Indígena Xavante representa o Brasil no Pan-Americano de Cross Country
Manuel Tsiwario está aprendendo português e conhecendo um novo mundo: avião, elevador, escada rolante. Brasileiro entra em ação neste domingo, no Espírito Santo<br>
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O indígena Manuel Tsiwario, de 16 anos, da etnia Xavante, será um dos representantes do Brasil na categoria sub-18 dos Campeonatos Pan-Americano e Sul-Americano de Cross Country, que serão disputados neste domingo, em Serra, no Espírito Santo.
Campeão da etapa regional do Centro-Oeste, em Bonito (MS), no dia 20 de fevereiro, ele terminou em quarto lugar na etapa nacional da Copa Brasil Loterias Caixa, no dia 13 de março, completando os 6 km em 21:50, na cidade de Serra.
O atleta da aldeia de Três Lagoas, da terra Indígena de Sangradouro, da cidade de General Carneiro, no Mato Grosso, tem pouco mais de um ano de treinamento. Foi descoberto pelo professor Sivirino Souza dos Santos, quando no dia 23 de dezembro de 2020 foi acompanhar uma competição na aldeia.
- Pensei muito se ia, porque era longe – 260 km -, perto do Natal e num período de muita chuva, com trajeto de muita lama na estrada de terra. Acabei indo e o Manuel correu descalço e, aos 15 anos, fechou a prova de 10 km em 36:37. Fiquei impressionado - lembrou o treinador.
Depois de falar com o pai e o avô dele, o cacique Ricardo Tomotsudzarebe, que conheceram a estrutura da equipe em Barra do Garças, Manuel começou a treinar na cidade, em janeiro de 2021. Ele mora na casa dos atletas.
- Ele ainda tem muitas dificuldades de comunicação, nunca havia saído da aldeia e está aprendendo português. Eles gostam de correr, mas tem menos gosto pelo treino.
Manuel Tsiwario está descobrindo um novo mundo, coisas comuns para qualquer morador dos grandes centros estão sendo novidades para ele.
- Nunca havia viajado de avião, como foi para Serra, nunca tinha andado de escada rolante, de elevador, ou ficado em prédio como no hotel. Tudo é novidade para ele - disse Sivirino, que além de treinador é vice-prefeito de Barra do Garças.
O trabalho com as comunidades indígenas não é recente.
- Organizamos no ano passado a 1ª São Silvestre dos Povos Indígenas da Terra de São Marcos que reuniu cerca de 600 crianças e jovens de 12 a 18 anos. É um trabalho de inclusão, que ajuda no combate do uso das drogas. Temos perto de 800 integrantes nos polos nas aldeias - diz o treinador.
Com Manuel Tsiwario, o trabalho já é direcionado de fato para o atletismo. Ele nunca tinha feito nenhuma competição oficial até o dia 20 de fevereiro, quando venceu a sua prova em Bonito. Agora, já vai participar de uma prova internacional.
O objetivo é expandir ainda mais a prática de corridas entre os povos Xavantes no Vale do Araguaia, mostrar a riqueza da cultura deles, calculados em 26.000 índios.
- Estamos em busca de parceiros para realizar a 1ª Olimpíada do Vale do Araguaia - disse.
A Casa dos Atletas de Barra do Garças, que fica na Vila Olímpica no bairro Jardim Piracema, reúne 27 jovens, que têm talento e pouca condição financeira para se manter do esporte.
- Eles recebem cinco refeições por dia, frequentam escola, têm assistência médica e boas condições de treino - concluiu Sivirino.
O Brasil já teve outros atletas indígenas em suas seleções. Yuri Moreira Benites, da etnia Guarani Kaiowá (MS), participou de competições sub-20 no lançamento do dardo, assim como Mirelle Leite, da etnia Xukuru (PE), nos 3.000 m com obstáculos e 5.000 m.
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