Papo com Helio Castroneves: ‘Adeus ao seu Bastos e boas-vindas à TV Cultura’

Piloto destaca trajetória de José Aloizio Cardozo Bastos, que morreu nesta semana, e aponta suas impressões sobre o teste Indianapolis, com foco em mais uma Indy 500

imagem cameraHelio Castroneves escreve ao LANCE! às quartas-feiras (Foto: Divulgação)
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Lance!
Indianapolis (EUA)
Dia 14/04/2021
18:01
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Olá, amigos!

A coluna de hoje era para ser totalmente dedicada ao teste da semana passada em Indianapolis. Foi mesmo muito importante e conseguimos avançar bastante nos nossos objetivos relativos à Indy 500 do próximo dia 30 de maio. Mas me senti na obrigação de acrescentar algumas palavras em homenagem ao presidente da Federação de Automobilismo de São Paulo, o seu Bastos, que infelizmente faleceu na terça-feira, 13, aos 88 anos.

Quando eu comecei a correr de kart, em 1987, José Aloizio Cardozo Bastos já era um profissional com muita experiência no automobilismo. Ele foi bandeirinha, comissário, diretor de prova, promotor, dirigente, presidente de clube e um monte de coisas mais. Só que para a meninada do kart, não importava o cargo, pois ele era sempre do mesmo jeito.

Cansei de levar bronca do seu Bastos e ouvir um apito que ele levava para todo canto. Mas as broncas do seu Bastos não eram daquelas de dar medo na gente. Era mais orientação e aconselhamento. E o engraçado é que ele tentava fazer uma cara de bravo, mas não conseguia, pois a autoridade que ele tinha não vinha dessa coisa de ser bravo, mas do conhecimento que ele tinha e da forma que ensinava a molecada.

Eu fiquei triste em saber do seu falecimento, mas acredito que ele seguiu satisfeito ao encontro do Pai, pois viveu praticamente a vida inteira envolvido com aquilo que gostava e deixou muito amigos, muitos mesmos.
Sobre o teste em Indianapolis, quero dizer a vocês que foi maravilhoso. Digo isso porque, apesar da chuva no primeiro dos dois dias, conseguimos fazer uma quantidade tão fabulosa de experimentos que, certamente, vai permitir que a gente inicie bem os trabalhos da Indy 500.

Vocês perceberam que a asa traseira é bem pequena, com pouco arrastro aerodinâmicos. Como esse formato gera menos turbulência, os carros tendem a andar mais próximos. Porém, a novidade é o assoalho, que ganhou alguns recursos justamente para compensar essa perda na traseira.

O que resulta de tudo isso é que temos muitos dados a cada saída para a pista. Andei mais de 200 voltas, portanto, não faltaram informações. É aqui que gostaria de abordar um tema especial. De maneira geral, todas as equipes têm acesso às informações. Claro que cada piloto e equipe têm suas particularidades, só que a, grosso modo, não muda muito. A questão que fica, portanto, é exatamente o que fazer com essa informação.

Nessa equação entram diversos itens, dentre eles a experiência dos pilotos, o relacionamento com o grupo, a capacidade de comunicação entre corredores e engenheiros, os recursos humanos com capacidade de tirar proveito de todos aqueles gráficos coloridos e assim por diante. Sei que muita informação tem a capacidade, caso não haja o entendimento de como proceder, de causar enorme confusão.

E apesar de nosso grupo ter sido reunido apenas recentemente na Meyer Shank Racing, deu para perceber o quanto eu posso contribuir e aprender nessa troca, o que é sensacional. Claro que anotei tudo no meu caderninho e temos conversado bastante com o pessoal de engenharia. Muito legal também foi ter conseguido andar rápido nos dois dias e, mesmo testando muita coisa, nossa performance foi bem eficiente.

Nesse final de semana começa a temporada no Barber Motorsports Park, no Alabama. Eu não vou pilotar, mas estarei lá para me familiarizar com a dinâmica da equipe em corrida e esticar mais ainda a fase de análise de tudo o que já temos. E o pessoal do Brasil vai poder acompanhar tudo ao vivo na TV Cultura, a nova casa da Indy. Fiquei muito feliz com essa nova fase da categoria e desejo muito sucesso.

Abração e até semana que vem.

Helio Castroneves, especial para o LANCE!

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