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Máquinas subutilizadas pelo COB têm capacidade de detectar doping

Bioquímico que assinou projeto do Laboratório Olímpico afirma que confusão sobre os possíveis objetivos dos aparelhos sempre foi motivo de preocupação entre os mentores<br>

Espectrômetros Lab Unirio
imagem cameraEspectrômetros do Laboratório de Bioquímica de Proteínas da UNIRIO são usados em pesquisas sobre metabolismo de substâncias naturais, presentes em alimentos, que podem ser consideradas doping pela Wada (Fotos: Cayo Lames)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 03/12/2019
02:16
Atualizado em 04/12/2019
00:25

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O Departamento de Bioquímica do Laboratório do Comitê Olímpico do Brasil (COB), área que mais consumiu recursos na montagem do projeto, tem um poderoso conjunto de equipamentos capazes até de detectar doping. São os quatro espectrômetros de massa que, conforme o LANCE! revelou na segunda-feira, custaram mais de R$ 4 milhões e estão subutilizados desde a compra.

De acordo com envolvidos na montagem da estrutura, localizada no Centro de Treinamento do Time Brasil, no Rio de Janeiro, a presença dos aparelhos gerou diversas vezes uma preocupação dentro do COB, já que a entidade não pode ter qualquer tipo de interferência em casos de doping de atletas.

O local, inclusive, está sujeito a inspeções da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), que tem como um dos seus objetivos fiscalizar e gerir os procedimentos de controle de dopagem em âmbito nacional.

A espectrometria de massas é considerada uma das técnicas analíticas mais poderosas da ciência atual. Ela permite identificar moléculas em baixas concentrações e determinar caminhos eficazes para combater diversas doenças, como o câncer. Em benefício ao esporte, ela pode ser usada para monitorar perfis de proteínas inflamatórias, proteínas importantes no esporte e exercício (como EPO, insulina e GH), e hormônios, como testosterona.

– Durante todo o tempo, o Departamento foi confundido com um laboratório antidoping. A espectrometria de massas em esporte está, no pensamento coletivo, ligada ao doping. Talvez tenhamos sido os primeiros a propor o uso desta técnica e utilizá-la com objetivos ligados à performance esportiva – afirmou o bioquímico L.C. Cameron, signatário do projeto e chefe do Laboratório de Bioquímica de Proteínas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), que move uma ação cível contra o COB por remuneração de serviços prestados e danos morais.

O cientista se desligou de qualquer parceria com a entidade em fevereiro de 2018, após 12 anos de união. A decisão teria sido tomada por discordâncias com a diretoria sobre os caminhos tomados pelo projeto. Perguntado se alguma vez chegou a ser cogitado o uso dos equipamentos para detectar doping de atletas brasileiros, Cameron negou que isso tenha acontecido enquanto ele esteve ligado ao COB.

– Nada sei sobre o que aconteceu ou acontece no local após o meu desligamento – declarou o bioquímico.

O COB diz que está desmobilizando o setor, “por entender que a relação de resposta rápida aos treinadores e atletas não nos atende, bem como a relação custo benefício”. A manutenção dos espectrômetros custa R$ 700 mil por ano. A entidade diz estudar uma parceria com a UFRJ para destinar as máquinas, de modo que possa utilizá-las por demanda em pesquisas.

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COB paga salário de quase R$ 9 mil a responsável por máquinas

O Departamento de Bioquímica do Laboratório Olímpico do COB tem despesas com uma funcionária responsável por operar os espectrômetros de massas, embora o setor passe por processo de desmobilização, conforme a entidade explicou ao LANCE!

Doutora em Ciências e Biotecnologia, Marcelle Gomes de Souza Pegurier informa em seu “Linkedin” que é encarregada das principais atividades nesta área. Contratada em março de 2017, a profissional recebe atualmente um salário de R$ 8.947,00 como Pesquisadora Nível 3, pagos com recursos da Lei Agnelo/Piva. 

Marcelle diz que realiza a “operação e manutenção dos três espectrômetros de massas (Xevo TQ-S, Xevo G2 Q-ToF e Synapt G2 Si)”, além de ser “responsável pelo preparo de amostras e processamento de resultados nos diferentes métodos desenvolvidos: proteômica, metabolômica, identificação e quantificação de aminoácidos e hormônios esteroides”. Ela também afirma que é “responsável pela compra e controle de estoque de reagentes, e desenvolvimento de projetos científicos acadêmicos”.

É de Marcelle o único projeto de pesquisa do COB aprovado dentro da plataforma Brasil. Até hoje, nenhum artigo foi publicado com base nas máquinas de espectrometria de massas, apesar de a liberação dos recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública de fomento à ciência e à inovação vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), ter sido condicionada à produção científica.

Especialistas criticam a decisão do COB de desmobilizar setor

A notícia de que o COB pretende desmobilizar a área de espectrometria de massas do Laboratório Olímpico para dar lugar à odontologia e fisiologia com câmaras hiperbáricas, informada pela entidade ao LANCE! em reportagem publicada na segunda-feira, revoltou pessoas influentes nos campos da Ciência do Esporte e do Direito Desportivo.

Coordenador Científico do São Paulo, Altamiro Bottino lamentou o fato de o COB abrir mão do que ele acredita ser “um dos conceitos mais disruptivos no campo da pesquisa em performance humana, por pura miopia administrativa”.

– É desolador ver o que está acontecendo com o Laboratório Olímpico do COB. Um atestado de incompetência tanto para a Ciência do Esporte quanto para com o uso do dinheiro público. Mais um legado olímpico pulverizado pela vaidade, ignorância e a estupidez humana. É a alta gastronomia trocada por um miojo – afirmou Bottino.

Advogada Especializada em Direito Desportivo, Armineyde Abtibol também fez duas críticas à decisão:

– O esporte tem status constitucional. É teratológico o que está acontecendo com o Laboratório Olímpico do COB. Sabemos a importância destas pesquisas e estudos para o desenvolvimento dos nossos atletas.

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O PROBLEMA

Projeto original
Os espectrômetros de massa eram parte central do projeto original do Departamento de Bioquímica do Laboratório Olímpico. Eles ajudariam a controlar o desempenho dos atletas, por meio da análise de diferentes modificações no organismo, com impacto em fatores como nutrição, consumo de água, recuperação, reabilitação e treinamento, específicos para cada atleta em situações de exercício físico e de stress.

Subutilização
O COB não informou o número de exames feitos em atletas. Nunca houve um artigo publicado pela entidade com base em espectrometria de massas. A entidade disse que está desmobilizando a área "por entender que a relação de resposta rápida aos treinadores e atletas não nos atende, bem como a relação custo benefício de manutenção dos equipamentos".

Quem precisa?
Como o L! mostrou na segunda-feira, a técnica tem diversas aplicações. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) enfrenta congestionamento das máquinas para pesquisas de combate à doença. Empresas como Petrobras, Inmetro e Fiocruz também poderiam fazer uso do equipamento subutilizado pelo COB.

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