Guye Adola supera Kenenisa Bekele na Maratona de Berlim

Com 2h05m45s, o etíope vence uma das principais provas do mundo. O favorito Kenenisa Bekele terminou em terceiro lugar, com 2h06m47s

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Não foi desta vez que Kenenisa Bekele fez história na Maratona de Berlim, realizada no último domingo (26). O etíope, bicampeão da prova (2016 e 2019), queria o tricampeonato neste ano com direito a recorde mundial. Mas não conseguiu.

Com 2h06m47s, ele terminou em terceiro, atrás do compatriota Guye Adola, de 30 anos, com 2h05m45s. Entre os etíopes, ficou o queniano Bethwel Yegon, com 2h06m14s.

O objetivo de Bekele era superar o recorde do queniano Eliud Kipchoge, de 2h01m39s, na Maratona de Berlim, em 2016. Em 2019, o etíope, de 39 anos, não foi recordista por três segundos. No ano do seu bicampeonato na Maratona de Berlim, ele cruzou a linha de chegada no Portão de Brandemburgo com o tempo de 2h01m41s.

Se Adola venceu sua primeira maratona na carreira, a também etíope Gotytom Gebreslase, de 26 anos, foi campeã em sua estreia na distância. Na Maratona de Berlim, ela marcou 2h20m09s.

Como foi a Maratona de Berlim

Cerca de 25 mil maratonistas enfrentaram um domingo quente e ensolarado em Berlim. Esse clima influenciou bastante no desempenho dos competidores na Maratona de Berlim. Tanto que o tempo de Adola (2h05m45s) foi o mais lento na prova alemã desde 2009. E a marca não está nem entre as 60 melhores na história do evento.

Resultados completos da Maratona de Berlim

Além do sol forte durante toda prova, que fez com que a temperatura subisse de 16 para 21 graus, com umidade relativa do ar de 90%, o principal motivo da queda de desempenho foi o ritmo da primeira metade da maratona. Nunca antes na história de uma prova de 42km, os 21km foram corridos em 1h00m48s.

Quando os líderes do pelotão (Adola, o também etíope Ethiopian Tesfaye Lencho e os quenianos Abraham Kipyatich and Philemon Kacheran) cruzaram os 21km atrás do ritmo dos coelhos, estava claro que os quilômetros seguintes poderiam ter dois desfechos: a consagração ou a decepção. Deu a segunda opção.

O desgaste dos líderes da maratona pode ser visto por suas nas passagens a cada 10km: 28m47s, 28m50s, 30m11s e 31m20s.

Pelo planejamento para superar o recorde Kipchoge, Bekele deveria passar pelos 21km em 1h01m. E ele cumpriu. Mesmo diminuindo o ritmo no Km 18, seus três coelhos apertaram o passo, fazendo com que o etíope reduzisse em 18 segundos a marca Kipchoge na passagem da meia maratona. Mas isso teve consequência no tempo final.

No Km 30, Bekele, Adola e o queniano Philemon Kacheran se alternavam na liderança. No Km 35, o bicampeão começou a dar sinais de desgaste. Com isso, Adola foi abrindo vantagem sobre o compatriota.

Sem estar no radar entre os favoritos, o queniano Bethwel Yegon foi se aproximando dos etíopes. O primeiro a ser ultrapassado foi Bekele, no Km 36, e, em seguida, Adola, no Km 37. Mas Adola conseguiu ficar muito próximo a Yegon. Dois quilômetros depois, Adola retomou a liderança até o Portão de Brandemburgo.

“Eu não pensei que iria ganhar”, disse Adola após a corrida, que foi segundo colocado, com 2h03m46s, atrás de Kipchoge na Maratona de Berlim de 2017. “Há quatro anos eu era o número dois e pensei que um dia poderia vencer esta corrida. Hoje, eu consegui”.

Especialista em meia maratona, Adola é o terceiro etíope campeão em Berlim. Além dele e de Bekele, Haile Gebrselassie é o recordista de vitórias na capital alemã, com quatro títulos seguidos, entre 2006 e 2009. Nas últimas 22 edições da Maratona de Berlim, o Quênia venceu em 15 oportunidades, enquanto Etiópia, sete.

Apesar do resultado frustrante, Bekele não demonstrava chateação com o terceiro lugar.

“O ritmo da prova não estava equilibrado. A primeira metade foi muito rápida, e a segunda foi bem mais lenta. Isso mostra que todos sofreram. Minha preparação não estava 100 por cento indo bem, especialmente depois que fui contaminado pela Covid-19, há oito”, disse ele em sua coletiva de imprensa pós-corrida. “Eu estava lutando o tempo todo. Eu tentei dar o meu melhor e, para chegar em terceiro, tive sorte”.

Bekele, que vai correr a Maratona de Nova York, em 7 de novembro, inda tem grandes ambições no futuro e depois da corrida ele disse que quer não apenas quebrar o recorde mundial da maratona, mas ir ainda mais longe. “Todo mundo está falando sobre correr em menos de duas horas, por que não? Um dia vou tentar isso”.

No feminino, o duelo foi entre as etíopes Hiwot Gebrekidan, maratonista mais rápida do ano, e Gotytom Gebreslase. Elas passaram a metade da Maratona de Berlim em 1h09m19s, junto com a compatriota Helen Tola e a queniana Fancy Chemutai.

Conforme a prova evoluiu, Gebreslase foi aumentando sua vantagem sobre Gebrekidan, chegando a 31 segundos no KM 40. Próxima à chegada, Gebreslase apertou o ritmo para fechar a prova em 2h20m09s. Gebrekidan ficou em segundo, com 2h21m23s, e Tola, em terceiro, com 2h23m05s.

“É minha primeira maratona e ser campeã é uma grande surpresa e uma grande alegria”, disse Gebreslase. “A minha preparação foi muito boa, por isso vim aqui com a intenção de vencer. O tempo estava difícil, mas para mim tratava-se de ganhar experiência.”

Criada em 1974 e cancelada pela primeira vez na história por causa da pandemia, a Maratona de Berlim inaugurou o calendário anual da World Marathon Majors. A próxima prova do principal circuito de maratonas do mundo será em Londres (3 de outubro), depois Chicago (dia 10), Boston (dia 11) e Nova Iorque (7 de novembro). A Maratona de Tóquio foi adiada para 6 de março de 2022. (Iúri Totti)

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