No último final da semana a F1 chegou à Ímola, com o ambiente tomado de emoção por conta de uma efeméride triste para os brasileiros: os 30 anos da morte de Ayrton Senna. Para quem viveu a época de ouro da F1 nos anos 80/90, ainda é difícil aceitar que o ídolo se foi. Parece pouco crível ele não ter saído com vida do Hospital Maggiore.
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Muito, talvez tudo, já tenha sido escrito, filmado e dito sobre Senna. Nesse aniversário de sua morte, pulularam opiniões sobre ele ser um herói, o representante do Brasil que dava certo, um mito, um semi-Deus ou coisa que o valha. Para mim, ele foi o maior piloto que já vi correr. E tenho certeza que essa é a qualificação que o deixaria mais feliz e orgulhoso.
Senna era, acima de tudo, destemido. Parecia mesmo que não tinha medo da morte -e talvez não tivesse. Parafraseando o que dizia JK (sobre si mesmo), poupou-lhe Deus o sentimento do medo. “Being a Racing driver means you are Racing with other people and if you no longer go for a gap that exists you are no longer a racing driver”. Essa frase de Senna o autodefine, a meu ver, com perfeição. E que reflexão ela deve emanar para os dias de hoje? Que F1 é corrida de carros, de homens adultos. Então se o bicho tiver que pegar (como pegava feio com ele e Prost), que pegue. Se houver batida, que haja. Automobilismo não é esporte de punhos de renda. E quem o escolhe, sabe disso. Então seria muito bom retroceder nessa maluquice de hoje, onde a cada volta há farta distribuição de punições, e a cada dia a disputa se empobrece. Chego a crer que a organização da F1 de hoje deseja uma corrida em fila indiana, ou, no máximo ultrapassagens assépticas, feitas com a artificial e infantil vantagem da asa móvel.
Recomendo o excelente documentário “Senna por Ayrton”, disponível no Globoplay. Ali se vê cenas de corridas épicas, onde o nível de competição roda a roda era outro. E sem mimimi.
Entre os pilotos, muitas homenagens. Quase todos usavam uma balaclava inspirada no capacete de Senna. No domingo, Sebastian Vettel deu algumas voltas guiando a McLaren de 1993, e ao final o Tema da Vitória foi tocado nos alto-falantes da pista. Só achei chata a descaracterização do carro, para se apagar a propaganda da Marlboro, marca de cigarros que patrocinou Senna por muitos anos. Ora, isso é a história, não convém querer reescrevê-la.
A F1 chegou também à San Marino sob a rumorosa notícia da “aposentadoria” de Adrian Newey – como sabe o distinto leitor, o gênio da engenharia. Newey é cobiçado por todas as equipes do grid – e não é para menos: desde 1992 ele projetou carros que arrebataram 12 títulos de pilotos e 13 de construtores. A Red Bull anunciou que Newey deixaria a equipede F1 para se dedicar à construção de um supercarro que estaria sendo desenvolvido pela empresa. Mas comenta-se que o mago da prancheta foi visto na Itália, e que ele já estaria de malas prontas para fazer, na esquadra Ferrarista, dupla com Lewis Hamilton. Em breve saberemos...
Na pista a grande expectativa vinha por conta das Mclaren após a fantástica vitória de Lando Norris em Miami. É verdade que Norris provavelmente só venceu a prova pelo golpe de sorte no pit stop. Mas na F1 – como na vida – a condicionante não funciona. Indagado na entrevista coletiva se Norris teria vencido se não houvesse a vantagem do pit, Verstappen assim respondeu, num rompante raro de senso de humor: “não existe “se”. Se minha Mãe tivesse duas bolas, ela seria meu Pai”. Tem razão.
Na qualificação de sábado o incumbente Verstappen quase foi superado por Oscar Piastri. Mas na tentativa derradeira o holandês pegou um vácuo e conseguiu superar por poucos milésimos a McLaren, cravando sua 8ª pole consecutiva e igualando o recorde de Ayrton Senna. Logo em seguida Piastri foi punido por ter atrapalhado Magnussem, e perdeu 3 posiçoes. Assim Norris largou ao lado de Verstappen, seguido por Charles Leclerc e Carlos Sainz – as Ferrari, embora correndo em casa, claramente chegaram à Imola como a 3ª força.
Entre a formação do grid e a largada domingo, uma curiosidade: Verstappen disputou das 24 horas de Nurburgring, em sua modalidade virtual – e-race. E venceu...
No Domingo a prova transcorreu sem muita emoção, consequência direta da dificuldade hoje verificada em Imola para se ultrapassar – só comparável à Monaco. Essa é uma pista antiga, estreita, que não foi projetada para a largura dos F1 de hoje. Além disso, vários trechos rápidos do circuito original foram mutilados com chicanes, e para completar, o pit lane é o mais longo da temporada, inviabilizando estratégias alternativas de parada.
A corrida só animou mesmo já bem no finalzinho, quando Norris começou a tirar a diferença para Verstappen, chegando a 0,7 segundos do holandês. Com mais algumas voltas ele provavelmente lideraria. O pódio foi completado por Leclerc, que deu esse prêmio de consolação à torcida ferrarista.