Ao falar na disputa masculina da Corrida de São Silvestre, o principal atleta lembrado é o queniano Paul Tergat. Afinal, com cinco títulos, é o maior vitorioso entre os homens. E os brasileiros? Bom, a resposta para essa pergunta também não gera muitas dúvidas. Afinal, o grande atleta do país na tradicional prova da cidade de São Paulo é Marílson Gomes dos Santos, único tricampeão do Brasil desde 1945, quando os estrangeiros entraram na competição.
Vencedor em 2003, 2005 e 2010, o brasiliense não vai participar da edição deste ano. Aos 38 anos, o foco atualmente é a classificação na maratona para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Nesse momento, estaria classificado, afinal atingiu o índice e obteve o melhor tempo do país (2h11m00). Mas as lesões nos últimos anos preocupam. A última fez o maratonista até pensar em encerrar a carreira.
Até por isso, Marílson não vai tentar buscar o tetra na São Silvestre. Ainda assim, ele relembra com carinho da prova e de suas conquistas. Em entrevista ao site do LANCE!, o último brasileiro a vencer nas ruas de São Paulo falou sobre isso, a Olimpíada e outros assuntos. Confira:
Por que não vai participar da São Silvestre neste ano?
Marílson Gomes dos Santos: Não vou correr a São Silvestre para dar sequência aos treinamentos. Estou focando a participação nos Jogos Olímpicos. O objetivo é esse, e não quero arriscar em uma prova dura, principalmente nesse meu retorno às competições.
Desde sua vitória em 2010, o Brasil não conseguiu ter mais vencedores. Qual o segredo para sair vitorioso da prova?
MGS: O segredo mesmo é chegar bem na disputa, se sentir bem durante toda a prova. A preparação é o principal para uma prova como essa, que é longa. Você precisa estar focado durante todos os momentos em tentar vencer. Correr para subir ao pódio é uma coisa. Já correr para tentar ganhar é outra. Foi isso que eu fiz. Eu corri para vencer.
De suas três vitórias na disputa da Corrida de São Silvestre, qual foi a mais marcante?
MGS: Todas foram marcantes. Mas a primeira vez marcou muito, era algo que eu estava querendo fazia muito tempo. Já tinha assistido à prova pela televisão e queria um dia participar. Chegue a competir algumas vezes sendo, quarto colocado uma vez e acabando outra em segundo, mas ainda não tinha ganho. Quando venci a primeira, foi muito marcante.
"Correr para subir ao pódio é uma coisa. Já correr para tentar ganhar é outra. Foi isso que eu fiz. Corri para vencer", Marílson Gomes dos Santos
Você pouco competiu neste ano. Como analisa a temporada?
MGS: Tive uma lesão na panturrilha esquerda nessa temporada, o que me atrapalhou bastante. Fiquei com muita cautela para voltar aos treinos e às competições. Uma lesão de panturrilha é mais complicada do que outras. Tinha a experiência do Adauto (Domingues, técnico de Marílson), que parou por isso. Então, tomamos algumas precauções para chegar no ano que vem para disputar a Olimpíada. Aí, abri mão dos Jogos Pan-Americanos de Toronto (CAN), do Campeonato Mundial de atletismo em Pequim (CHN) e do Mundial Militar.
Quando você sofreu essa lesão?
MGS: Tive essa lesão em maio. Fiquei uns três meses parado. Fiz uma volta bem calma, com cautela para não sentir novamente o problema. Seria muito ruim e significaria até o encerramento da minha carreira.
Já está completamente recuperado desse problema?
MGS: Estou me sentindo bem, não estou sentindo mais nada na minha panturrilha. Tivemos de esquecer um pouco a temporada de competições deste ano para conseguir voltar na pré-temporada podendo dar continuidade aos treinos para 2016. Estou fazendo o que preciso nos treinamentos. Vou tentar brigar por essa vaga nos Jogos Olímpicos e por uma boa colocação na competição.
Durante os treinamentos, o que você tem feito de diferente para evitar novas lesões?
MGS: Tenho 38 anos, então faço muita coisa que não fazia antes. Tento me recuperar, me alimentar melhor. Faço algumas massagens, o que eu não fazia antes. Além disso, tenho treinado em terrenos mais macios.
O Solonei da Silva já se garantiu nos Jogos Olímpicos pela colocação dele no Mundial de Pequim. As outras duas vagas do Brasil serão definidas pelo índice e o tempo dos atletas. Alguns maratonistas chegaram a criticar tal situação. O que você achou?
MGS: É difícil falar sobre isso, cada país tem seu critério. São coisas que precisam ser pensadas. Não sei dizer se é correto ou não. Mas entendo que o Brasil tem de mandar seus melhores atletas. Se esse for o ponto a ser defendido, vale a pena.
O ATLETA
NOME: Marílson Gomes dos Santos
NASCIMENTO: 6/8/1977 - Brasília (DF)
PROVAS: Tem no currículo provas nos 5.000m, 10.000m, meia maratona e maratona.
PRINCIPAIS CONQUISTAS: Bicampeão da Maratona de Nova York (2006 e 2008); quinto colocado na maratona na Olimpíada de Londres, em 2012; tricampeão da Corrida de São Silvestre (2003, 2005 e 2010); medalhista de prata nos 10.000m e de bronze nos 5.000m na disputa dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003, e do Rio de Janeiro, em 2007.