A prisão de dirigentes esportivos por fraudes na aplicação de recursos públicos não surpreende. Muito ao contrário. Investigações como esta, que desmantelou o bando que geria há três décadas os esportes aquáticos brasileiros, obviamente são bem-vindas. Mas são tardias: não são novas as evidências - mais do que simples indícios – de que milhões repassados pelo governo e empresas estatais são desviados, a cada ciclo olímpico, para beneficiar a cartolagem em detrimento dos atletas e do desenvolvimento do esporte.
Um estudo recente, divulgado pelo consórcio Sport Policies Leanding to International Sporting Success (Políticas Esportivas para o Sucesso Esportivo Internacional, em tradução livre) organização formada por pesquisadores da Austrália, Bélgica, Holanda e Reino Unido, revelou que o Brasil está entre os países que mais repassam dinheiro público para as confederações esportivas, mas, ao mesmo tempo, é o mais ineficiente e pouco transparente na aplicação desse dinheiro.
O caso da CBDA não é o único. Sequer deve ser o maior. A essa altura, há muito dirigente assustado em seu gabinete refrigerado. Os R$ 40 milhões que escorreram pelos ralos das piscinas, como mostram as investigações, certamente são apenas gotas no oceano de irregularidades das entidades que comandam o esporte olímpico brasileiro. Handebol, tênis, vôlei, hóquei, taekwondo, ciclismo e boxe, só para citar casos mais recentes, são modalidades envolvidas em práticas nada esportivas e que vão da desordem administrativa ao desvio criminoso de recursos, das mordomias dos cartolas ao desamparo dos atletas.
A corrupção no esporte – como em qualquer outro segmento – atinge a sociedade como um todo. Afinal, é o dinheiro de cada um de nós, contribuintes, que alimenta esta engrenagem do mal. Mas, nesse caso específico, as maiores vítimas são os atletas, gente que vê o projeto de toda uma vida, anos e mais anos de dedicação integral acabarem, por vezes, sacrificados pela ganância de quem lhes deveria apoiar.
É hora de virar o jogo. Ninguém melhor do que esses atletas para ajudar a passar a limpo o esporte nacional. É preciso ter a coragem de denunciar. Depoimentos de medalhistas olímpicos, de campeões mundiais, ajudaram a polícia e o MP a colocar na cadeia os que afundaram a natação brasileira. Em outas modalidades, também há movimentos semelhantes, reações que nascem dentro das quadras, das pistas e dos campos. Essa é a forma mais efetiva de puxar o fio dessa meada. Combater de dentro para fora essa podridão - que hoje parece o fim do mundo – poderá ser o início de um novo mundo, da revolução que o olimpismo brasileiro precisa.