A importância dos valores olímpicos no desenvolvimento social foi abordada por diversos profissionais do esporte e líderes dos Comitês Olímpico e Paralímpico do Brasil no VIII Seminário de Gestão Esportiva FGV/FIFA/CIES, realizado neste sábado, no Rio de Janeiro.
Um dos projetos de grande relevância citados pelos palestrantes, chama-se Transforma, que foi criado a partir de uma parceria entre o Comitê Rio 2016 e o Ministério da Educação - com continuidade após o fim dos Jogos - e é responsável pela promoção dos valores olímpicos, que contribuem para a formação integral da criança e do adolescente através da realização de atividades esportivas, educativas e culturais. As ações acontecem em escolas e ONGs e têm o objetivo de promover a temática Olímpica para o Social.
Admirador de projetos que envolvem a responsabilidade social no esporte, o apresentador do Seleção SporTV, Marcelo Barreto, enalteceu o trabalho realizado por voluntários, mas lamentou uma realidade marcante no país: mesmo com grande capacidade, jovens atletas que moram em cidades pouco populosas acabam não sendo vistos, o que interrompe a evolução dos mesmos no esporte. Como exemplo de superação nesta realidade, o apresentador citou o medalhista olímpico Isaquias Queiroz, nascido em Ubaitaba (BA), que atualmente disputa o Mundial de Canoagem em Portugal e conquistou o tricampeonato mundial na prova C1 500m na última sexta-feira, além de ter levado o bronze no C1 1000m neste sábado.
- O Isaquias surgiu de um projeto social que durou nove meses e precisou encerrar as atividades porque uma das prefeituras envolvidades teve problemas na prestação de contas. O Isaquias, já campeão sul-americano, estava trabalhando na feira até que os amigos se juntaram para fazer uma vaquinha, coisa de cinquenta reais, para que ele pudesse deixar o trabalho paralelo para se dedicar ao esporte. Ali já estávamos falando de um atleta consolidado que precisou de uma vaquinha para ir a diante. Quantos Isaquias estão por aí? Na própria cidade de Ubaitaba têm muitos garotos que já sabem remar, mas falta investimento para evoluírem na técnica. Me preocupa que sete dos candidatos a presidência não mencionam o programa de esporte no seu governo. Perdemos ao não olhar para o esporte de base.
Talk To Your Idol - Rede de relacionamento para atletas e fãs
Presente em duas edições dos Jogos Olímpicos, a velejadora Isabel Swan falou sobre a importância que atletas consolidados têm na formação e desenvolvimento de crianças. Avaliando o acesso dos jovens aos ídolos como fator motivacional, a atleta citou a relevância dessa aproximação e apresentou uma ideia para torná-la mais fácil: a criação de uma rede de relacionamento chamada “Talk To Your Idol”, formada por atletas profissionais e amadores. De acordo com a velejadora, muitos esportistas já aderiram a ideia e, juntos, somam mais de 30 medalhas em aproximadamente 10 modalidades olímpicas.
Uma das funções do aplicativo é promover o contato entre as partes através de chamadas de vídeo que poderão ser agendadas e devem funcionar como um momento de interação em que o ídolo dará um pouco de sua atenção ao atleta em desenvolvimento.
- O intuito da plataforma, que ainda está em fase de protótipo, é conectar através do esporte, fazendo uma ligação sem barreiras entre os ídolos e os fãs.
Outro velejador que marcou presença do evento foi Samuel Gonçalves, que hoje é a dupla de Lars Grael - com quem se tornou campeão mundial em 2015 e vice-campeão europeu da classe Stars na última semana - mas já foi aluno do Projeto Grael, organização sem fins lucrativos, que oferece educação através de iniciação esportiva, profissionalizante e incentivo escolar. Atualmente o velejador é campeão brasileiro e estadual, mas precisou driblar grandes dificuldades nos seus primeiros passos.
- Minha história no esporte começou em 2001, quando o Projeto Grael (1998) ainda estava no início. Para divulgar o esporte da Vela, que ainda hoje pouca gente conhece, os membros do projeto palestravam nas escolas públicas, levavam barquinhos para explicar como fucionavam e eu fui lá no projeto com mais dois amigos, me apaixonei pelo esporte. Três meses depois, meu pai faleceu e o projeto me abraçou. Então me senti acolhido. Minha aula era dois dias na semana, mas eu ia quatro. Fui fazendo com todo amor e muito esmero e comecei a receber convite para participar de competições, viajei para o Chile e Argentina sem um real no bolso, contando com a ajuda de outras pessoas.
Prova de que o esforço somado ao incentivo pode gerar bons frutos no esporte brasileiro, Samuel Gonçalves passou a dar palestras em escolas e hoje também participa da formação de atletas no Projeto Grael.