‘Espero menos revolução’, diz Torben sobre cargo na federação de vela
Eleito um dos vices da World Sailing nos próximos quatro anos, brasileiro critica gestão que deixará comando em 2016 e teme que a falta de investimento no Brasil desestimule jovens
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Torben Grael tem recebido cumprimentos e desejos de boa sorte por onde circula. Afinal, o cinco vezes medalhista olímpico está pronto para encarar sua mais nova tarefa no universo da vela.
Em 2017, ele será um dos sete vice-presidentes da Federação Internacional, a World Sailing, cargo para o qual foi eleito em novembro, na chapa do dinamarquês Kim Andersen.
Crítico às tentativas de mudança no formato do esporte para torná-lo atrativo à televisão e preocupado com o investimento que o Brasil terá rumo a Tóquio-2020, o paulista de 56 anos falou ao L! sobre as suas prioridades no novo cargo.
LANCE!: Qual é a importância de um brasileiro no cargo de vice-presidente da World Sailing?
Torben Grael: Tem toda uma repercussão. É interessante, mas não é essa a minha preocupação. O que me preocupa é a destinação das ações da Federação Internacional, que as decisões sejam tomadas de uma forma mais serena, com uma linha evolutiva progressiva. Antes, era cada hora de um jeito, com muitos desmandos, muita bagunça. O esporte vive bom momento. A principal razão para estarmos lá é o objetivo de acalmar as coisas, com menos revolução e mais estabilidade. É o que importa.
L!: Em relação à estabilidade, uma medida que você defendia era a da manutenção das classes da Rio-2016 para Tóquio-2020. Como foi esse processo?
T: A manutenção já está definida. Serão as mesmas classes da Rio-2016. Haverá uma diferença apenas em relação ao número de participantes em cada uma. Hoje, temos muito mais homens do que mulheres, e o Comitê Olímpico Internacional (COI) solicita que haja igualdade maior entre os gêneros. No Laser, há muito mais homens, por exemplo. Isto irá mudar. Temos duas propostas que votaremos na próxima reunião do Conselho. Até o fim do ano que vem, definiremos as classes para 2024, justamente para que haja tempo de os países se adaptarem a eventuais mudanças. Elas não necessariamente irão acontecer, mas é preciso ao menos sete anos caso ocorram, não três.
L!: A World Sailing chegou a considerar incluir o kitesurf em Tóquio...
T: Devemos colocar o kitesurf como evento de demonstração. Seria uma medalha a mais, mas que não entra na contagem do evento em si. É diferente do que tirar uma classe para colocar kite. Desta forma, é interessante. A manutenção era um acordo de 2013, quando a atual gestão assumiu. Eles tentaram dar uma pernada, mas depois acabaram mantendo.
L!: Em que outros fatores acha que tem de haver estabilidade?
T: Formato de competições, por exemplo. O pessoal viaja muito em relação a isto. Se olhamos para os esportes mais bem sucedidos, vemos que eles mudam pouco. É o caso do tênis. Dizem que as regatas são grandes para a transmissão das televisões. Mas o tênis tem jogo que dura cinco horas, e o público assiste. O problema não é a duração, mas o quanto o esporte se mostra interessante. Entendemos que a OBS, responsável pela filmagem na Olimpíada, não fez um bom trabalho. Tivemos regatas espetaculares, com paisagens maravilhosas fora da Baía, que eles não filmaram. Não se pode dizer que o esporte não é bom para a mídia se você não filma o que é bom. Houve uma diferença grande de percepção dentro e fora do Brasil. Para o exterior, mandaram as imagens, mas cada país fazia sua transmissão. Aqui, tinha o Lars (Grael), o Bruno Prada e o Marcelo Ferreira comentando. Mesmo quem não entende nada de vela, entendeu o que estava acontecendo. A transmissão aqui foi um sucesso, e lá fora, não. Antes de querer revolucionar o esporte, tem de vendê-lo da melhor forma possível.
L!: Há uma discussão sobre aumentar a importância da medal race (regata da medalha). O que pensa sobre?
T: O pessoal quer que tudo seja decidido na medal race para ficar mais emocionante, mas então tudo o que foi feito antes não vale nada? Vela não é corrida de 100m rasos. Se você fizer dez regatas, é provável que haja dez resultados diferentes. Não é matemático, como atletismo e natação. É preciso tirar uma média, e que o melhor ganhe. Se um velejador garantir o resultado antes, o que vem sendo criticado, é porque mereceu.
L! Você continua como técnico-chefe da Seleção? Acumulará as funções?
T: Sim. Em algumas áreas, há conflitos de interesse. Então, já declaramos quais são, para evitar problemas. A Alemanha também tem esta situação. Em relação às classes também, pois há familiares velejando de 49er, como a Martine e o Marco. Então, obviamente, você não pode participar de certas decisões. Muitas discussões serão feitas por e-mail. Depois da última reunião, em Doha (QAT), já chegou um monte de mensagem (risos).
L!: O que projeta para o Brasil no próximo ciclo diante do corte de verbas para as confederações?
L!: Temos mudanças no Comitê Olímpico do Brasil (COB) e no Ministério do Esporte, e não renovamos com nosso patrocinador ainda. Obviamente, é um momento de transição. A Olimpíada não será no Brasil, o que era um facilitador. Pelo contrário, será do outro lado do mundo, o que para nós, da vela, é complicado. Exigirá bastante. Será uma Olimpíada muito mais cara.
L!: Prevê uma renovação do time ou manutenção da equipe que foi ao Rio?
T: Apoiamos duas equipes por classe no ciclo passado. Isto sinaliza para os jovens que a vaga olímpica não é impossível. Na 49erFX, temos a dupla campeã olímpica e campeã mundial. Quem for começar agora, vai falar “eu nunca vou conseguir”. Se pudermos apoiar dois, os mais novos dirão: “talvez eu não ganhe da Martine (Grael) e da Kahena (Kunze), mas posso ficar com a segunda vaga”. Não sabemos. Só acontecerá se tivermos condições de manter. Sem isso, não acontece renovação.
L!: O critério para a corrida olímpica de 2020, em que a Confederação Brasileira de Vela (CBVela) define os convocados a partir da análise dos resultados no ciclo, será mantido?
T: É uma questão que o Conselho Técnico ainda irá resolver. Acho que funcionou bem. Houve poucos problemas. Nenhuma classe foi definida por indicação, mas por resultados em competições. Em poucas classes, 470 e 49er, tivemos alguma dificuldade para definir quem seriam os convocados.
QUEM É ELE
Nome
Torben Schmidt Grael
Nascimento
22/7/1960, em São Paulo
Conquistas
Medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996 e Atenas-2004, na classe Star; prata em Los Angeles-1984, na Soling; bronze em Seul-1988 e Sydney-2000, na Star; quatro vezes campeão mundial (1978, 1983 e 1987, na Snipe, e 1990, na Star); ouro no Pan-Americano de Caracas-1983, na Soling; campeão da Américas Cup-2000 e vice em 2007; campeão da Volvo Ocean Race em 2008 e bronze em 2006.
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