Campeão mundial nos 50m livre na classe S10 em 2017, na Cidade do México, Phelipe Rodrigues não se contenta em ser o nadador paralímpico mais rápido do Brasil. O pernambucano, de 28 anos, lidera o ranking mundial há dois anos e acredita estar no auge, no momento em que se aproximam os Jogos Parapan-Americanos de Lima (PER), entre 23 de agosto e 11 de setembro, e o Mundial, entre 9 e 15 de setembro, em Londres (ING).
Assim como Andre Brasil, que este ano foi impedido de competir como paralímpico nas provas de crawl, borboleta e costas, após novas regras de classificação, Phelipe também foi reavaliado e corre o risco de ser barrado de nadar contra deficientes, caso seja constatada força acima da média nos movimentos. A S10 reúne os nadadores com menor grau de limitações físico-motoras. Ele nasceu com má formação congênita, que deixou o pé direito virado para trás. Operou, mas sofreu infecção hospitalar, que agravou a situação. Hoje, calça 41 no pé esquerdo e 35 no direito.
Ao LANCE!, o nadador falou dos próximos desafios, da angústia sobre o caso, que está em avaliação pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), e da expectativa pelo retorno à capital britânica, quando tentará apagar um trauma de Londres-2012. Na ocasião, foi à final em primeiro, mas ficou fora do pódio.
Você tem pela frente duas grandes missões. O Parapan, em Lima, e o Mundial, em Londres. Como chega para essas competições?
Faz dois anos que eu lidero o ranking. Isso mostra o resultado do trabalho com meu treinador (Leo Tomasello). Tenho certeza de que chegarei na melhor forma em que já estive. Estou ansioso. Não vou mentir. Sobretudo para o Mundial, onde defenderei meu título de campeão. Mas, por incrível que pareça, tenho conseguido ficar tranquilo.
O Mundial será seu retorno a Londres após um trauma vivido na Paralimpíada de 2012, quando você era favorito e terminou os 50m livre em quarto. Como será essa volta?
Tenho um calo, que foi o quarto lugar nos 50m livre naqueles Jogos, então quero muito voltar na minha melhor forma. Estou pronto para me livrar dele. Eu era favorito ao ouro e já tinha nadado a eliminatória com primeiro tempo, mas estava pensando mais na medalha do que em nadar, com uma super expectativa. Isso me atrapalhou bastante. Depois dessa prova, que tinha sido minha primeira em Londres, pensei: “se nadei mal assim agora, imagina no resto?”. Teria outras quatro provas. Foi uma queda grande naquele momento. Eu não dormi direito. Fiquei mal. Mas foquei em ajudar os revezamentos. Na manhã seguinte, nos 100m borboleta, não tinha descansado nada. Dormi 3h30 da manhã para acordar às 7h. Não tinha esperanças de medalha, mas precisava focar. Baixei meu tempo na eliminatória e fui para a final com o sétimo tempo. Fiquei em quinto na final. Não esperava.
Como superou esse episódio?
Depois daquilo, comecei um trabalho psicológico e com minha equipe técnica, para a Rio-2016. Passei três anos trabalhando a questão psicológica. No Rio, minha primeira prova foi os 50m livre. E lá pensei: “Era disso que eu estava com medo?”. Não ganhei o ouro (foi prata), mas me senti bem. Tudo o que aconteceu no passado tinha ido embora. Só mantive o trabalho. Por ser campeão mundial, tem pressão e patrocínios, mas sou mais maduro hoje e sei o que preciso fazer.
As novas metodologias de avaliação para classificação dos nadadores atingiram você e o seu caso ainda será reavaliado. Como recebeu a notícia? Teme subir de classe e ficar fora do esporte paralímpico?
Passei pelo que o Andre Brasil passou, mas fizemos uma apelação e a interpretação dos classificadores foi de que eu deveria me manter. Mas ainda vou ser reavaliado em algum momento. Não sei quando. Pode ser no Parapan ou Mundial, ou ano que vem. Comparado com minha primeira avaliação, lá em 2008, esta foi mais específica e clínica. Em 2008, passei 40 minutos, e agora foram quase duas horas. É um assunto delicado. O processo de classificação tenta ser o mais justo, mas nunca será totalmente justo. Estamos sujeitos a interpretações. Pode ser benéfico ou maléfico para o atleta. Acredito que mudanças são necessárias. Só o que faço é focar no Mundial e no Parapan. É difícil, no meio dessa roleta-russa. Eu posso ficar dentro ou fora. Com minha equipe, foco no positivo. Independentemente do que vá acontecer, já penso nos Jogos de Tóquio. Se subir de classe, vou me adaptar a outro tipo de nado, como o peito, em que classificação é diferente.
Você tem sete medalhas paralímpicas, mas nenhuma de ouro. Como fica a cabeça?
Eu acabei ganhando quase tudo na minha carreira. Fui campeão mundial, parapan-americano, europeu e brasileiro. A única coisa que me falta é ser campeão paralímpico. Carrego muito essa vontade. Sei que vou ter de nadar abaixo do recorde mundial dos 50m livre, que ainda é do Andre Brasil, de 23s16 (o recorde pessoal de Phelipe é 23s39, em 2018). Acredito que posso colher muito mais frutos e nadar muito mais rápido. Estou treinando. Muita gente me pergunta se nadarei na casa dos 22 segundos já neste ano. Digo que tem de ser este ano. Mas não lido com a mesma pressão do passado. Estou bem mais confiante e sei que, na hora certa, vai sair.
QUEM É ELE
Nome
Phelipe Andrews Melo Rodrigues
Nascimento
10/8/1990, em Recife (PE)
Altura e peso
1,82m/75kg
Maiores conquistas
Medalhista de ouro nos 50m livre no Mundial de 2017, prata nos 50m livre e no 4x100m livre, e bronze nos 100m livre e 4x00m medley na Rio-2016, prata nos 50m livre e no revezamento 4x100m e bronze nos 100m livre no Mundial de 2013; prata nos 100m livre em Londres-2012; ouro no 4x100m livre e 4x100m medley, prata nos 50m, 100m e 400m livre no Parapan de Guadalajara-2011; bronze nos 50m e 100m livre e prata no revezamento 4x100m livre no Mundial de 2010; prata nos 50m e 100m livre em Pequim-2008.