Pode-se dizer que 2023 foi um ano de evolução e grandes conquistas para Lucas Verthein. Se a vaga para a Olimpíada de Paris ficou para o ano que vem, o principal remador brasileiro ganhou aquela que era uma de suas metas na temporada, quase que uma obsessão: a inédita medalha de ouro para o país na categoria Single Skiff em Jogos Pan-Americanos, realizados em Santiago, no Chile. Um dos feitos que o consagrou como o melhor atleta do ano em seu esporte no Prêmio Brasil Olímpico, concedido pelo COB.
Em um ano com uma extensa agenda de compromissos, Lucas Verthein já teve no mês de fevereiro a Seletiva Nacional de Remo, que definiria os atletas que integrariam a seleção brasileira nas competições internacionais. Não só venceu todas suas provas, das eliminatórias à final, como cravou o melhor tempo (6’53”) já feito por um remador brasileiro nas raias da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, justamente no seu local de treinos diários pelo Botafogo. Ali ele já previa uma temporada de sucesso.
Em abril, nas raias da Laguna Grande de San Pedro de la Paz, local que também receberia a modalidade no Pan-Americano, era a hora do Pré-Pan. Após vencer suas provas nas eliminatórias e nas semifinais, Lucas liderava a final até os cem metros finais (nas provas de Remo, os barcos percorrem uma distância de dois mil metros), quando acabou superado pelo gigante americano James Plihal, de 2,10m, o mesmo que o próprio brasileiro já tinha superado na véspera. Mas a medalha de prata já o garantia no Pan.
Nos meses de maio e junho, duas etapas da Copa do Mundo, em Zagred (CRO) e em Varese (ITA). Depois de um 13º lugar na Croácia, Verthein viveu um fim de semana dos mais especiais na Itália. Mesmo não tendo avançado nas semifinais, ele fez seu melhor tempo da carreira (06’48″75) e terminou no TOP 10 do mundo dentre 33 remadores inscritos no Single Skiff, a prova mais nobre e concorrida do Remo. A satisfação por ter ficado em segundo lugar na final B e em oitavo no quadro geral era imensa, um orgulho.
“Foi o melhor resultado de um remador brasileiro no Single Skiff na história da Copa do Mundo, o que me deixou muito orgulhoso. Não só levando em conta a colocação, mas também a densidade competitiva, que é o nível da prova. Praticamente todos os grandes nomes da atualidade estavam presentes. Foi um parâmetro muito bom de se ter, já era um teste de todos os barcos para o Mundial e até mesmo para os Jogos Olímpicos. Minha preparação continuava como o planejado”, lembrou ele.
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Um segundo semestre com títulos brasileiros e ouro no Pan
Chegava o mês de julho e, com ele, o Campeonato Brasileiro Unificado de Remo, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Lucas Verthein disputou quatro provas – no Single, no Double e no Four Skiff, além do Oito Com – e ganhou nada menos do que todas elas, chegando a impressionantes 54 títulos brasileiros como remador do Botafogo. Em agosto, seguia para a Europa, novamente para Varese, e, pela primeira vez na carreira, conseguiu fazer uma preparação mais longa longe de casa para se preparar para o Mundial que se aproximava.
Depois de um mês, lá estava ele em Belgrado, na Sérvia, para sua primeira tentativa de se classificar para Paris-2024 e voltar a defender as cores do Brasil numa Olimpíada – em Tóquio-2020, foi o único representante brasileiro, chegou à final B e terminou em 12º lugar, melhor resultado do país na história do remo olímpico. Mas o sonho de carimbar a vaga parou nas quartas de final, numa prova muito disputada, e a segunda e última chance fica para o Pré-Olímpico, a ser realizado em março, na Lagoa.
Mas ainda faltava aquela outra e tão importante meta traçada no início do ano, de conquistar a inédita medalha dourada no Single Skiff em um Pan-Americano. Além disso, ainda tinha o peso a mais de, na história dos Jogos, o Brasil não ganhar um ouro no Remo há 36 anos. Muito focado, Lucas chegou bem à final. E vejam só quem ele encontraria ali: o mesmo James Plihal que o derrotara no Pré-Pan, no mesmo local. Ele faria de tudo para que, desta vez, o protagonista fosse ele. E foi, numa prova de tirar o fôlego.
Na primeira parcial (500m), Lucas já liderava, mas com menos de um segundo de vantagem. Na metade da prova, a diferença entre eles era ainda menor, praticamente juntos. A briga remada a remada se mantinha e, nos 1.500m, era quase imperceptível quem estava à frente. Eram apenas três décimos que os separavam. Mas Verthein queria muito esse ouro, mais do que qualquer outro, dizia que visualizava em seus sonhos. E veio com uma vitória de ponta a ponta, com o tempo de 6’58”76, contra 6’59”93 do americano.
“Foi um dia que ficará para sempre na minha memória. Queria mesmo fazer a melhor prova da minha vida. Valia muito para mim, era um sonho, um objetivo, mas também era um resultado muito importante para o Remo do Brasil, que não conquistava um ouro desde 1987. Essa conquista é um pedaço da minha própria história. Como tracei, precisava ser constante, sabia da qualidade dos meus adversários. Quando finalmente cruzei em primeiro, foi só explodir de alegria. Agora eu quero mais, quero Paris, quero a medalha olímpica”, finalizou.