Mais um day off na 8° etapa do Circuito Mundial de Surfe, em Saquarema, no Rio de Janeiro. O mar segue irregular e a entidade máxima que rege o esporte decidiu por um novo dia de folga. A previsão é que uma ondulação em boas condições chegue nesta segunda-feira, dando continuidade ao evento já com os homens na água para a disputa das oitavas de final (as mulheres já estão na fase de semifinal).
Enquanto as baterias não voltam, vamos entender como a cidade da Região dos Lagos virou a Capital Nacional do Surfe? Existe, inclusive, um Projeto de Lei (2.173/2019) no Senado em trâmite para que a alcunha do município vire lei e confirme o que todos já sabem. Mas por que essa região no interior do Rio é tão surfe?
Saquarema foi “descoberta” pelo mundo nos anos 70, quando surfistas da capital Fluminense desbravaram o interior atrás das melhores ondas. O local, à época, era uma vila de pescadores de difícil acesso. Como não existiam registros em imagens naquele
tempo, apenas os olhos guardavam as ondas do pico. Ricardo Bocão, Daniel Friedman, Pepê Lopes, e outros nomes fortes do cenário do surfe acampavam lá por dias.
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A mística do local foi se popularizando. Itaúna com esquerdas longas, com uma pressão d’água diferente dos locais mais conhecidos do país até então. Mas as ondas já tinham sido surfadas por dois saquaremenses: Selmo Aguiar e Abel de “Itaúna”. Nascido e criado em Saquarema, o surfista Nena Matos atrela o pioneirismo e a essência do surfe a Selmo.
- O cara que trouxe a essência do surfe foi Selmo Aguiar. Ele foi o primeiro surfista de Saquarema, local casca grossa. Há registro dele na Praia da Vila com uma onda de 4 metros na sua frente - disse.
Nena acredita também que a troca de experiências entre os locais, a música e os surfistas de fora criaram essa aura de surfe na cidade.
- A gente respira tanto o surfe porque a galera absorveu toda a essência, a história dos primeiros surfistas, da energia da praia. Contagiou tudo. Entrou o surfe e a música. Todos que iam para o Havaí passavam por Saquarema antes. E isso trazia uma energia,
troca de cultura. Nós, nativos, começamos a capitar isso com a nossa força - relatou.
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A música citada por Nena também foi importante por todo esse ar do surfe na cidade. Com a onda hippie dos anos 70, a descoberta de um local com altas ondas e inspiração no festival de música Woodstock, aconteceu o festival “Som, Surf & Sol” na Praia de Itaúna, em 1976. Foram três dias de apresentações de shows que contaram com Rita
Lee, Raul Seixas e outros artistas, e um campeonato de surfe (Festival de Surfe de Saquarema), que rolou junto da música.
O campeão desse torneio foi o carioca Daniel Friedman, que ganhou a vaga para disputar um evento no Havaí. Essa vibe em torno de Saquarema foi moldando o que a cidade é hoje. Um fator importante nessa equação são as ondas, obviamente. Nena comenta que a posição geográfica favorece a qualidade das ondas.
- A gente tem variação de todos os lados. De todos os quadrantes: do vento e das ondulações. Tudo isso nos proporciona as qualidades de onda e o astral do clima. A gente tem uma conexão geográfica e ao mesmo tempo dentro de um ambiente bacana. As ondulações vão chegando de uma tal maneira que não tem igual - completou.
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EVENTOS NA CIDADE
Saquarema recebeu o primeiro campeonato de surfe em 1975, com o Festival de Surfe de Saquarema. O campeonato contou com grandes nomes da modalidade da época e, segundo relatos, o evento aconteceu com um mar de 10 pés (equivalente a 3 m). Os surfistas não usavam cordinha, que foi desenvolvida fora do país no ano anterior e poucos ainda contavam com o acessório.
O 1° campeonato de nível mundial na cidade foi em 1997, válido pelo WQS (“segunda divisão” mundial à época), em Itaúna. O grande campeão do evento foi o cabofriense Victor Ribas, que fez história dois anos depois no Circuito Mundial com uma 3° colocação no ranking final.
Em 2002, a cidade recebera a primeira etapa de nível mundial do WCT, também em Itaúna, vencida pelo australiano Taj Burrow. Depois, Itaúna receberia mais três etapas do Mundial: em 2017, vencida por Adriano de Souza, campeão do mundo de 2015; em 2018, com Filipe Toledo levantando o caneco, feito que repetiu em 2019.
SURFE ELEVA O TURISMO
Ao longo dos anos, o surfe conseguiu “furar a bolha” e hoje é considerado um esporte nacional, muito por conta do alto nível dos atletas brasileiros e os títulos conquistados. Além disso, de acordo com a Prefeitura de Saquarema, o Rio Pro 2022 também fomenta o turismo na cidade. A estimativa é que cerca de 65 mil pessoas acompanhem a etapa. pelo campeonato. Ainda segundo a prefeitura, a ocupação hoteleira nos arredores da Praia de Itaúna é de 100%.
PANORAMA
A expectativa da organização é pela retomada da competição na segunda-feira, a partir das 7h15 (horário de Brasília), com a fase de oitavas de final do masculino. Nove representantes do Brasil seguem na briga pelo título, sendo oito homens e uma mulher, Tati Weston-Webb, já classificada para a semifinal no feminino.