Vice da CBSurf quer afastamento de presidente; atletas criam abaixo assinado contra a entidade
Após a CBSurf cancelar a participação de atletas brasileiros no ISA World Surfing Games, o clima ficou tenso e gerou revolta entre surfistas e até mesmo dentro da própria entidade
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Semana tensa para o surfe nacional. Após a decisão da Confederação Brasileira de Surf (CBSurf) de não enviar a equipe representante do Brasil para o ISA World Surfing Games 2018, o vice-presidente da entidade, Guilherme Pollastri, pedirá o afastamento do presidente Adalvo Argolo. A competição, que acontece entre os dias 15 e 22 de setembro, em Tahara, no Japão, vai distribuir duas vagas por gênero nos Jogos Pan Americanos de Lima, no Peru, em 2019.
Ao todo, seis atletas brasileiros se preparavam para disputar as quatro vagas (duas para o feminino e o mesmo número para o masculino), no Pan, que poderia render uma classificação para cada naipe nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Larisssa Pereira, Francisca Gilvanita, Anne dos Santos, Marcos Corrêa Amaro, Geovane Caiçara e Ian Gouveia formariam a delegação brasileira em Tahara.
Adiamento da viagem ao Japão
Porém, os atletas foram surpreendidos com o comunicado, na última quinta-feira, horas antes do que seria o horário previsto para o embarque rumo ao Japão. A CBSurf justificou o cancelamento da viagem através de uma mensagem enviada por grupo de WhatsApp, alegando que os surfistas não poderiam seguir o cronograma porque houve demora na obtenção dos vistos japoneses, o que atrapalhou os planos da entidade.
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Pessoal, é com imensa frustração que a CBSurf vem comunicar a vocês que nossa delegação não irá para o Japão.
Nos últimos 45 dias, Adalvo e eu estamos trabalhando neste projeto dia e noite. Creio que vcs tem acompanhado o nosso esforço. O fato é que a demora na obtenção dos vistos tornou ainda mais difícil a nossa missão.
No final das contas, foi impossível a compra das passagens, a viabilização do hotel, da alimentação e também do transporte no Japão. O fato é que, hoje (quarta-feira), o sistema de compras de passagens do COB não encontrou voos que não fossem pelos Estados Unidos, mas, como nenhuma das três meninas (Larissa dos Santos, Gil Ferreira e Anne dos Santos) tem visto americano, nós não podemos ir para o Japão apenas com os homens - disse o coordenador esportivo da CBSurf, Rosaldo Cavalcante, em comunicado.
Atletas criam abaixo assinado contra a CBSurf
A decisão gerou revolta entre surfistas brasileiros e o mundo ganhou conhecimento da causa através do compartilhamento de diversas mensagens de frustração nas redes sociais. Além disso, atletas criaram um abaixo assinado pedindo mudanças na gestão da entidade. A iniciativa é encabeçada por surfistas da elite do Circuito Mundial, como o campeão mundial Adriano de Souza e outros nomes de peso no esporte nacional, como Felipe Toledo e Italo Ferreira. Até às 11h13 deste sábado, 6.976 mil pessoas já haviam assinado o documento.
Vice-presidente da CBSurf quer afastamento de Adalvo Argolo
Em meio ao cenário de crise, no mesmo dia o vice-presidente da Confederação, Guilherme Pollastri, divulgou um comunicado lamentando o ocorrido. Na mensagem, o dirigente - afastado do cargo por divergências com o presidente - revelou que há uma divisão massiva no interior da CBSurf e que pretende entrar com um pedido no Ministério Público solicitando a renúncia de Adalvo Argolo.
- Diante da grave omissão administrativa, que impediu a participação da equipe brasileira no Campeonato Mundial da ISA, não poderia deixar de registrar, como vice-presidente, toda minha indignação e apoio aos atletas, as federações e ao surf brasileiro, que não mereciam este tipo de tratamento, adotando a partir de agora todas as medidas necessárias para o bem da CBSurf e dos atletas - disse o dirigente na nota (que pode ser vista na íntegra ao final no texto).
Ao UOL Eportes, Guilherme Pollastri criticou a gestão de Adalvo e afirmou que um dos fatores prejudiciais ao desenvolvimento do esporte tem sido a "administração centralizada" imposta pelo mesmo.
- Tudo que eu levava para ele (Adalvo), ele era contra. Cansei de dar murro em ponta de faca. Aí resolvi me afastar da confederação e deixei ele tocando. Agora que deu esse problema, tive que me pronunciar. Minha ideia era ficar afastado, esperar a próxima eleição e me candidatar (o atual mandato termina no fim de 2020). Estou vendo formas jurídicas de tentar afastar o presidente, porque ele perdeu a legitimidade. O surfe e os outros esportes não aceitam mais esse tipo de administração centralizada, que ninguém vê mais conta, nem nada.
Em resposta ao Portal, Argolo mostrou-se surpreso com a decisão do vice-presidente, mas avaliou que este não é o momento para sua saída, já que o surfe vive um período de fragilidade.
- Ele é um cara coerente, não acredito que ele faça isso, mas é direito de qualquer cidadão. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos, temos uma boa relação, criamos uma relação de amizade e espero que ele não tome essa atitude, porque não é positiva para o esporte. Não é no momento de fragilidade que o esporte está passando que faz isso, seja a ser incoerente, mas prefiro acreditar que não aconteça.
COB aponta responsabilidades da CBSurf
Fortemente criticada, a CBSurf também foi mencionada em um comunicado divulgado pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) na tarde desta sexta-feira, em que é esclarecido os tramites e prazos para que a viagem fosse realizada.
O COB aprovou a liberação de verba para o projeto apresentado pela CBSurf para o ISA Games no dia 17 de julho, com previsão de repasse de recurso e início da execução do projeto pela CBSurf em 1º de agosto. No entanto, na data prevista para repasse, a CBSurf estava impossibilitada de receber recursos da Lei Agnelo/Piva por não ter apresentado documentos necessários e obrigatórios para prestação de contas de projetos anteriores.
Assim que a CBSurf regularizou sua situação de prestação de contas, no dia 3 de setembro, o recurso foi disponibilizado. Durante o período em que a CBSurf estava impossibilitada de receber recursos, o COB informou que poderia executar o projeto, como atualmente atua com algumas Confederações, com o objetivo de não causar prejuízos aos atletas. A CBSurf optou por aguardar o momento que pudesse receber o recurso e executar o projeto.
Na quinta-feira, 6 de setembro, a CBSurf esteve no COB e informou diversas dificuldades operacionais internas para contratação de passagens aéreas, hospedagem, alimentação e aluguel de veículo, que poderiam acarretar problemas na futura prestação de contas da entidade junto ao COB. O COB então deu orientações para que a Confederação pudesse seguir com o planejamento.
Na segunda-feira, dia 10, a CBSurf esteve novamente no COB e informou que não tinha conseguido fazer nenhuma das contratações necessárias. Mesmo diante do curtíssimo prazo para a viagem, o COB buscou, mais uma vez, auxiliar a confederação na organização desta ação.
Em relação às passagens aéreas, na data em que as reservas foram solicitadas, só havia disponibilidade em empresas aéreas com conexão nos Estados Unidos, onde é necessário visto para entrada no país. A CBSurf era a responsável por conseguir os vistos para seus atletas e a equipe feminina não dispunha de visto americano. Pela Europa, só havia disponibilidade de passagens de primeira classe e a Lei Agnelo/Piva não permite a compra de passagens desta categoria. Desta forma, essa ação não pôde ser realizada no tempo necessário para participação no evento.
Por decisão da CBSurf, a participação no Mundial foi então cancelada.”
Veja a íntegra do comunicado emitido pelo vice-presidente da Confederação Brasileira de Surf, Guilherme Pollastri.
Prezados atletas e amantes do surf,
Na qualidade de vice-presidente da CBSurf e diante dos últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo a entidade máxima do esporte nacional, não poderia de deixar de me pronunciar sobre o fato dos atletas terem sido alijados da competição máxima dos atletas amadores e agora os profissionais do surfe olímpico , impedidos de participar.
Eu que trabalhei e acompanhei durante anos o excelente trabalho realizado pela Confederação Brasileira de Volei – CBV, primeiro como advogado e depois como membro do tribunal desportivo, tinha o sonho de transformar a CBSurf em um exemplo de confederação bem gerida e totalmente voltada para o esporte que tanto amo, o Surf.
Neste período 2016/2017 elaborei o novo estatuto da CBSurf em parceria com o COB, lutei pela reaproximação da entidade com a ISA e o Ministério dos Esportes, ajudei a realizar as eleições para ajustá-la ao ciclo olímpico perseguindo este sonho.
Porém, após mais de um ano de dedicação plena e muito esforço para ajudar o surf me vi completamente isolado dentro da própria confederação. No começo deste ano, diante do descumprimento de várias normas do estatuto da CBSurf pelo presidente, e da ingerência maléfica de atores descompromissados com o princípio da legalidade, impessoalidade, publicidade e eficiência, bem como a não adoção da transparência e das boas práticas de gestão administrativa, necessárias e suficientes a coibir a obtenção, de forma individual ou coletiva, de benefícios e vantagens pessoais, previstas estatutáriamente, me afastei completamente deixando o dia a dia da confederação e voltei a me dedicar a minha vida profissional e familiar. Este fato é notório entre meu ciclo de amizade mas gostaria de deixar registrado hoje publicamente.
Sendo vice num modelo de gestão presidencialista em que discordava totalmente da atuação do presidente não me restou outra alternativa, senão passar a acompanhar de “fora” a administração centralizadora e deletéria em desfavor do surf.
Diante da grave omissão administrativa, que impediu a participação da equipe brasileira no Campeonato Mundial da ISA, não poderia deixar de registrar, como vice-presidente, toda minha indignação e apoio aos atletas, as federações e ao surf brasileiro, que não mereciam este tipo de tratamento, adotando a partir de agora todas as medidas necessárias para o bem da CBSurf e dos atletas.
Guilherme Pollastri Gomes
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