A escolha de Marcelo Magalhães, amigo e padrinho de casamento do senador Flávio Bolsonaro, para comandar a Secretaria Especial do Esporte causou indignação nos que esperam o mínimo de coerência no debate sobre os rumos do setor, pauta que vai muito além da quantidade de medalhas que o país pode conquistar nos Jogos Olímpicos.
Enquanto algumas dezenas de figuras relevantes na história do esporte brasileiro articulam-se como formigas em uma selva para fazer a prática prosperar, a despeito de todos os contras, representantes políticos do país jogam o segmento para os últimos itens da lista de suas prioridades, ainda que a maioria faça questão de sair nas fotografias de eventos comemorativos, como a cerimônia do centenário de participações olímpicas do Brasil no último dia 19, em Brasília, com a presença do presidente Jair Bolsonaro. É bonito falar que apoia.
O atual governo sempre foi enfático ao declarar que saúde, educação e segurança pública são suas prioridades. O problema é a visão curta que impede de enxergar que o esporte, se bem planejado no longo prazo, também se converte em saúde, educação e segurança pública. O plano de governo nem sequer citava a palavra esporte. Diante do rombo no orçamento, era preciso cortar, segundo os seus porta-vozes.
O Ministério do Esporte, com o status de relevância que tinha para pleitear recursos e formular políticas públicas, foi reduzido a um órgão que não dispõe de forças para trilhar uma escalada tão difícil. Hoje, basicamente mantém ativos os programas de sucesso do passado que favorecem a imagem do governo em seus canais oficiais nas redes sociais.
O general Décio Brasil, exonerado, tinha algumas vantagens em relação ao novo ocupante da cadeira: vivência no esporte militar, que permitia falar a mesma língua de pessoas colocadas na Secretaria, e bom diálogo com a comunidade esportiva engajada no debate de temas fundamentais, como a aprovação como lei de um Plano Nacional do Desporto para definir de forma clara os papéis de cada ente na consolidação de uma cultura de prática esportiva desde a escola. Magalhães não tem uma coisa nem outra. Sua ligação com esporte é de consultor, gestor de carreiras, captador de patrocínios e produtor de conteúdos.
Como sempre, temos de dar a oportunidade para que o secretário faça seu trabalho e torcer para que haja envolvimento com a causa. Mas a história já provou incontáveis vezes que o modelo de indicação política “na marra” costuma ser um tiro certeiro para o retrocesso.