Embora seja estrela em um esporte individual, João Fonseca, sempre humilde e com os pés no chão, divide todas as conquistas com sua equipe. E o técnico mineiro Guilherme Teixeira, com quem o número 1 do Brasil trabalha desde os 12 anos, é uma parte fundamental do time, ao ponto de ser considerado um 'segundo pai' pelo ilustre pupilo. Essa parceria entre os dois é admirada por Larri Passos, mentor e ex-treinador de Gustavo Kuerten, que esteve ao lado do tricampeão de Roland Garros e ex-número 1 do mundo em todos os 20 títulos da carreira.
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Na primeria parte da entrevista exclusiva ao Lance!, Larri, que é uma das principais referências para Guilherme Teixeira, não economizou elogios à relação dele com a estrela brasileira, de 18 anos:
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- A relação do Gui com o João é muito próxima, diferente. Aliás, em geral, o jogador latino gosta dessa aproximação, de receber esse carinho. É diferente de trabalhar com um europeu, eu já trabalhei, é completamente diferente.
Na opinião do mentor do ídolo Guga, é importante o treinador saber o momento certo de entrar em ação, nos mais variados momentos do dia-a-dia do tenista:
- Essa aproximação com o coach é muito bacana, você sentar à mesa, bater papo, dar risada, falar de futebol. Está sempre contando uma piada, brincando, isso aí ajuda muito o jogador. Eu e o Guga, por exemplo, não falávamos de tênis na hora do jantar, a gente brincava e, na época, não tinha internet, celular. Então, começa a sentir uma relação diferente. Começa a passar um pouquinho dos perrengues um para o outro, conversa, troca ideia, e é por aí - ensina Larri.
A relação de João Fonseca com as redes sociais é outro ponto que o ex-técnico de Guga destaca:
- Hoje, claro, os tempos mudaram, mas vejo que o João é mais focado, não usa muito essa parte da mídia, não usa muito o celular, acho ótimo isso.
Eleito o melhor técnico do mundo pela imprensa italiana em 1997, ano da primeira conquista de seu mais famoso pupilo em Paris (as outras foram em 2000 e 2001), Larri iniciou a parceria quando Guga tinha 14 anos. Ainda na infância, aos 8 anos, o ex-número 1 do mundo perdeu o pai Aldo, vítima de um infarto quando trabalhava como árbitro em um torneio de tênis infantil em Curitiba. Além de técnico, o mentor virou um segundo pai para o maior ídolo do tênis nacional masculino de todos os tempos.
Teixeira, um 'paizão' para João Fonseca
E, principalmente com tanta bagagem e com essa ótima relação com Guga, Larri fala com muita propriedade sobre a parceria entre Fonseca e Teixeira:
- Ele e o Gui são muito apegados, isso aí é uma bela formação de paizão, sem dúvida nenhuma. Mas paizão no bom sentido, porque se eu tivesse sido só paizão do Guga, ele não teria chegado lá. O coach, na hora de ser coach, tem que ser coach, tem que pegar duro mesmo. se tiver que dar duro, tem que dar. E, ao mesmo tempo, você tem que ter aquela aproximação carinhosa com o jogador. O latino gosta disso. Acho que o Gui e o João estão formando uma parceria muito linda, vão colher muitos frutos.
Larri Passos vê o número 1 do Brasil cada vez mais completo
Mais jovem brasileiro a ganhar um ATP, aos 18 anos, em fevereiro de 2025, no saibro de Buenos Aires, o pupilo de Guilherme Teixeira também tem três títulos de Challengers na quadra rápida (em Lexington, nos EUA, ano passado, e em Camberra, na Austrália, e em Phoenix, nos EUA, ambos na temporada atual), além do NextGen Finals, em dezembro de 2024, na Arábia Saudita, nessa mesma superfície.
Larri acredita que o número 1 do Brasil tem recursos para brilhar nos dois pisos:
- Vejo o João jogando muito bem no piso duro também, porque ele é agressivo, gosta de pegar a bola na frente, ele tem esse estilo de pegar a bola na ascendente, acho sensacional isso. E foi uma das coisas que mais me preocupei com o Guga, porque vim lá da geração de 1986, 84, anos 70, que deixava a bola cair lá embaixo no saibro. O Guga, em 97, começou a pegar a bola na subida e transformou o jogo no saibro. Eu vejo essa característica do João de estar sempre bem armado, bem posicionado e pegando na frente e fazendo o adversário sofrer (risos). É muito bacana isso.
Agressividade perfeita em Buenos Aires e no NextGen
Larri cita a campanha de Fonseca na capital argentina e na Arábia Saudita como dois ótimos exemplos de sua agressividade.
- Em Buenos Aires ele conseguiu fazer isso. Tirou o tempo dos jogadores argentinos, e eles não gostam quando tiram o tempo deles. No NextGen, ele já jogou mais dentro da quadra. Acho que, no futuro, ele vai ser all courts (todas as quadras). ele pode jogar bem em todos os pisos, com essa característica de ser agressivo.
- O tênis é, praticamente, defesa e ataque, teu cérebro tem que estar ligado na bolinha, e você tem que receber a mensagem 'defesa', e depois a mensagem 'ataque'. O João está nesse caminho, mas o circuito vai ensinar para ele, logicamente com a ajuda dos treinadores. Mas o circuito faz o jogador crescer dessa forma, mas acho que ele vai ser all courts - acredita Larri.
Após alcançar a segunda rodada do Masters 1000 de Madri, João Fonseca disputa, nesta semana, o Challenger de Estoril, em Portugal, também no saibro. Depois, o pupilo de Guilherme Teixeira vai debutar no Masteers 1000 de Roma e em Roland Garros.