Marcio Villar quer dobrar Arrowhead 135, sua última ultramaratona
Recordista mundial, ultramaratonista pretende correr 434km na fronteira entre Estados Unidos e Canadá, com temperaturas de -40º, antes de se aposentar
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O ultramaratonista Marcio Villar afirma que a Arrowhead 135 deste ano será seu último desafio. Recordista mundial de corrida na esteira e do Caminho de Santiago de Compostela. esse carioca, de 52 anos, dono de um currículo com grandes conquistas em provas de longa duração, inclusive em ambientes extremos, larga hoje (27/1), às 10h (horário de Brasília), para sua sétima participação em uma das provas mais difíceis do planeta.
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Disputada em International Falls, na fronteira entre Estados Unidos e Canadá, região com uma das temperaturas mais baixas do país norte-americano, com os termômetros podendo chegar aos 40º Celsius negativos, a Arrowhead 135 (esse número significa sua distância em milhas, que representam 217km) está atravessada na garganta de Marcio Villar.
Das seis vezes em que já correu neste ambiente inóspito, debaixo de muita neve, em duas ele completou os 217km e nas outras quatro não conseguiu dobrar. É justamente com isso que ele sonha, novamente, a partir desta segunda: correr 434km em menos de seis dias para dobrar a única ultramaratona da Copa do Mundo de Ambientes Extremos que lhe resta. A diferença para as outras tentativa é a pressão por resultados.
- O sonho é dobrar, mas desta vez não estou criando expectativa. Cada quilômetro será uma vitória e, se der, eu volto da chegada para a largada. Vou curtir cada quilómetro agradecendo a Deus por tudo que conquistei, vou despreocupado com colocação, com resultado, vou para me divertir - diz o ultramaratonista, que já fez a Brazil 135, na Serra da Mantiqueira, onde triplicou, com 651km, e a Badwater 135, no Vale da Morte, na Califórnia, nos Estados Unidos, com temperaturas acima dos 50º, onde que ele dobrou, com recorde. - A Arrowhead 135 deste ano representa o encerramento de uma carreira de 17 anos em provas oficiais.
Engajado em causas sociais, Villar não vai deixar de correr desafios filantrópicos, como os que faz para o IncaVoluntário (do Instituto Nacional do Câncer), Lar Pedro Richard (que atende idosos, em Jacarepaguá, no Rio), o Projeto Juquinha (de crianças especiais em Paragominas, no Pará), o Pró Criança Cardíaca, em que corre o rei e Rainha do Mar e, em troca, os organizadores financiam transplantes cardíacos.
- Esses desafios eu vou continuar correndo até não poder mais, pois são essas causas sociais que me motivam - afirma o também palestrante.
P: De todos as competições que você dobrou e até triplicou, a Arrowhead 135 é a única que não conseguiu dobrar. O que você planejou dessa vez:
Marcio Villar: Completei essa prova duas vezes quando fiz ela normalmente. Não consegui quando quis dobrar. É complicado sair de 40 graus positivos do Rio de Janeiro para correr abaixo dos 40 graus nos Estados Unidos. Agora, a diferença é que eu sei que é a hora de eu parar, acabou. Então minha mente não vai querer que eu acabe de qualquer maneira. Sem essa pressão mental, vou poder sempre seguir em frente.
P: Como será o último desafio de sua vitoriosa carreira, o que foi mais difícil trabalhar: a mente, por tudo que este momento representa, ou o corpo, que está bastante calejado por todos os desafios que já fez?
Marcio Villar: O mais difícil é aceitar que é o último desafio. Escolhi a mais difícil de todas para encerrar a carreira. Vai ser muito bom estar sozinho nessa floresta congelada. Só eu e Deus, conversando o tempo todo e tirando forças para seguir até a linha de chegada.
P: Conte um pouco de cada tentativa sua nessa prova?
Marcio Villar: A primeira vez que disputei a Arrowhead 135 foi em 2008. Eu nunca tinha visto neve na vida. No Posto de Controle do Km 55, quando tirei a meia, a médica olhou para os meus pés e disse que se eu continuasse teria que amputar, não tive escolha, parei. Voltei em 2009 e consegui trazer o troféu. Em 2011 conquistei o troféu novamente, mas estava indo para dobrar pela primeira vez. A temperatura chegou a 50 graus negativos e a organização não deixou eu dobrar. Voltei ainda mais quatro vezes para tentar dobrar e aconteceram várias coisas. Uma vez eu rolei o morro com o trenó que puxo, perdendo todo o meu equipamento. Em outra vez tive hipotermia. Ano passado, a temperatura bateu 68º negativos e tive que abandonar para não congelar.
P: Como será sua vida após a aposentadoria?
Marcio Villar: Vou me aposentar só das provas oficiais. Não posso parar com a parte filantrópica. Vou correr ajudando causas sociais e continuar com as palestras motivacionais pelo Brasil também.
P: Quais foram os momentos marcantes da sua vida esportiva?
Marcio Villar: São vários. Correr 509km dentro da Floresta Amazônica foi inesquecível. Ter o nome no Guinness Book por ter corrido 827,16km na esteira também marcou muito, mas o que nem eu acredito até hoje foi colocar uma prótese no quadril e 10 meses depois bater o recorde mundial do Caminho de Santiago de Compostela de 820 km.
P: O que as frustrações te ensinaram?
Marcio Villar: Ensinaram a não desistir nunca dos meus sonhos. Em acreditar, lutar e, não importa o tempo que for, o importante é ir em frente até conseguir realizar seus sonhos.
P: Ficou faltando algo que você não conseguiu fazer em sua vida esportiva?
Marcio Villar: Fiquei devendo o desafio Rio/Salvador, que não fiz por causa da doença. Em 2015, ano que faria esse desafio, fui diagnosticado com arterite temporal juvenil. Por causa dela, que não tinha nenhuma relação com a corrida, tive que tomar corticóides em doses maciças para me curar e o efeito colateral deste medicamento afetou gravemente a cartilagem da cabeça do fêmur. Por isso tive que colocar uma prótese na cabeça do fêmur. E dobrar a Arrowhead, mas essa última ainda tenho essa chance agora.
P: Como está sendo sua preparação para este desafio?
Marcio Villar: Está sendo muito mental. Já conheço muito a prova. Sei de todas as dificuldades, que para nós, brasileiros, é muito complicado. Os outros atletas são de lá e estão acostumados com o clima frio e eu vou para lá no nosso verão, que é muito quente. Tomar esse choque de temperatura é complicado, mas estou tranquilo. Me sinto feliz, com a certeza de dever cumprido, Queria fazer muito mais por muitos anos, mas a doença autoimune fez eu antecipar minha aposentadoria. Foram uma operação na cabeça, duas na coluna e a prótese no quadril.
Para acompanhar o desafio de Marcio Villar na Arrowhead 135, basta acessar este link a partir das 10h (horário de Brasília), quando será dada a largada.
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