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Rafaela associa doping a brincadeira com bebê e afirma que é inocente

Campeã olímpica testou positivo para substância usada no tratamento de asma durante o Pan, mas voltou a ser examinada no Mundial, duas semanas depois, e não houve alteração

Coletiva Rafaela Silva
imagem cameraRafaela Silva deu sua versão para o caso de doping em coletiva no Rio de Janeiro (Foto: Jonas Moura/Lance!)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 20/09/2019
15:46
Atualizado em 23/09/2019
02:52

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A judoca Rafaela Silva acredita que o resultado analítico adverso para Fenoterol, substância proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada), detectado durante os Jogos Pan-Americanos de Lima pode estar relacionado a uma brincadeira com um bebê. Nesta sexta-feira, ela defendeu sua inocência em coletiva na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

A carioca contou que, no dia 4 de agosto deste ano, teve contato com Lara, de sete meses, filha da judoca Flávia Rodrigues. Ela teria deixado a criança chupar seu nariz, uma brincadeira que costuma fazer com seus sobrinhos. Essa pode ser a chave para explicar o problema. O Fenoterol tem efeito broncodilatador e é utilizado no tratamento de doenças respiratórias, como a asma. A menina ingere um medicamento que o contém.

A substância é vetada pela Wada, pois provoca aumento de performance, uma vez que permite melhor troca gasosa entre o sangue e o pulmão. O teste que trouxe dor de cabeça para a judoca foi feito no dia 9 de agosto, quando ela conquistou o ouro no evento continental, na categoria até 57kg. Mas esta não era a prioridade de Rafaela, já que o Pan não conta pontos na corrida olímpica.

– Eu tenho a mania de deixar as crianças chuparem meu nariz. Descobri que uma delas com quem tive contato fez o uso (da substância), então pode ser um dos motivos. Nunca imaginei que isto pudesse acontecer – disse Rafaela, ao lado do ex-judoca Flávio Canto, do Instituto Reação.

A brasileira contou que ficou sabendo do resultado um dia antes de entrar no tatame do Campeonato Mundial, que aconteceu em Tóquio, no final de agosto, este sim valendo na corrida olímpica. Por ter ido ao pódio, ela ficou entre os alvos do controle antidoping e voltou a ser testada no dia 29 daquele mês. Todos os exames deram negativo. Na ocasião, Rafaela levou dois bronzes, um no individual e outro por equipes. 

– Tudo isso me fortaleceu. Coloquei na cabeça que tinha de subir no pódio para ser sorteada para o antidoping e, assim, provar que não tive culpa. Isso é mais uma batalha na minha vida e me fortalecerá ainda mais – falou Rafaela, que não escondeu o desconforto com a situação, mas mostrou-se confiante na tese.

– Nenhum atleta se prepara para passar por um momento como esse. Tomo cuidados, mas estou aqui para dar minha cara a tapa. Não tenho nada a esconder. Não tomo remédios nem bebida alcoólica. Sempre tive cuidados. Não pego garrafinha de ninguém, deixo tudo trancado na mala para ninguém ter acesso. Estou na mira da Wada desde 2009 e sempre fiz meus testes sem preocupação – disse a campeã olímpica na Rio-2016.

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Para especialista, tese da defesa é plausível

O bioquímico L.C. Cameron, que compõe a equipe de defesa da atleta, afirmou que a tese é perfeitamente plausível e tranquila de ser defendida. 

– Como o fenoterol tem meia-vida (tempo necessário para que a substância no sangue se reduza à metade) bastante curta, não há incompatibilidade em relação aos dois resultados (positivo no Pan e negativo no Mundial). É um broncodilatador, extremamente usado no dia a dia. É muito tranquilo considerar que uma criança que acabou de fazer nebulização levou à exposição. Como houve o contato com as vias aéreas, é plausível. As janelas de tempo e as quantidades que temos até agora parecem ser coerentes com a tese. Ela é tranquila de ser defendida – disse Cameron.

Como ingeriu uma substância categorizada como "especificada", ou seja, que não tem necessariamente relação com ganho de performance, Rafaela não foi suspensa preventivamente e está livre para competir. Até o momento, também não perdeu nenhuma medalha.

O advogado Bichara Neto explicou que cabe agora à Federação Internacional de Judô (IJF) analisar o caso e decidir se aplicará ou não uma suspensão. Se ela for considerada culpada, pode pegar gancho de até dois anos, o que a tiraria dos Jogos de Tóquio. 

– A suspensão não é obrigatória. Sustentaremos que ela não deve ser suspensa preventivamente. Ela vai mostrar que não usou com culpa. No momento, o único processo iniciado foi perante o Pan. Aguardaremos a IJF abrir o prazo para ela se defender – disse.

A substância encontrada em Rafaela é que a mesma que levou a nadadora Etiene Medeiros a responder por doping, em 2016. Na ocasião, a pernambucana, que sofre de asma, foi considerada inocente e conseguiu disputar a Olimpíada do Rio.

Os próximos desafios de Rafaela na temporada são o Grand Slam de Brasília, o Mundial Militar, o Grand Slam do Japão e o World Masters.

A Confederação Brasileira de Judô (CBJ) expressou total apoio à judoca. Dirigentes e colegas também se mostram confiantes em uma absolvição.

"A Confederação Brasileira de Judô vai acompanhar de perto o andamento do processo legal referente ao resultado analítico adverso revelado pela judoca Rafaela Silva em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, 20. Rafaela é uma das maiores judocas do Brasil, exemplo de superação dentro e fora dos tatames. A CBJ prestará o apoio que lhe cabe e que for necessário para a resolução do caso", informou a entidade, em nota oficial.

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