Kirsty Coventry na Olimpíada de Atenas, em 2004 (Tim Clary/AFP)
CONCLAVE, palavra rara e tão comum nos últimos dias. Seja em Los Angeles, semanas atrás, durante a distribuição de estatuetas douradas, piadas infames, lágrimas e aplausos para Fernanda e Waltinho, nossos mais novos amigos de infância. Ou numa ilha paradisíaca da Grécia ontem, quando um ´sumo pontífice do esporte mundial foi eleito, por unanimidade, com a pressa de quem vive no esporte, em primeira rodada de votação; não um papa, mas uma papisa do mundo do esporte, sem papas na língua!
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HABEMUS PAPAM! E subiu rápido aos céus a fumaça branca! Conclave Olímpico concluído! Cardeais, digo membros, de todos os pontos cardeais, representando mais de 200 países, chegam a uma conclusão difícil, mas rápida: entre sete fortes candidatos, um consegue a maioria simples (50% dos votos + 1) logo na primeira rodada!
Kirsty Coventry, sempre veloz, ela que coleciona medalhas olímpicas (dois ouros, quatro pratas e um bronze) e recordes mundiais ao longo de sua vitoriosa carreira de nadadora olímpica, entre 2004 e 2008, surpreende o mundo e leva o Oscar, digo, o cargo mais alto do esporte mundial, a presidência do Comitê Olímpico Internacional, sucedendo Thomas Bach, o primeiro presidente laureado com 1 medalha Olímpica, na esgrima. Ela, segundo membros do “colegiado” que a elegeu hoje, fazia uma dura disputa com Sebastian Coe, Presidente da World Athletics** e organizador dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Provavelmente Coe tenha tido a mesma performance que nos Jogos de Los Angeles de 1984, e ficado em segundo, na derrota inesquecível para o nosso Joaquim Cruz, com direito recorde olímpico e tudo!
Kirsty Coventry, primeira mulher, primeira africana...
Pois é, senhora ministra do esporte de Zimbabwe, supercampeã olímpica, o mais jovem presidente a assumir (salvo o criador do COI), a primeira mulher, a primeira pessoa africana... ufa! Te desejo sorte. Que você tenha a nobreza de Coubertin, a paciência e diplomacia de Bach, a simpatia e visão de Samaranch e a gestão de Rogge, um administrador e tanto. Mas, nunca deixe de ser você: uma atleta tenaz, onde o esforço sempre venceu o talento, humana e empática. O mundo do esporte te saúda! E, como diria Hemingway, hoje os sinos dobram por você.
Já o último CONCLAVE da temporada, torço para que demore a acontecer, e Francisco vença mais uma vez as mazelas do corpo, e continue dedicando sua alma à nossa tão carente humanidade. Que a chaminé das fumaças do Vaticano se mantenha quieta.
** Federação Internacional de Atletismo
Atletismo de alto nível e na versão “pocket”:
Uma pergunta rápida aos meus 4 ou 5 renitentes (e resistentes) leitores: Vocês lembram da última vez que assistiram a um Campeonato Mundial de Atletismo? Se sim, lembram da quantidade de dias que durava aquela sequência alucinante de provas totalmente diferentes umas das outras, num ecletismo estonteante? Pra lá de 10 dias, né?
Pois bem, como se dizia antigamente, seus problemas acabaram!
Começou ontem à noite, em Nanquim (China), o delicioso Campeonato Mundial Indoor de Atletismo, em sua vigésima edição. Serão apenas 3 dias insanos, com provas regulares do programa oficial outdoor, mas levemente adaptadas para o ambiente fechado. Lembrando que este formato indoor se justifica pela data que este mundial acontece (sempre entre fins de fevereiro e meados de março), pleno inverno em todo o hemisfério norte, onde aconteceu a grande maioria das edições anteriores. A pista tem apenas 200 metros, e as duas grandes curvas tem compensação positiva (são inclinadas para diminuir o efeito desastroso da força centrífuga, por conta da velocidade que os atletas empregam em suas provas. As provas de campo também tem algumas sutis adaptações, tornando o evento não só de alto nível técnico como também inusitado.
'Ônibus lotado' de recordistas mundiais
Teremos um desfile impressionante de grandes atletas, nada menos que 11 campeões olímpicos de Paris estarão presentes, um ônibus lotado de recordistas mundiais, e o retorno saudoso de atletas que não puderam vencer em Paris ano passado.
Mas, peço a atenção de vocês para uma atleta em especial. Vou explicar porque:
Ela se chama Yaroslava Mahuchikh, é ucraniana e compete na mesma prova de seu amigo e mentor Bondarenko (quem de vocês quatro leu até o fim a coluna de terça entende) o salto em altura. Ela é a atual campeã mundial indoor, e quer defender o título para dedicar ao seu povo, que se defende e sobrevive neste inverno gelado europeu.
Mas além de Mahuchikh, vale acompanhar outros deuses do tartan, como Armand Mondo Duplantis (salto com vara), que acabou de quebrar (novamente) seu recorde mundial, e prometeu fazer o mesmo em Nanquim. E o que dizer de Jakob Ingebrigtsen nos 1500m e 3000m, trazendo os recordes mundiais nas duas provas. E provando que existe sim vida extraterrestre, ao bater 7 minutos e 17 segundos nos 3 mil, rodando sozinho a 29 segundos por volta (de 200 metros) do início ao fim!
Vale lembrar que, por conta do fuso confuso horário, as provas eliminatórias aqui, acontecem à noite, e as finais pela manhã cedo (horário Brasil). Não vá se perder por aí!
Até terça,
Lauter Nogueira