E(L!)eição RJ – Dayse Oliveira: ‘Defendemos reestatizar o Maracanã’

Candidata ao governo pelo PSTU afirma que quer ver o trabalhador de volta ao estádio, visa revitalizar o Célio de Barros e Júlio Delamare e pensa em um Conselho do Esporte

imagem cameraDayse Oliveira, candidata ao governo pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (Alexandre Araújo)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 03/09/2018
19:42
Atualizado em 13/09/2018
07:00
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"Chamar uma rebelião para mudar o Estado". Enfática, Dayse Oliveira, candidata ao Governo do Rio de Janeiro pelo PSTU (Socialista dos Trabalhadores Unificado) garantiu que, com a privatização do Maracanã, houve uma expulsão dos trabalhadores da arquibancada do estádio e pretende revitalizar o Célio de Barros e Júlio Delamare para que eles sirvam à população.

Além disso, Dayse lembrou que a violência no futebol é um reflexo do que acontece na sociedade e pretende criar um Conselho Popular do Esporte para que os cidadãos fluminenses possam ter acesso às mais diversas modalidades.

Em entrevista ao LANCE!, a candidata demonstrou quais as ideias que pretende implementar no esporte na gestão, caso seja eleita.

LANCE! - Por que se candidatar ao governo?

Dayse Oliveira: Para chamar uma rebelião no Estado do Rio de Janeiro. Até então, todos os governos têm se candidatado para os empresários. O Brasil é um país capitalista, então, os governos governam para a classe dominante. E isso não muda com eleição. As pessoas não estão mais acreditando, e com razão. O grande vencedor nas últimas eleições foi o voto nulo, branco e abstenção. Até para sermos verdadeiros com a nossa proposta, nós que somos socialistas, queremos chamar uma rebelião para poder mudar o Estado do Rio. Fazer a revolução no país para que tudo atenda as necessidades verdadeiras dos trabalhadores.

"Com a privatização do Maracanã, houve uma expulsão dos trabalhadores do Maracanã. É reestatizar, garantir o barateamento dos ingressos"

Quais os projetos para a gestão do Maracanã?

Defendemos a reestatização. Isso tem a ver com a volta do povo pobre e negro para o Maracanã. Com a privatização do Maracanã, houve uma expulsão dos trabalhadores do estádio. É reestatizar, garantir o barateamento dos ingressos, a volta da "Geral", que acabaram.

E quanto ao Célio de Barros e Júlio Delamare?

Nossa proposta é revitalizá-los. Nas "jornadas de junho" (manifestações de junho de 2013) também se olhou a Escola Friedenreich, que é uma escola municipal e conseguiu manter. Isso foi fruto da luta! Queriam derrubar o Célio de Barros e Júlio Delamare e aquela luta garantiu que eles ficassem de pé, mas estão sucateados.

Algo voltado para a Aldeia Maracanã?

A ideia é a revitalização do Museu do Índio, mas com índio. Porque tem o Museu do Índio em Botafogo, mas não tem índio (risos). A Aldeia Maracanã é uma proposta de revitalização com diversos povos indígenas. O Cacique Guajajara fez ali uma resistência. Ideia é fazer os povos indígenas do Rio participarem disso. O Sérgio Cabral (ex-governador do Rio), à época, dizia que no Rio não tinha índio, uma declaração completamente racista.

"Os jovens trabalhadores gostam de esporte. O problema é que toda política de esporte e lazer em uma sociedade capitalista, não está voltada para os trabalhadores. Ela está voltada para os interesses mercadológicos"

No início, não havia a previsão de que o Estado assumisse a gestão das arenas do legado da Rio-2016, mas, de alguma forma, há algum projeto de se envolver?

Os jovens trabalhadores gostam de esporte. O problema é que toda política de esporte e lazer, em uma sociedade capitalista, não está voltada para os trabalhadores, está voltada para os interesses mercadológicos. Coerente com a minha primeira resposta, (proposta) é colocar todo o esporte e lazer, todos os recursos desses estádios, para que os trabalhadores e os filhos possam praticar esportes e com finalidades educativas. Pode fazer campeonatos escolares nestes lugares, incentivar o esporte a partir das escolas, formação de talentos a partir da educação. Hoje em dia, está sendo a partir do mercado. Meia dúzia de empresários que não se importam com essa formação básica dos atletas, pelo contrário, se interessam pelos resultados que deem uma boa imagem para o clube e empresa. A questão do fomento ao esporte e incentivo ao lazer, dar acesso para os trabalhadores, fica completamente de lado. E essa foi uma grande promessa com as Olimpíadas (legado para a população).

Há algum projeto específico em relação ao Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádio)?

Violência é estrutural. Da mesma maneira que pensamos a sociedade como um todo, é o Gepe. Violência no esporte é fruto de uma violência social que se vê acontecer. Muitas vezes, a violência nas torcidas organizadas é fomentada pelos próprio dirigentes. O Pelé, quando esteve à frente, denunciou muito esse processo (Pelé foi ministro do esporte entre 1995 e 1998). Tem de fazer uma livre organização das torcidas. A melhor forma de se trabalhar é envolvendo essas torcidas no processo de administração do esporte também. E ter códigos de relação entre si. Não dá para tratar as torcidas como se fossem um bando de bandidos em especial.

Na questão da polícia, defendemos a desmilitarização para que possam ter direito à sindicalização, destruir essa hierarquia, possam ser eleitos para resolver algumas questões. E se os membros da torcida tiverem emprego, educação, uma forma de socialização, se sentirem úteis, decidindo sobre o processo de organização... Ultimamente, isso fica restrito aos presidentes dos clubes. Acho que é por aí que podemos resolver algumas questões.

E em relação aos projetos socioesportivos junto à Suderj, o que se é imaginado?

Estão acontecendo alguns eventos, principalmente na Vila Olímpica da Maré. Agora, qual é o problema que temos visto? A redução de verbas, materiais, condição para que se possa trabalhar. Por exemplo, nas escolas públicas, muitos professores não têm nem bola para trabalhar. Tem de haver uma parceria com a educação de modo geral, para que seja feita essa interação da educação com o esporte. Separar por completo não é algo bom.

A Secretaria tem alguns projetos em parceria com os grandes clubes. Como enxerga isso?

Tem de fomentar. Vou dar um exemplo de São Gonçalo: é um município onde tem, majoritariamente, negros e se vê que quase não tem clube. Temos de incentivar. Clube é dedicado ao lazer e esporte. As pessoas acham que o trabalhador não tem direito a lazer. Quem gosta de caminhar, ter orientação, quem gosta de jogar tênis, ter orientação, jogar vôlei, nadar... Tem de ter acesso a isso. É o esporte e lazer a serviço dos trabalhadores.

Em maio, foi criado o Conselho Estadual do Futebol Masculino e Feminino do Rio de Janeiro (Conefut-RJ). Há algo visando esse conselho?

Defendo um Conselho Popular de Futebol e de esportes, de um modo geral. Nossa proposta é governar com conceitos populares, inclusive, nessa área de esporte e lazer. Com representantes de técnicos, esportistas, pessoas que vivem do esporte nas diferentes regiões. Um conselho meramente fiscalizador, que não tem acesso às verbas, não administra as verbas, vira uma enganação.

"Penso em conselho popular de esporte, em algo formado por trabalhadores, pessoas que realmente interagem com o esporte, vivenciem o esporte, tem esse compromisso de levar o esporte para a população"

A Secretaria tem parcerias com outras Secretarias que não estão ligadas diretamente ao esporte, como a a com o Novo Degase e o programa Novo Plano Juventude Viva. Como enxerga o papel do esporte como oportunidade de uma melhora de vida?

Penso em Conselho Popular de Esporte, em algo formado por trabalhadores, pessoas que realmente interagem com o esporte, vivenciem o esporte, têm esse compromisso de levar o esporte para a população, que é uma continuidade de uma tarefa educativa. Levar o lazer para a população.

Mas, para isso, tem de ter verba e democracia. As pessoas têm de poder decidir. Incentivar para menores infratores, mas tem de rever a própria estrutura do Degase. Tem de ter uma quantidade grande de psicólogos, professores, assistentes sociais. Geralmente, em relação ao menor infrator, é um família que foi destruída, que foi toda desestruturada. Há questões de maus tratos, não dá para tratar o esporte para maquiar problemas estruturais da sociedade.

Bate-bola com a candidata Dayse Oliveira: 

Pratica ou praticou algum esporte?

Pratico natação

Ídolo no esporte
Muhammad Ali e os atletas do atletismo que fizeram o sinal dos Panteras Negras na Olimpíada, inclusive o companheiro branco, que sabia e não dedurou. (Tommie Smith, medalha de ouro, e John Carlos, de bronze, nos 200m livres na Olimpíada de 1968, no México. O australiano Peter Norma ficou com a prata). Os três foram altamente perseguidos e Ali sempre denunciou muita coisa da segregação racial

Lembrança com esporte
A Seleção de 82 era uma Seleção que dava gosto de assistir. Não ganhou a Copa, mas nos deu muitas alegrias. Passei a gostar de futebol por causa desse time.

Time de coração
Vasco da Gama

Quem é:
Nome completo:
Dayse Oliveira Gomes (PSTU)
Vice: Pedro Vilas-Bôas (PSTU)
Data de nascimento: 31/05/1966
Coligação: PSTU - Partido isolado
Ocupação: Professora de Ensino Médio
Valor em bens declarados: Nenhum bem cadastrado

*Nesta sexta-feira, acompanhe a entrevista com o candidato Eduardo Paes, do DEM

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