O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, dedicou as medalhas do Brasil nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, que se encerraram neste domingo, ao nadador Andre Brasil, que foi considerado inelegível pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), em abril.
- Estou muito feliz. Foi uma campanha memorável. Ofereço o resultado ao Andre, porque ele deveria estar aqui com a gente. Deveria também conquistar as medalhas, como sempre fez. Por causa de um processo truculento, infelizmente não pôde estar aqui. Mas acredito que ele vai voltar se depender da gente. Quero oferecer cada uma das conquistas para ele. Todas são um pedacinho dele - afirmou Mizael, bicampeão paralímpico e bicampeão mundial de futebol de cinco (para cegos).
O CPB entrará com uma ação na Justiça alemã para tentar reverter a decisão. Segundo Mizael, que também é advogado, o setor jurídico da entidade ainda estuda os melhores caminhos. Outro prejudicado é Daniel Dias, que perdeu cinco recordes mundiais.
- Vamos fazer o que for possível para que o Andre tenha o direito de competir. Para ele determinar como vai encerrar a carreira dele. Porque eu não consigo entender e aceitar que um processo tão equivocado não considere o indivíduo, uma pessoa tão importante para o movimento paralímpico brasileiro e internacional. O talento do Andre contribuiu muito para que o esporte paralímpico ganhasse repercussão para que empresas importantes de comunicação como as de vocês trabalhassem. Tem muita coisa acontecendo no mundo. Isso só chegou a esse nível por atletas como ele - disse Mizael.
Andre foi barrado de todas as competições do IPC após ser considerado inelegível por uma banca que o avaliou durante o Open Internacional, em São Paulo. Após 15 anos de carreira, o campeão paralímpico ouviu dos médicos que havia força "moderada" em seu pé esquerdo, e não mais "mínima". Diagnosticado com paralisia infantil aos seis meses de vida, ele cresceu com má formação na perna. O atleta não perdeu seus resultados.
Os brasileiros encerraram o Parapan na liderança pela quarta vez seguida. A conta fechou com 308 medalhas, sendo 124 de ouro, 99 de prata e 85 de bronze. Os Estados Unidos ficaram em segundo, com 183 (58 ouros, 62 pratas e 63 bronzes). O México foi o terceiro, com 158 (55 ouros, 58 pratas e 45 bronzes).
Confira o que mais disse Mizael Conrado
PLANEJAMENTO DO CPB
Nós estabelecemos lá em 2017 um planejamento, que tem como principal objetivo consolidar o esporte paralímpico do ponto de vista do desenvolvimento e da renovação. Então, a gente tem vários programas, o centro de formação, o camping paralímpico, o festival paralímpico, que nós vamos reunir 70 cidades a partir de 21 de setembro. Enfim, foram várias ações pensando nesse processo de renovação, uma estratégia em que a renovação seja natural e constante no esporte paralímpico. Isso vai fazer com que a gente lá em 2028 possa estar brigando tranquilamente entre os cinco primeiros do mundo. O Brasil vai ser uma potência, não tenho dúvida nenhuma, por causa desses programas.
DESAFIO DE PARAPAN CADA VEZ MAIS COMPETITIVO
O Parapan é muito desafiador, porque os países vêm crescendo. Se você pegar os Estados Unidos, em Toronto foram 40 medalhas de ouro no total. Aqui, foram 58. Então, isso torna ainda mais desafiadora a participação do Brasil. Todo esse cenário de uma transição que passamos, aliado a uma evolução dos nossos adversários, fez essa competição muito desafiadora e, certamente, o Parapan mais difícil que o Brasil já disputou. Considerando tudo isso, a participação foi excepcional. A avaliação é a melhor possível. O Brasil fez aquilo que nem a gente imaginava.
PROJEÇÕES E AJUSTES PARA TÓQUIO-2020
Vamos pensar em Tóquio depois de novembro. Porque os dois principais Mundiais acontecem agora. Primeiro a natação, uma semana depois dos Jogos, e depois o atletismo, que vai acontecer em Dubai. Houve mudanças importantes que vão impactar muito nos nossos resultados. Claro que queremos celebrar os resultados, torcer para os atletas conquistarem seus objetivos, mas teremos condição de avaliar Tóquio depois que a gente tiver noção de como vai ficar o cenário, considerando esse novo processo.
AGRUPAMENTO DE CLASSES DE ÚLTIMA HORA NO PARAPAN E DIFICULDADES
Nós tivemos 11 provas canceladas (todas da natação) a uma semana da competição. Em sete delas, o Brasil era franco favorito. Tivemos provas que foram agrupadas aqui, no dia do início da competição. Então, sem dúvida que isso prejudica o planejamento. Isso faz com que a gente tenha mais dificuldade ainda na obtenção desses resultados. Com toda certeza, foi mais um desafio a ser enfrentado. Não fosse por isso, certamente estaríamos em uma posição ainda melhor. Isso é um fato. Mas, apesar disso, finalizamos com um resultado bem expressivo.
AVALIAÇÃO DO EVENTO
Com relação ao evento, tivemos problemas técnicos dos esportes, como a inscrição do judô e da natação. O (Antônio) Tenório começou um processo de perda de peso, dali a pouco teve que engordar de novo para poder competir, e ainda competiu com alguém que tinha 30kg a mais que ele. Enfim, foram algumas situações que acabaram atrapalhando, mas se considerarmos o aspecto geral, os peruanos fizeram o possível e o impossível para entregar bons jogos e acredito que conseguiram. Fomos muito bem atendidos aqui. O povo é muito receptivo e caloroso. Sabíamos a dificuldade que é organizar um evento desse tamanho, com tantas áreas de competição, toda estrutura necessária para poder atender às necessidades dos países e dos jogos em si, e eles realmente fizeram a entrega. Acredito que eles mesmos se superaram e se surpreenderam com o que conseguiram fazer. O Peru, acho que não só esportivamente, agora entrará de fato no cenário sul-americano e latino-americano, e também no ponto de vista de transformação da sociedade. Eu acredito quee essas estruturas esportivas certamente farão com que sejam uma sociedade mais inclusiva.