É com um misto de orgulho, gratidão, emoção e de felicidade que Juan Pablo Etchecoin fala sobre João Fonseca. Afinal, foi esse brasileiro, ex-382º do mundo em 1992, quem ensinou os primeiros passos, ou melhor, as raquetadas iniciais do número 1 do Brasil, que estreia, nesta quinta, em torno das 12h (de Brasília), no Masters 1000 de Madri. Em entrevista exclusiva ao Lance!, o pai de Paulo Hugo e Juan Pedro contou algumas curiosidades sobre esse fenômeno do tênis mundial.
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Hoje com 18 anos, o 65º do mundo e campeão do ATP 250 de Buenos Aires, em fevereiro, começou aos 8 a bater uma bolinha.
- João começou a se interessar pelo tênis ainda muito pequeno, quando assistia às aulas da mãe no clube. No finalzinho das aulas dela, ele pedia para entrar e bater bola — e foi ali, de forma espontânea e divertida, que começou a se apaixonar pelo esporte - recorda Etchecoin.
Com o tempo, João Fonseca passou a querer treinar com os grupos de atletas maiores, que faziam parte do Rio de Janeiro Country Club, em Ipanema, onde Etchecoin era o head coach.
- Ele sempre pedia para entrar nas aulas e treinar junto com eles. Os primeiros torneios que ele disputou foram dentro do clube, onde organizávamos competições juvenis por idades. Ele adorava competir, fazia isso com alegria e entusiasmo desde o início.
João Fonseca treinou com Etchecoin dos 8 aos 12 anos, 'um período muito importante de base, tanto técnica quanto emocional', diz o primeiro professor do fenômeno mundial:
- Nessa época, ele treinava diariamente ao lado dos meus filhos, Paulo Hugo e Juan Pedro, e da nossa equipe Etchecoin. Essa convivência intensa com uma equipe forte e unida foi essencial para o crescimento dele. João convivia muito lá em casa. Quando chovia, ia para o nosso play fazer treinos de agilidade e coordenação motora com meus filhos - acrescenta Juan.
Quando não havia quadras disponíveis em outros clubes, os dois chegaram a treinar no Piraquê, na Lagoa.
- E quando implantamos os treinos no Clube Monte Líbano, ele passou a treinar lá diariamente. Foram anos muito intensos, de muito aprendizado mútuo, e acredito que essa fase foi fundamental para consolidar pilares importantes no jogo e na mentalidade do João - destaca o pai de Paulo Hugo e Juan Pedro.
Guilherme Teixeira, um segundo pai para João Fonseca
No dia 22 de dezembro, horas após conquistar o NextGen Finals, em Jidá, na Arábia Saudita, durante entrevista coletiva on-line, João Fonseca foi perguntado, pelo Lance!, a importância do técnico Guilherme Teixeira, com quem trabalha desde os 12 anos. A resposta foi: 'Ele é como um segundo pai pra mim'.
E a parceria deles dois é elogiada por Etchecoin:
- Tenho muito respeito pelo Guilherme Teixeira e pela trajetória dele. Acompanho o trabalho que ele vem fazendo com o João e vejo uma continuidade muito positiva. O Guilherme tem conseguido manter a essência do João em quadra — essa leveza, criatividade e agressividade — ao mesmo tempo em que vem ajustando aspectos técnicos e táticos para o nível profissional. É um treinador que entende o perfil do atleta que tem em mãos e sabe como potencializá-lo. O João parece muito confortável e confiante com ele, e isso é um ótimo sinal.
E o que mais impressiona Etchecoin, no jogo do número 1 do Brasil, hoje em dia?
- A capacidade que o João tem de jogar solto mesmo nos momentos de maior pressão. Ele consegue manter a criatividade, a ousadia e a agressividade, sem perder a consistência. É um jogador que busca o protagonismo em quadra e tem uma leitura de jogo cada vez mais madura.
Leveza contagiante
Nas palavras de quem conhece, desde a infância, o mais jovem brasileiro campeão de ATP na Era Aberta (desde 1969), o número 1 do país é, fora das quadras, a mesma pessoa que encanta dentro delas:
- O João sempre foi um garoto leve, irreverente e muito divertido. Fora das quadras, ele é exatamente o que aparenta dentro delas: alegre, espontâneo e com um carisma natural. Cresceu muito e se divertia demais dentro da nossa equipe, pois tinha amigos e rivais que treinavam juntos, competiam entre si, mas sempre torciam uns pelos outros. Esse ambiente saudável de amizade e competição contribuiu muito para a formação pessoal e esportiva dele. A leveza dele contagia — e ele sempre fez questão de manter isso por perto.
Ver seu ex-pupilo conquistar feitos como vencer um top 10 em sua estreia em Grand Slams (o russo Andrey Rublev, no Aberto da Austrália, em janeiro), saborear a primeira vitória em um ATP aos 17 anos enche o fundador da Etchecoin Tennis de boas lembranças:
- É uma emoção imensa. Cada conquista dele me traz de volta momentos da infância, dos treinos, das risadas, da diversão e do companheirismo que ele viveu com a nossa equipe. Ver o João conquistando espaço no cenário mundial é como ver um sonho coletivo ganhando forma. É muito especial.
Alegria e autenticidade
Entre tantas emoções, o que mais orgulha Etchecoin, sobre o trabalho que desenvolveu com o número 1 do Brasil?
- É ter contribuído para que ele mantivesse o amor pelo jogo. Ter feito parte da formação de um atleta que encontrou o equilíbrio entre a dedicação e o prazer em competir é algo muito gratificante. Sempre fui exigente com todos os meninos da equipe e estabeleci regras claras, que ajudavam não só no rendimento esportivo, mas também na formação de valores. O João soube absorver muito bem isso, e hoje carrega consigo essa base sólida de disciplina, respeito e comprometimento. Ver que ele continua jogando com alegria e autenticidade me dá a certeza de que plantamos boas sementes lá atrás.
Nos últimos meses, alguns dos maiores nomes do tênis mundial não pouparam elogios a João Fonseca. Como o sérvio Novak Djokovic, o espanhol Carlos Alcaraz, o americano André Agassi e o alemão Boris Becker. Pelo que o carioca nascido em Ipanema já vem demonstrando, apesar da pouca idade, muitos preveem que ele seguirá sua escalada no ranking. O pupilo de Guilherme Teixeira começou o ano de 2024 como o 730º do mundo e, hoje, é o 65º. E já disse em entrevistas que quer ser o número 1 do mundo e ganhar Grand Slams.
Etchecoin sabe que o filho caçula do casal Roberta e Christiano Fonseca está no caminho certo para isso:
- Acredito que o João tem potencial para chegar entre os melhores do mundo. Ele reúne talento, físico, mentalidade e, principalmente, uma identidade própria como jogador. Se mantiver a cabeça no lugar e o corpo saudável, não vejo limites reais para onde ele pode chegar.
Juan Pablo Etchecoin e João Fonseca em treino no último dia 17 (Arquivo pessoal)