Há um mês a Seleção Brasileira feminina de handebol estreava no Mundial da Dinamarca em busca do bicampeonato. O resultado final não foi o esperado, com a eliminação nas oitavas de final. Mas nada que diminua as expectativas em cima da equipe. Afinal, daqui sete meses começam os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. E lá está o principal foco das comandadas por Morten Soubak: conquistar a primeira medalha olímpica da modalidade para o Brasil na história.
Aos 51 anos, o dinamarquês está na Seleção desde 2009. Em seu segundo ciclo olímpico, tem a ciência da grande responsabilidade a partir de agosto. Pelos resultados dos últimos anos, com o título mundial em 2013, as brasileiras surgem como uma das favoritas ao pódio.
Na Dinamarca para aproveitar as festas de fim de ano com os familiares desde a queda precoce na competição deste ano – o retorno ao Brasil será nesta semana para um período de treinamentos com as equipes juvenis e júnior em Blumenau (SC) –, Morten reconhece que o caminho para alcançar uma medalha na Olimpíada não será fácil. Mas não deixa de acreditar.
A eliminação para a Romênia, nas oitavas de final do Mundial do ano passado, já ficou para trás, com os erros e acertos já analisados. O foco principal é a Rio-2016.
Em conversa com o site do LANCE!, o dinamarquês falou sobre a preparação olímpica, a busca pela medalha e fez uma análise de 2015. Veja:
Qual sua análise sobre a temporada de 2015 da Seleção?
Morten Soubak: A última coisa que ocorreu e está mais clara na cabeça é que chegamos às oitavas de final do Mundial e fomos eliminados, algo que poderia acontecer. Todas as seleções mostraram que teriam nível para pegar uma medalha. Estou muito satisfeito com o grupo. Pelo terceiro Mundial seguido ficamos em primeiro na chave. De uma certa forma, conseguimos mostrar que temos potencial. Mas não deu certo no jogo que precisava. Também estou satisfeito com a preparação que fizemos, com alguns jogos-treino. Fico feliz ainda por termos ganhado o Campeonato Pan-Americano em Cuba, com um time misto formado por meninas da Europa e do Brasil. Era um time que não tinha muita experiência atuando junto. E também por ganhar mais uma vez os Jogos Pan-Americanos. Conseguimos dar mais espaço para novas meninas, não só de idade. Mais jogadoras puderam participar. Acho isso importante para o que vai ser feito daqui para a frente.
Você sempre disse que o Mundial seria muito equilibrado, mas o objetivo era chegar, pelo menos, nas quartas de final. O que faltou para o Brasil nesse torneio?
MS: Quando você perde, sempre procura o que faltou. Falando apenas de um jogo, o que perdemos para a Romênia, realmente não fomos bem nos arremessos, principalmente naqueles livres somente contra a goleira. Isso pesou muito. O ponto forte da nossa Seleção é a defesa, e novamente nossas adversárias fizeram poucos gols contra a gente. Mas falando apenas da partida contra a Romênia, o que poderíamos ter feito melhor são os arremessos livres.
E o que dá para tirar de bom?
MS: Pude observar e vamos conseguir colocar mais situações táticas que temos de utilizar na Olimpíada. Vou levar isso para frente. Além disso, tivemos uma discussão no âmbito mundial para mudar algumas regras. Se forem mudadas, então teríamos de pensar em alterar outras coisas. As alterações foram mandadas para os países, mas alguns reclamaram e foram tiradas. A regra mais radical é sobre a questão de tirar a goleira e colocar uma goleira-linha. Atualmente, essa atleta tem de entrar com o colete. Já a nova regra diz que não existe essa necessidade. Assim, qualquer uma pode ser goleira, não precisa ter uma pessoa exata. Saber quem é a goleira-linha ou não muda muito. Mas isso já não passa muito pela minha cabeça, afinal não existe a confirmação se vai haver alguma alteração ou não.
"Queremos participar e fazer uma boa Olimpíada. Tomara que seja algo histórico. Para a gente do handebol, conquistar uma medalha seria fantástico", Morten Soubak
Antes a gente falava que a Olimpíada seria daqui alguns anos, mas agora faltam sete meses. Então, o que dá para tirar do Mundial para os Jogos?
MS: A Olimpíada já é amanhã. Então, é muito claro que precisamos manter um nível mais alto por mais tempo durante as partidas. O jogo contra a Romênia mostrou que tivemos algumas quedas de rendimento no primeiro tempo, e elas abriram uma vantagem de cinco gols. Isso foi uma grande desvatagem. Até encostamos no placar, mas não conseguimos igualar. Se tivesse uma diferença menor, talvez seria mais fácil virar. Temos períodos que estamos bem, outros não. Durante os jogos, você tem altos e baixos, mas não pode ser tanto.
Após o título em 2013, existia uma expectativa muito grande em cima da Seleção. Como você sentiu a reação das pessoas após a eliminação do Mundial?
MS: Aqui na Europa, todos falam a mesma coisa: que o resultado do Mundial aconteceu como todos esperavam. Atualmente, no feminino, não dá para falar quem vai chegar à semifinal. Um amigo meu até diz que não pode apostar dinheiro nisso. A única coisa que diziam é que a Noruega disputaria medalha. É a única seleção que está conseguindo se manter extremamente no topo. É um time que renovou parte do elenco, mas se mantém em cima. Então, cada vez mais, é o dia que vai definir os campeonatos. Se a equipe não está bem naquele dia do jogo, pode esquecer ou admitir que vai ser muito difícil. O Mundial mostrou isso.
No Mundial, você utilizou algumas atletas mais novas. Como está a renovação do time?
MS: É difícil falar, mas temos jogadoras com mais experiência. Isso pode ser uma vantagem para nós. Uma diferença para os Jogos Olímpicos é que você leva 14 jogadoras, contra 16 no Mundial. Então, estamos mexendo um pouco com algumas atletas, fazendo elas defenderem posições diferentes. Lá, são só 14 e isso faz uma diferença significante. Temos um grupo experiente, com atletas com muita bagagem pela Seleção e partidas por equipes na Europa.
Para a Olimpíada do Rio de Janeiro, você vai priorizar levar as atletas mais experientes?
MS: Temos de ver as atletas que estão com a melhor performance no momento. Mas ao mesmo tempo, temos de pensar que temos jogadoras experientes na equipe no momento.
Durante o Mundial, você precisou tomar cuidado com algumas atletas mais veteranas, como Alexandra Nascimento e a Duda Amorim por lesões. A questão física preocupa?
MS: Sempre me preocupo com as situações técnica, tática e física. A Duda estava voltando de lesão grave (rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo), mas conseguiu fazer até mais do que eu esperava. Ela fez muito bem a função dentro de quadra. Para a Olimpíada, todas vão conseguir fazer uma preparação melhor e mais forte do que fizemos em Londres-2012. A diferença é que, para o Mundial, elas chegaram diretamente das ligas europeias e tiveram duas semanas de treino. Agora, serão cerca de dois meses antes de começar os Jogos. Esse vai ser um período diferenciado para elas descansarem e treinarem.
Como será a preparação da Seleção para a Olimpíada?
MS: A programação está definida, só falta ainda escolhermos alguns locais para treinarmos. Mas as datas não vão mudar. O primeiro encontro será em em março, com duas semanas internacionais. Vamos ficar na Europa nesse período. Depois, tem de esperar as ligas europeiras. Já no fim de junho e começo de julho vamos nos reunir no Brasil, no Rio de Janeiro. Durante a preparação, ficaremos na Urca (na Escola de Educação Física do Exército, dentro da Fortaleza de São João).
Seu contrato termina ao fim da Olimpíada e ainda não existe uma definição sobre o futuro. Mas dá para dizer que o principal objetivo desde o início de seu trabalho na Seleção estava nos Jogos Olímpicos deste ano?
MS: Com certeza. Vai ser uma competição em casa, já estamos com esse grupo faz um tempo. Queremos participar e fazer uma boa Olimpíada. Tomara que seja algo histórico. Para a gente do handebol, conquistar uma medalha seria fantástico.
Como estará o Morten em 21 de agosto, quando acaba os Jogos? Como sonha terminar o dia?
MS: Ele sonha em colocar essas meninas, a Confederação, a Comissão no pódio. Seria importante para todo o handebol que o Brasil consiga essa primeira medalha, tanto na disputa feminina como na masculina.