Para os dirigentes do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), há uma distinção clara entre expectativas e projeções para os Jogos Parapan-Americanos de Lima, que começam nesta quinta-feira (a abertura acontece na sexta).
A entidade deseja que o Brasil não apenas se mantenha na liderança no quadro geral de medalhas, como nas últimas três edições, mas quebre o número de 109 ouros obtidos em Toronto-2015. No entanto, evita cravar se o sonho pode se tornar realidade, diante de imprevistos que têm causado dor de cabeça na capital peruana.
Embora não faltem elogios à receptividade e à estrutura oferecida, há uma percepção entre os membros da delegação brasileira de desorganização na elaboração dos programas de provas, que têm sofrido mudanças diárias às vésperas das competições.
Isso porque, dependendo do número de atletas por classe, algumas disputas deixam de acontecer, e os competidores são realocados em um grupo que nem sempre condiz exatamente com seu nível. Assim, podem enfrentar adversários mais ou menos fortes. A situação não é uma novidade em eventos paralímpicos. A crítica está na falta de planejamento antecipado.
- Um dos problemas que tivemos aqui foi relacionado à organização da programação. Ela está sendo encaminhada muito em cima da hora. Todos os dias chega uma atualização de provas, de cronogramas. Ainda não refizemos a projeção. Fazemos a cada dia. A meta é bater Toronto, mas aprendemos com o tempo que cada grande evento é um diferente. No Canadá, não tivemos todas essas modificações inesperadas. Mesmo assim, ainda estamos otimistas - disse Alberto Martins, diretor técnico do CPB e chefe de missão em Lima.
As classificações no esporte paralímpico existem para permitir um equilíbrio na disputa, uma vez que os tipos e graus de deficiência são distintos entre os esportistas. Mas o CPB é crítico sobre a forma como o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, em inglês) tem tratado do assunto, de modo subjetivo.
Multimedalhista na natação, Andre Brasil não está em Lima, pois foi considerado inelegível por uma banca que o avaliou em abril deste ano. Após 15 anos de carreira, ele ouviu dos avaliadores que há força "moderada" em seu pé esquerdo, e não mais "mínima". Diagnosticado com paralisia infantil aos seis meses de vida, ele cresceu com má formação na perna.
- É sempre um período tenso em relação a esse assunto. Na nossa opinião, ela ainda está muito interpretativa e menos objetiva do que gostaríamos, para que houvesse a maior justeza possível nas competições - afirmou Alberto.
Existe uma preocupação de que outros nomes fortes da delegação brasileira, como o nadador Phelipe Rodrigues (S10), sejam impedidos de competir no Parapan. As avaliações de alguns esportes já começaram. Outras terão início nesta quinta-feira. As provas de natação começam no domingo.
* O repórter viaja a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)