Toledo, na ponta, e Medina, com dom da reação, travam batalha na França

Com dois triunfos até agora, brasileiros enfrentam uma disputa intensa nas três etapas que faltam para o fim da temporada do WCT. Próximo desafio acontece em Hossegor, na França

imagem camera(Foto: Divulgação)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 14/09/2018
18:13
Atualizado em 03/10/2018
16:32
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A etapa de Hossegor, na França, do Circuito Mundial de surfe (WCT), que começa nesta quarta-feira, será decisiva para as pretensões de Filipe Toledo, líder do ranking, e Gabriel Medina, segundo colocado, que defende o título no local. Enquanto um tenta manter a vantagem na corrida pela taça inédita, o outro quer confirmar o dom da reação a caminho do sonhado bicampeonato.

A Liga Mundial de Surfe (WSL) adiou o início do evento masculino nesta quarta-feira, devido às más condições das ondas. Somente as mulheres foram para a água. A próxima chamada será nesta quinta-feira, às 3h30 (de Brasília). A janela vai até 14 de outubro.

Com dois triunfos no ano, os amigos travarão um duelo intenso nas três etapas que restam para o fim da temporada. Até agora, foram oito eventos, e o Brasil esteve no topo do pódio em sete. Filipe levou a melhor em Saquarema (RJ) e Jeffreys Bay (AFS), e vem de um vice no Surf Ranch Pro, em Lemoore (EUA). Gabriel venceu em Teahupoʻo (TAI) e repetiu o feito na última disputa. 

– Sigo tentando me concentrar apenas em mim mesmo, em fazer meu trabalho bem feito para manter uma boa distância sobre os demais – afirmou Filipe.

Hoje, 4.100 pontos separam os concorrentes. O primeiro soma 49.785, enquanto o segundo aparece com 45.685. Medina é o único que pode tirar a lycra amarela do compatriota na próxima etapa. Mas, para isso, terá de chegar às quartas de final em Hossegor. Se Toledo passar uma bateria, Medina precisará ser semifinalista. Filipe se garantiria na ponta se também passasse para as semifinais, mesmo que Medina vença o evento.

"As ondas nesses três lugares são pesadas. O Filipe é bem leve e isso dá uma certa vantagem ao Gabriel. Mas não basta só o Gabriel vencer. O Filipe teria que perder cedo pra haver a virada. Aí é que está o impasse."

– Entre o Gabriel e o Filipe, nós percebemos algumas diferenças, como a frieza e a velocidade. Acho o Filipe mais rápido, mas o Gabriel é mais frio e calmo na hora que precisa. Por causa disso, todo mundo pode estar pensando que o Gabriel vira o jogo nas últimas etapas. Porém, o Filipe nunca esteve tão perto do título mundial, e não vai dar mole igual já fez no passado, apenas por ser jovem e não ter maturidade para lidar com tanta pressão psicológica. Ele já é pai e amadurece a cada hora. Isso não impede o Gabriel e sua autoconfiança quase imbatível – disse Teco Padaratz, bicampeão mundial do WQS, ao LANCE!

A ausência do havaiano John John Florence do WCT, atual bicampeão mundial, devido a uma lesão no joelho, deixou o caminho livre para Filipe e Gabriel. O australiano Julia Wilson, em terceiro, ficou mais longe da briga ao terminar a última etapa em quinto lugar. Por enquanto, ele foi o único surfista não brasileiro a vencer uma etapa, na abertura do campeonato, em Gold Coast (AUS). Italo Ferreira, quarto colocado, está a quase 20 mil pontos de Toledo. 

– É bom sentir que estamos no mesmo nível dos outros caras. Temos mais três eventos pela frente para fechar o ano e espero seguir neste ritmo até o fim – falou Medina, que em 2014 se tornou o primeiro brasileiro a faturar o WCT.

Retrospecto final favorece Medina

A reta decisiva da temporada será um teste para Filipe Toledo. Isso porque do outro lado estará um surfista acostumado a reagir nesta fase do campeonato (veja mais abaixo). No ano passado, por exemplo, Gabriel teve uma arrancada no final da competição, que o ajudou a conquistar o vice-campeonato. Filipe, por sua vez, não tem retrospecto tão positivo nas ondas mais pesadas.

– As ondas nesses três lugares são pesadas. O Filipe é bem leve e isso dá uma certa vantagem ao Gabriel. Mas não basta só o Gabriel vencer. O Filipe teria que perder cedo pra haver a virada. Aí é que está o impasse. Tendo a pensar que o Filipe está mais forte de cabeça e físico esse ano. Mais centrado e confiante. Muito mais solto e preciso. Sinceramente, fico em cima do muro nessa – analisa Padaratz, que aponta o que pode ser a grande decisão do ano:

– Tudo acaba sendo decidido no Havaí. Lá, o Gabriel dá as cartas. Dependendo de quem estiver na frente, poderemos até ter um palpite. Ou seja, se o Filipe ainda estiver na ponta, pode dar Filipe, ou o Gabriel vira. Mas se o Gabriel chega no Hawaii na frente, acho difícil o Filipe virar.

Com a palavra
Teco Padaratz

É um ano especial aos brasileiros. Mas não pense que isso “aconteceu” com a gente. Foram os próprios atletas que escreveram esta história. Eles praticamente construíram um novo código de julgamento. O que estão fazendo nas ondas está indo além dos livros de regra de julgamento. Em especial o Gabriel e o Filipe, que têm dado as cartas este ano. Com a saída do John John Florence, não sobrou ninguém que estivesse à altura destes dois atletas. Talvez o Italo (Ferreira) e o Julian (Wilson) estejam acompanhando o surfe do Gabriel e Filipe de perto, mas não chegam ao mesmo nível ainda.

O retrospecto dos favoritos na reta final

2017
Enquanto Gabriel Medina conseguiu uma arrancada decisiva nas últimas três etapas para assegurar o vice-campeonato, com dois primeiros lugares (Hossegor e Peniche) e um quinto (Pipeline), Filipe acumulou nas mesmas ondas seus piores resultados na temporada: três 25º lugares em sequência. Ele encerrou o ano na 10ª posição geral. O campeão geral foi John John Florence.

2016
Gabriel mandou bem, como de costume, em Hossegor, com um vice-campeonato. Mas não repetiu o desempenho em Peniche e Pipeline, onde foi 13º colocado. No fim, encerrou o ano em terceiro lugar. Filipe acumulou um quinto lugar em Hossegor, um 13º em Peniche e um nono em Pipeline. E ficou em 10º no Circuito. O campeão geral foi John John Florence.

2015
A sequência final de Medina foi positiva: campeão em Hossegor, quinto em Peniche e vice em Pipeline. No fim, terminou a temporada em terceiro. Já Toledo teve um encerramento de ano de altos e baixos. Foi 25º em Hossegor, campeão em Peniche e 13º em Pipeline. O título na França o ajudou a garantir a quarta colocação geral. O campeão geral foi Adriano de Souza.

2014
O fim de ano de Medina, que conquistaria o primeiro título mundial do Brasil no WCT, teve um quinto lugar em Hossegor, um 13º em Peniche e um vice em Pipeline. Filipe, por sua vez, ficou em nono no primeiro evento, e em quinto nos dois últimos. Ele encerrou a temporada na 17º colocação.   

Confira as baterias da primeira fase masculina da etapa de Hossegor
1.a: Jordy Smith (AFR), Ezekiel Lau (HAV), Matt Wilkinson (AUS)
2.a: Owen Wright (AUS), Sebastian Zietz (HAV), Joan Duru (FRA)
3.a: Italo Ferreira (BRA), Yago Dora (BRA), Keanu Asing (HAV)
4.a: Julian Wilson (AUS), Frederico Morais (PRT), Wiggolly Dantas (BRA)
5.a: Gabriel Medina (BRA), Tomas Hermes (BRA), Ryan Callinan (AUS)
6.a: Filipe Toledo (BRA), Connor O´Leary (AUS), Jorgann Couzinet (FRA)
7.a: Wade Carmichael (AUS), Adriano de Souza (BRA), Miguel Pupo (BRA)
8.a: Kolohe Andino (EUA), Adrian Buchan (AUS), Ian Gouveia (BRA)
9.a: Kanoa Igarashi (JPN), Michael Rodrigues (BRA), Patrick Gudauskas (EUA)
10: Michel Bourez (TAH), Griffin Colapinto (EUA), Jessé Mendes (BRA)
11: Mikey Wright (AUS), Conner Coffin (EUA), Michael February (AFR)
12: Jeremy Flores (FRA), Willian Cardoso (BRA), Joel Parkinson (AUS)

Confira as baterias da primeira fase da disputa feminina em Hossegor
1.a: Caroline Marks (EUA), Nikki Van Dijk (AUS), Bronte Macaulay (AUS)
2.a: Carissa Moore (HAV), Coco Ho (HAV), Paige Hareb (NZL)
3.a: Stephanie Gilmore (AUS), Sage Erickson (EUA), Vahine Fierro (TAH)
4.a: Lakey Peterson (EUA), Courtney Conlogue (EUA), Pauline Ado (FRA)
5.a: Tatiana Weston-Webb (HAV), Malia Manuel (HAV), Macy Callaghan (AUS)
6.a: Johanne Defay (FRA), Sally Fitzgibbons (AUS), Keely Andrew (AUS)

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