Retrospectiva LANCE!: ano olímpico marca consagração de astros brasileiros após frustrações e esperas

Ana Marcela Cunha, Bruno Fratus, Carol Gattaz e Isaquias Queiroz celebraram glórias depois de muita paciência, e deram exemplo de determinação para as novas gerações

imagem cameraMontagem Lance! Fotos: Jonne Roriz / COB; Miriam Jeske/COB; Jonne Roriz / COB; Divulgação /COB
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 24/12/2021
21:14
Atualizado em 25/12/2021
12:40
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O ano de 2021 foi marcado pela melhor campanha do Brasil na história dos Jogos Olímpicos, em Tóquio, com 21 medalhas. Dentro do seleto grupo de laureados, diversas são as histórias e trajetórias. Mas quatro delas tiveram algo em comum: a longa espera e as batidas na trave até que a glória fosse alcançada. Paciência e determinação marcaram as conquistas do nadador Bruno Fratus, da nadadora de águas abertas Ana Marcela Cunha, do canoísta Isaquias Queiroz e da central Carol Gattaz. O quarteto deu um exemplo para as novas gerações de como lidar com as frustrações e manter um sonho vivo.

Felizão? Agora, sim!

O macaense  Fratus era há anos reconhecido como o maior velocista do Brasil nos 50m livre, prova mais nobre das piscinas. Desde os tempos de Cesar Cielo, ele já se mostrava um nome forte para concorrer no cenário internacional, mas o grito de medalhista estava entalado havia uma década.

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Em Londres-2012, o atleta terminou a prova em quarto lugar. Na Rio-2016, ficou em sexto. Na ocasião, ele ficou marcado por uma entrevista que viralizou, dada ao SporTV ao final da prova. Ao ser perguntado se estava chateado, ele não poupou ironia.

- Não, estou felizão, né. Fiquei em sexto.

Em 2021, cinco anos depois, ele brincou com o episódio ao ganhar a medalha:

- Como dizia o sábio, estou felizão (risos) - disse, à mesma emissora.

Depois de muita paciência, finalmente subiu ao pódio este ano, ao nadar para 21s57 no Estádio Aquático de Tóquio. Na comemoração, não escondeu a emoção e desabou em lágrimas. No currículo, o atleta de 32 anos tinha sete medalhas pan-americanas (sendo cinco de ouro) e outras quatro em Mundiais.

Dias de luta, dias de glória

Outra que se superou com muita paciência foi a baiana Ana Marcela Cunha, da maratona aquática. Ela, que já era gigante no esporte, ficou ainda maior ao confirmar o ouro na prova de 10 km, com o tempo de 1h59m30s8.

A nadadora de 29 anos carregou por anos o peso de um favoritismo que não era confirmado no maior evento esportivo do mundo. Ela ficou na quinta colocação em Pequim-2008, quando despontava como um dos grandes nomes da modalidade. Mas em 2012, nem sequer conseguiu a classificação. Quando a carreira parecia bem estruturada, ela não passou da décima posição na Rio-2016, em um dia em que enfrentou problemas para se alimentar e acabou sofrendo uma queda de rendimento. Na ocasião, Poliana Okimoto ficou com o bronze.

É por isso que Ana elegeu, no Japão, a música "Dias de Luta, Dias de Glória, da banda Charlie Brown Jr., cuja letra ela carrega tatuada no corpo, como a trilha sonora de sua conquista.

- Eu soube lidar muito bem com essas perdas. Não ter conquistado alguns resultados só me deu mais motivo e mais gana para conquistar essa medalha. Pequim foi um aprendizado, Londres foi outro, ser cotada entre as favoritas na Rio 2016, ficar fora do pódio no Campeonato Mundial de Gwangju... tudo isso  serviu como um grande aprendizado para eu estar aqui hoje. Foram momentos importantes da minha carreira, passar por tudo que passei para chegar nessa medalha. Não me incomoda nem um pouco falar disso porque sei do que sou capaz e isso aqui é a prova - disse Ana Marcela, com o ouro em mãos.

Motivação para manter legado vivo

Também no Oceano Pacífico brilhou a estrela de outro baiano: Isaquias Queiroz. Ele, que tinha 12 medalhas em Mundiais, quatro em Pan-Americanos e o recorde entre os brasileiros de três medalhas olímpicas em uma mesma edição dos Jogos, todas na Rio-2016, já era uma das maiores atrações da c ao de canoagem velocidade ao embarcar no Japão. Na verdade, as "batidas na trave" na capital fluminense estiveram longe de significar frustração, diante de toda a luta do brasileiro em um esporte de pouca tradição. Mas é claro que faltava realizar o maior sonho, o de ser campeão olímpico. Uma grande perda, no entanto, poderia ter abalado a manutenção do trabalho de anos.

O técnico Jesús Morlán, que revolucionou a modalidade e guiou o brasileiro na campanha do ciclo do Rio, faleceu em 2018, vítima de câncer. Isaquias e toda a equipe verde e amarela sofreram, mas o baiano encontrou forças para seguir e manter vivo o legado espanhol. Sob o comando do substituto de Morlán, Lauro de Souza, Queiroz alcançou o topo do pódio no C1 1.000m em Tóquio. Com o tempo de 4m04s408, deixou o restante da elite para trás e colocou o Brasil em uma evidência nunca antes alcançada.

No ranking de atletas brasileiros com maior número de medalhas olímpicas, ele agora está atrás apenas dos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, que têm cinco. O baiano aparece empatado com Serginho, do vôlei, e o ex-nadador Gustavo Borges. Aos 27 anos, Queiroz ainda pode alcançar muito mais.

Nas quadras, um sonho que parecia impossível

Aos 40 anos, a central Carol Gattaz se realizou profissionalmente em 2021: disputou os Jogos Olímpicos pela primeira vez e conquistou uma medalha. A jogadora de vôlei foi uma das que mais comemorou a prata em Tóquio, afinal, por quase duas décadas isso pareceu um sonho distante. 

O ápice físico e técnico da paulista de São José do Rio Preto só veio após muitos anos de carreira, lesões, mudanças de mentalidade, maior cuidado com o corpo e uma vontade enorme de figurar entre as melhores. Ela chegou até a largar as quadras por um tempo e se dedicar à carreira de comentarista. 

Apesar de sempre ter se destacado no alto nível, Gattaz sofreu uma concorrência forte nos ciclos olímpicos dos Jogos de Atenas-2004, Pequim-2008, Londres-2012 e Rio-2016, com estrelas do quilate de Walewska, Thaisa, Fabiana, Valeskinha e Adenízia. Em 2008, esteve perto de ir aos Jogos, mas acabou cortada. No fim, acabou trabalhando nas transmissões da Globo na edição chinesa e quatro anos depois, na Inglaterra.

- Estou muito feliz. É muita honra chegar à minha idade como medalhista olímpica. A gente sabe o quanto é difícil chegar em uma final olímpica, muitos atletas já passaram por aqui e não conseguiram chegar em uma final olímpica, então a gente tem que estar muito orgulhosa de onde chegou. Desde o início, todos os problemas que tiveram, todas as dificuldades aqui durante os Jogos, então a gente sai de cabeça erguida. Claro que a gente queria o ouro, a gente sabe que a partida foi atípica, a gente queria ter jogado muito mais, mas a gente sabe o quanto essa medalha significa - disse Carol, ao SporTV.

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