Eu estava lá: a solução doméstica de um dos pesadelos gregos das Olimpíadas de 2004

Famílias atenienses viajaram de férias, às custas do Governo

imagem cameraNas Olimpíadas de 2004, teve até invasão na Maratona, que prejudicou o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima (Foto: JIRO MOCHIZUKI / AFP)
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Sidney Daguano
São Paulo (SP)
Dia 22/04/2024
15:48
Atualizado em 23/04/2024
13:30
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Há 95 dias dos Jogos de Paris, o Comitê Organizador começa a pensar em plano B para contornar possíveis problemas de segurança. Bem mais complicado do que isso foram as ameaças que colocaram em dúvida a realização das Olimpíadas de 2004, em Atenas. Há 20 anos, o Movimento Olímpico decidiu levar os Jogos de volta ao local em que foram restaurados, em 1896. Voltar às origens, no entanto, se transformou num pesadelo, provocado pelo caos econômico e político da Grécia, no início do século XXI.

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Várias vezes os Jogos de Atenas foram questionados, devido a ameaças terroristas e, principalmente, pelo atraso nas obras dos locais de competição. Além disso, o trânsito de Atenas sofria com os engarrafamentos, e a rede hoteleira se revelou insuficiente para acomodar todos os milhares de jornalistas credenciados.

EU ESTAVA LÁ, pela Tv Globo, e 'morei' num apartamento residencial. Uma solução emergencial, que o Comitê Organizador ofereceu às empresas de comunicação. Sim, moradores de Atenas foram incentivados a alugar suas habitações, por um mês. O negócio foi muito vantajoso para eles, financeiramente. Centenas de famílias empacotaram seus pertences pessoais e foram passear pelas ilhas gregas, às custas do governo, ao mesmo tempo em que recebiam rendimentos dos aluguéis.

O Governo da Grécia pagou para que famílias saíssem de Atenas (Foto: arquivo pessoal)

A Tv Globo decidiu alocar parte de sua equipe em apartamentos que ficavam próximos do International Broadcasting Center, onde trabalhávamos. Assim, a dor de cabeça inicial acabou se tornando um privilégio para nós, que podíamos ir e voltar a pé do trabalho, passando na frente do Estádio Olímpico.

Ao fundo, o Estádio Olímpico; à direita, o IBC, local de trabalho (Foto: arquivo pessoal)

Da habitação ampla e muito confortável, que eu dividi com os colegas Fabio Caetano e Miguel Athayde, era possível ver parte do Estádio Olímpico. E, claro, ouvir a vibração dos torcedores e ouvir o som das músicas que embalaram as Cerimônias de Abertura e Encerramento.

Em apartamentos mobiliados, vivendo como os atenienses (Foto: arquivo pessoal)

Eu estive lá dentro apenas uma vez, no dia da prova nobre do atletismo: a final do 100 metros, vencida pelo americano Justin Gatlin. Surpresa geral, pois ele não era apontado como favorito. De qualquer forma, Gatlin foi aplaudido como o mais novo semideus das pistas, que iria ser dominada pelo jamaicano Usain Bolt, nas três Olimpíadas seguintes.

À espera da prova nobre do atletismo, os 100 metros (Foto: arquivo pessoal)

E também torci pelo brasileiro Jadel Gregório, que tinha alguma chance no Salto Triplo. Não deu, ficou em quinto lugar. O ouro foi conquistado por Christian Olsson, da Suécia. Vi outro sueco se tornar campeão olímpico, Stefan Holm, que voou no Salto em Altura. E também o triunfo do japonês Koji Murofushi, no Arremeso do Martelo. Deles, pouco ouvi falar depois, mas a sensação de acompanhar a transformação mágica de atletas mortais em semideus do olimpo, isso não se esquece nunca.

➡️Eu estava lá: o dia em que uma bomba caseira desafiou a segurança das Olimpíadas de 1996 

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