Ucraniana no Brasil, técnica que trabalhou com Daiane dos Santos abre o coração ao LANCE!

Atualmente em Curitiba e nascida em Dnipro, Iryna Ilyashenko é treinadora e coordenadora da Seleção de Ginástica Artística Feminina; Iryna está no Brasil desde 1999

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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 02/03/2022
10:55
Atualizado em 30/07/2024
15:41
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A comunidade ucraniana no Brasil, formada por pessoas nascidas na Ucrânia e seus descendentes, é representada por cerca de 600 mil pessoas. Atualmente em Curitiba (PR) e nascida na Ucrânia, Iryna Ilyashenko é treinadora e coordenadora da Seleção de Ginástica Artística Feminina, tendo vindo para o Brasil em 1999. Iryna, ao lado do também ucraniano e técnico Oleg Ostapenko, revolucionou a ginástica brasileira, sendo fundamental nos crescimentos de Daiane dos Santos e Daniele Hypólito. Com a invasão da Rússia à Ucrânia, Iryna está com o coração partido. Em conversa com o LANCE!, a técnica deu voz ao seu sentimento: "Que operação é essa que eles (russos) destroem um país?"

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Iryna Ilyashenko é natural de Dnipro, quarta maior cidade da Ucrânia, com um milhão de habitantes, e se naturalizou brasileira. Quando Iryna nasceu, a Ucrânia era parte da União Soviética. Ela foi atleta da ginástica quando jovem, mas não chegou a defender a seleção da União Soviética. Na adolescência de Iryna, russos e ucranianos viviam juntos, sob a mesma bandeira. Agora, o cenário é de preocupação com os amigos  que estão na Ucrânia.

Iryna demonstrou preocupação com futuro e criticou ataque russo

LANCE!: Como você vê os efeitos do conflito para o esporte ucraniano?

Iryna Ilyashenko: Isso não é um conflito, isso é uma guerra. Uma guerra onde o povo ucraniano levantou alma e coração, lutando contra uma agressão. Os ginásios estão fechados na Ucrânia, ninguém pode trabalhar. Não tenho dúvidas que tenham as treinadoras "loucas" que ficam fazendo preparação física no metrô, onde atletas ficam, crianças ficam (para se proteger dos bombardeios). Essa é a nossa vida. Os jogadores de futebol estão lá defendendo a capital (Kiev), estão com armas na mão.

L!: Em um contexto global, como essa guerra pode afetar o calendário esportivo mundial?

Estou com muitas dúvidas. Ontem ou anteontem, Putin (presidente da Rússia) estava falando em paz. Agora, aviões não podem voar por cima da Rússia e nem da Ucrânia. Então, para mim, estamos praticamente na porta da Terceira Guerra Mundial. Alguma palavra errada ou algum tiro errado pode começar a Terceira Guerra. Putin já ameaçou o mundo com um alerta nuclear. Escutando muito as matérias publicadas, não tenho dúvidas de que uma hora ele pode apertar um botão e começar isso.

L!: A guerra pode chegar nos ginastas que você tem contato na Ucrânia?

"Acho que essa situação (da guerra) vai chegar em todo mundo (todos os atletas), seja de forma maior ou menor."

Acho que essa situação (da guerra) vai chegar em todo mundo (todos os atletas), seja de forma maior ou menor. Ucranianos estão agora competindo em Doha (capital do Qatar). Aí eu penso como que eles vão voltar. Não tem nenhum voo, não tem nenhuma possibilidade de voltar para casa, e tem crianças com 16 anos, bem novas, que estão competindo em Doha. Então, é muito difícil falar sobre esse assunto. Todo mundo vai ser atingido, um pouco mais ou um pouco menos.

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L!: Referente a contatos, existem atletas e membros esportivos na Ucrânia que você esteja ligada neste momento?

"Antes, mandava um bom dia, um bom café e uma florzinha. Agora a gente pergunta se sobreviveu ou se não sobreviveu."

Não tenho família lá, mas tenho muitos amigos, todos são do esporte. Agora de manhã, pego o celular e pergunto como que passaram a noite. Antes, mandava um bom dia, um bom café e uma florzinha. Agora a gente pergunta se sobreviveu ou se não sobreviveu. Uma amiga que deu muito para o esporte está lá em Kiev, escondida no metrô, sofrendo esses ataques. Ela não pode nem me mandar mensagem. No máximo ela me manda é uma flor. A flor que significa que está tudo bem. Então é muito triste tudo isso. Tem pessoas sofrendo. Eles atacaram um hospital enorme que era para as crianças, em Kiev. Nossas mães ucranianas estão perdendo filhos.

L!: Como é sua relação com os russos?

Já perdi muitos amigos russos. Sei que lá é difícil e ainda tem uma guerra de informações, porque eles não sabem a realidade. Estão falando que estamos (ucranianos) bombardeando nós mesmos. Esses dias, li sobre um atleta da patinação artística da Ucrânia que não cumprimentou patinadores russos. Eu, inicialmente, pensei que ele estava errado nisso. Hoje penso que ele fez certo.

L!: Você acredita serem justas as medidas tomadas, no âmbito do esporte, contra atletas e equipes russas?

Antes disso acontecer, eu achava que esporte é era uma coisa e política era outra. Mas mudei totalmente meu pensamento, e acho que é justo sim (punir a Rússia no esporte). Todo mundo tem que pagar, porque eles ficam quietos. Não achava justo competirem sem bandeira e sem hino por causa dos casos de doping, mas, agora com a guerra, eu acho que a Rússia tem que pagar pela invasão que fez. Que operação é essa que eles destroem um país? Eles atacaram grandes cidades, lugares com o esporte super forte. Deixaram quase tudo destruído. Como pode acontecer isso? Eles têm que pagar por isso.

* Sob supervisão de Vinícius Perazzini

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