A crise econômica no Brasil, que torna a captação de recursos para o esporte olímpico ainda mais difícil do que já é, aliada a um problema burocrático frustraram as tentativas de Petrix Barbosa de retornar à Seleção Brasileira no início do novo ciclo olímpico e realizar o grande objetivo da temporada.
O ginasta de 25 anos, medalhista de ouro por equipes nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara (MEX), em 2011, afirma ter sido impedido de disputar a seletiva para o Campeonato Mundial de ginástica artística, que acontecerá entre os dias 2 a 8 de outubro, em Montreal (CAN).
Sem clube desde que o Vasco e a prefeitura do Rio de Janeiro encerraram o projeto da modalidade no fim do ano passado, o atleta se viu em apuros. Precisava de um time para competir no Brasileiro, em agosto, e procurou alternativas em São Paulo. Mas o Cruz-Maltino não pagou a tempo uma taxa de desfiliação de R$ 600,00, e Petrix não pôde acertar com outra equipe.
O ginasta recorreu ao presidente da Federação do Rio de Janeiro, Bruno Chateaubriand, que é seu amigo e ajudou a agilizar o processo para que ele pudesse defender uma agremiação do mesmo estado. Sem sucesso, devido à falta de opções. Em São Paulo, havia interessados. Mas a taxa de transferência entre federações é superior a R$ 9 mil. Ninguém quis pagar.
O dirigente conseguiu desvincular o Vasco da modalidade, o que isentou Petrix do valor. Mas não da multa de desfiliação. Quando o dinheiro do clube carioca finalmente entrou, já era tarde para Barbosa se inscrever na seletiva nacional. O pagamento foi efetuado apenas duas semanas antes da competição.
A última tentativa foi pedir à Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) para disputar o evento na condição de avulso. Ele não teve o aval e viu sua meta frustrada.
– Eu vinha treinando em um ritmo muito bom, com um técnico americano. Tinha passagem comprada e tudo, mas, no fim das contas, falei com a CBG e técnicos, e não me liberaram – contou Petrix, ao LANCE!.
O cubano naturalizado americano Yin Alvarez, um dos principais treinadores dos Estados Unidos, já conhecia o atleta havia anos. Em setembro, após não conseguir vaga na Olimpíada, o brasileiro aceitou ir treinar com o mestre em Miami (EUA) e recuperou o ânimo. É lá que o ginasta vive atualmente.
Alvarez é também padrasto de Danell Leyva, destaque da equipe americana e dono de duas pratas na Rio-2016. O clima familiar ajudou. O objetivo do paulista agora é se manter no exterior, mas vinculado a um clube do Brasil para disputar as seletivas. Ele mantém conversas com um time de São Paulo.
A CBG não respondeu aos questionamentos do L! sobre o caso. A assessoria do Vasco não soube explicar o motivo da demora no pagamento da taxa de desfiliação. A reportagem tentou contato com o vice-presidente do Departamento Infanto-Juvenil, José Mourão Gonçalves, setor que cuida de alguns dos esportes olímpicos, mas ele não atendeu às ligações.
A relação dos nomes que representarão o Brasil no Mundial foi divulgada na última quinta-feira, sem Petrix. O país contará com Arthur Zanetti, Arthur Nory, Caio Souza, Francisco Barretto, Rebeca Andrade e Thais Fidelis. A CBG poderia ter levado mais dois atletas em cada gênero, mas optou por um time menor.
– Esses são os ginastas que hoje têm mais possibilidade de chegar a uma final no Mundial. Foi entendido, por todos os resultados ao longo do processo, que eles podem buscar o maior número de finais e com possibilidade de medalhas para o Brasil – disse Marcos Goto, coordenador técnico da equipe.
Ginasta ganha auxílio nos EUA
Sem clube e patrocinadores, Petrix conseguiu um apoio importante em 2017 para se manter em alto nível. O laboratório canadense Performance Plus arca com passagens aéreas e fornece suplementos ao atleta. A empresa tem interesse em expandir os seus negócios no Brasil no futuro.
– É o que está me salvando enquanto não tenho um clube, pois é um ano sem patrocínios. Só fui resolver a burocracia porque eles pagaram as passagens – contou Petrix.
BATE-BOLA
Petrix Barbosa
Ginasta, ao LANCE!
‘É como se eu estivesse fora da Seleção’
Por que você ficou fora do Mundial? Acha que voltará à Seleção?
Estou fora do Mundial, porque não pude participar da seletiva, porque não tenho clube. Agora, está acontecendo a Copa do Mundo com outros atletas e eu não estou lá. Nem me consultaram, até porque treino aqui nos EUA. Estar aqui, em alto nível, é como se eu tivesse parado com a ginástica para a CBG e os técnicos da Seleção, enquanto eu não tiver vínculo com um clube do Brasil. Espero ter uma definição logo.
Acredita que você foi deixado de lado pela Confederação?
A CBG tem as suas regras, que têm de ser cumpridas. Eu entendo. Mas poderiam ter sido um pouco mais compreensivos com a situação que tentei agilizar e não foram. Mas não tenho como dizer que estão errados.
Você conseguiu a desfiliação da federação do Rio. Agora, o que pretende?
Preciso buscar o melhor cenário possível. Um clube que me proteja quando eu estiver no Brasil e que me dê um pouco de força quando eu estiver fora. Um suporte para eu vir, com passagem. Pelo menos essa estrutura.
Como é o trabalho com o Yin?
Ele me puxa, me manda mensagem quando quero desistir. Isso é o que me motiva. Quando lembro do ciclo passado, vejo que teve tanta coisa. Fiquei sem clube com o fim do time do Flamengo, mas minha ginástica melhorou muito e quero ir a Tóquio. Com dois meses em Miami, ele fez mil planos e traçou metas para o próximo ciclo. Eu me empolguei. Eu nem sabia até quando queria continuar, mas ele despertou coias em mim que estavam desacreditas. Ele confiou em mim mais do que eu mesmo.