A Federação Internacional de Natação (Fina) voltou a engrossar o tom e decidiu que suspenderá a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) caso a filiada não realize novas eleições de acordo com seu estatuto.
A CBDA marcou uma Assembleia Geral para esta terça-feira, no Rio de Janeiro, com o objetivo de aprovar mudanças no documento. A Fina enviará um olheiro para o encontro. Mas, mesmo que as alterações aconteçam, a federação quer um novo processo de escolha da diretoria, uma vez que o pleito anterior, em junho, feriu as normas vigentes. O paulista Miguel Cagnoni foi eleito, mas até hoje não é reconhecido.
De acordo com o estatuto da CBDA, somente uma Assembleia Geral tem poder de convocar eleições e determinar suas regras, o que não ocorreu. Um interventor da Justiça Comum, o advogado Gustavo Licks, conduziu todo o processo, com votos de clubes e da Comissão de Atletas, representada por seu presidente, o nadador Leonardo de Deus. O regulamento registrado na Fina diz que o direito a voto é apenas das federações.
Uma vez que a CBDA modifique o texto com a inclusão das agremiações e esportistas, obtenha a aprovação do ente máximo e organize novas eleições, a situação estará normalizada e não haverá risco de suspensão.
A nomeação de Licks aconteceu após o ex-presidente da entidade, Coaracy Nunes, ter o mandato encerrado em março sem que fosse realizasse novo pleito em meio uma grave crise política e financeira na confederação.
Em carta enviada à CBDA no dia 14 de agosto, à qual o LANCE! teve acesso, o diretor-executivo da Fina, Cornel Marculescu, estabeleceu três exigências a serem cumpridas pelos brasileiros: convocação da Assembleia Geral para alterar o estatuto, aprovação das alterações pela Fina e a condução de novas eleições.
"A Federação Brasileira de Natação deve conduzir novas eleições, de acordo com o estatuto aprovado, para escolha de sua diretoria”, afirmou Marculescu.
O último item é novidade, uma vez que o órgão vinha dando sinais de que reconheceria Cagnoni. Em junho, Marculescu deu a entender que o impasse poderia ser solucionado logo após a aprovação das mudanças de estatuto. Foi dado ao Brasil prazo de 90 dias para as adequações. Ele liberou o país de competir no Mundial de Budapeste (HUN), em julho, com a própria bandeira. A delegação retornou com oito medalhas.
Questionada se cumprirá a última exigência, a CBDA negou as informações da reportagem, apesar da carta da Fina, e descartou promover um novo pleito amanhã.
“A Assembleia Geral da próxima terça-feira é para adequação estatutária das regras eleitorais de acordo com a Legislação Brasileira e Regulamentos FINA. Não serão feitas novas eleições nesta oportunidade, muito menos houve determinação nesse sentido. Os atletas e as pessoas de bem que apoiam a nova gestão, que aliás está respaldada por decisão judicial, não aguentam mais conjecturas absurdas lançadas por aqueles que não desistem de prejudicar a CBDA”, disse a entidade, por meio de sua assessoria.
Apesar das tentativas de Cagnoni de tranquilizar a comunidade aquática, a relação entre as entidades é difícil. Em todas as cartas, Marculescu não se dirige ao mandatário ou a qualquer membro da CBDA. Escreve apenas “to whom it may concern”, que em português quer dizer: “a quem interessar possa”.
Alterar o estatuto é necessário não só para atender a uma determinação da Fina, mas também para que o documento contemple algumas novidades no processo eleitoral, como, por exemplo, a participação de clubes e atletas, de acordo com as exigências da Lei brasileira.
RELEMBRE O IMBRÓGLIO DA CBDA
Investigação
O ex-presidente da CBDA, Coaracy Nunes, e os ex-diretores Ricardo Cabral, Ricardo de Moura e Sérgio Alvarenga foram presos em abril, acusados de fraude em licitações e desvios de verba durante a Operação Águas Claras, da Polícia Federal. Eles conseguiram habeas corpus, mas o processo continua.
Eleição cancelada
A CBDA deveria ter realizado sua eleição presidencial em março deste ano, mas ela não ocorreu por falta de transparência na escolha do presidente da Comissão de Atletas, que participa do pleito. Coaracy nomeou o ex-nadador Thiago Pereira, mas houve contestação em meio ao caos político e financeiro da entidade. Em maio, Leonardo de Deus acabou eleito.
Intervenção
A CBDA recebeu intervenção da Justiça brasileira em março, quando a juíza Titular da 25ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Simone Gastesi Chevrand, afastou a diretoria de Nunes, que ficou no poder por quase 30 anos. Em seguida, nomeou como interventor o advogado Gustavo Licks. No período, ele deveria apenas administrar a confederação, mas conduziu a eleição que deu vitória a Miguel Cagnoni. Principal opositor de Nunes, o paulista, da Chapa "Inovação e Transparência", derrotou Cyro Delgado, da Chapa "Cara Nova", e Jefferson Borges, da Chapa "Novos Rumos", para comandar a entidade até 2020.
Reação
Em junho, a Fina afirmou que não reconheceria o resultado do pleito, uma vez que ele feriu o estatuto da CBDA, registrado na entidade mundial. O impasse jurídico até agora não foi solucionado. Em agosto, a atual diretoria da CBDA marcou uma Assembleia Geral para esta terça-feira, com o objetivo de mudar o regulamento e esperar que o ente máximo a reconheça. Mas a Fina mantém o discurso de que uma nova eleição deverá ser conduzida.