Nibali.
Quem pode ganhar?
Sobre os favoritos a camisa rosa penso que temos poucas opções. Os que já ganharam grandes voltas como Nibali, Simon Yates e Geraint Thomas. Outros candidatos que sempre frequentam as listas de possíveis ao pódio como Kruijswijk, Fulgsang e Kelderman tem suas chances aumentadas já que teremos três contrarrelógios.
Ao mesmo tempo esses contrarrelógios não adiantarão nada se eles não conseguirem segurar com os escaladores natos como Majka e Superman Lopez na bem montanhosa terceira semana. Teríamos a nova sensação do pelotão profissional, o menino R. Evenepoel, que infelizmente sofreu um acidente e só voltará em 2021.
A briga pela outras camisas serão interessantes. A de melhor escalador é uma delas. Veremos muitos pontos em jogo logo no terceiro dia e quem quer que eu ou você achemos que vestirá no último dia provavelmente estará errado. Na disputa de melhor jovem (sub 25 anos) alguns ótimos nomes que deverão se dedicar na disputa e não somente ajudar seus capitães nas montanhas. Vlasov, Knox, Almeida e Hamilton São boas apostas. Foss é a minha curiosidade na Jumbo. Primeira grande volta, 23 anos e assim como Bernal e Pogacar, vencedor do Tour de l’Avenir no ano passado. Prova de que junto com o “baby Giro” desenvolve os maiores talentos de grandes voltas.
Já a camisa de pontuação de sprints teremos finalmente a primeira participação de ninguém menos que Peter Sagan. O tricampeão mundial e vencedor de sete camisas verdes da mesma disputa no Tour de France volta às suas origens italianas. Começou seus primeiros anos de sua ilustre carreira na equipe italiana Liquigas do Nibali. Os dois estarão na “grande partenza” e serão as grandes estrelas.
Nibali, o maior nome italiano na prova e em sua provável última real chance de mais uma vitória em grandes voltas.
Sagan pelo seu currículo, carisma e esse percurso que é definitivamente complicado para qualquer dos outros sprinters.
Analisando o Giro
Todos os dias tentarei resumir o acontecido, mas principalmente a difícil missão de tentar antecipar o que poderá acontecer na etapa do dia seguinte. Então, mãos à obra:
A primeira etapa, neste sábado, será um contrarrelógio de 15km e grande parte em descida! Muitas peculiaridades nessa etapa. Logo na largada subida de 1,1km a 5,6%, que foi categorizada como “cat. 4”, a mais fácil, mas com a rampa final acima de 10% e com 250m de paralelos até chegarem na catedral de Monreale. Nada fácil nas bicicletas de contrarrelógio.
Servirá para definir quem será o primeiro a vestir a camisa azul de melhor escalador desse Giro. Com essa curta distância até o topo os “punchers” como Mathews, Ulissi e Sagan podem surpreender. Em seguida uma descida forte de 3km, mas só com 2 cotovelos.
Após esse trecho teremos 6km de descida completamente reto em “falso piano”. Para fazer diferença nessa parte os especialistas em força bruta terão que usar pratão(coroa) acima de 60 dentes e as velocidades serão incríveis. Beirando 80-90km/h!! Chegarão no coração da cidade de Palermo e até a chegada a única parte técnica será um cotovelo a 2km da chegada. Ou seja, nada que diminua muito as velocidades.
Esta etapa definitivamente favorece os especialistas mais fortes, geradores de mais watts e mais pesados. Muita chance do recorde de média de velocidade de contrarrelógios em grandes voltas ser quebrado(58km/h).
O recém coroado campeão mundial de contrarrelógio na semana passada (e italiano) Filippo Ganna é o maior favorito e consequentemente a vestir a 1ª camisa rosa. O ex bicampeão mundial da modalidade Rohan Dennis ficou “só” em quinto esse ano, mas o percurso desse contrarrelógio é completamente diferente do mundial da semana passada e ele pode sim surpreender.
O que parece certo é que a disputa ficará entre os dois que defendem a equipe Ineos. Equipe esta que precisa mesmo de uma levantada no moral depois de passar em branco no Tour de France (entre os favoritos na geral o melhor da Ineos deverá ser Geraint Thomas).
Mesmo que não curta contrarrelógios não tem como perder essa etapa..