A apatia é um sintoma comum em pacientes com câncer em estágio avançado, manifestando-se como uma perda de interesse por atividades anteriormente apreciadas. Este fenômeno é parte de uma síndrome conhecida como caquexia, que afeta a maioria dos pacientes em fases terminais da doença. A caquexia é caracterizada por uma perda severa de massa muscular e peso, resultando em um estado de extrema magreza, mesmo com nutrição adequada.
Além de aumentar o sofrimento dos pacientes, a apatia os isola de familiares e amigos, complicando ainda mais o tratamento. Tradicionalmente, acreditava-se que esse desinteresse era uma resposta psicológica inevitável à deterioração física. No entanto, pesquisas recentes sugerem que a apatia pode ser uma parte integral da própria doença, influenciada por alterações cerebrais específicas.
Como o câncer afeta a motivação?
Estudos recentes indicam que o câncer não apenas consome o corpo, mas também afeta circuitos cerebrais específicos que controlam a motivação. A pesquisa, publicada na revista Science, revelou que o câncer pode sequestrar circuitos cerebrais, resultando em uma diminuição da motivação. Essa descoberta desafia suposições antigas e sugere a possibilidade de restaurar a vontade de viver em pacientes com câncer.
Os cientistas identificaram uma região do cérebro chamada área postrema, que atua como um detector de inflamação. Quando um tumor cresce, ele libera citocinas na corrente sanguínea, que são detectadas pela área postrema. Isso desencadeia uma cascata neural que culmina na redução da liberação de dopamina, um neurotransmissor crucial para a motivação.

Quais são as implicações das descobertas recentes?
As descobertas sobre o impacto do câncer na motivação têm implicações significativas para o tratamento de pacientes. Em modelos animais, foi possível restaurar a motivação ao manipular geneticamente neurônios sensíveis à inflamação ou ao estimular diretamente a liberação de dopamina. Além disso, o uso de medicamentos que bloqueiam citocinas específicas mostrou-se eficaz em restaurar a disposição para buscar recompensas.
Embora esses resultados sejam preliminares e baseados em estudos com animais, eles abrem caminho para novas abordagens terapêuticas em humanos. Ao direcionar circuitos cerebrais específicos, pode ser possível melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mesmo quando a cura completa não é viável.
O papel da inflamação na apatia
A inflamação desempenha um papel central na apatia observada em várias condições de saúde, não apenas no câncer. Moléculas inflamatórias semelhantes estão envolvidas em doenças autoimunes, infecções crônicas e depressão, sugerindo que o circuito cerebral identificado pode ser relevante para uma ampla gama de condições.
Historicamente, a apatia induzida pela inflamação pode ter evoluído como um mecanismo de proteção, economizando energia durante infecções agudas. No entanto, em doenças crônicas, essa resposta se torna prejudicial, piorando os desfechos e a qualidade de vida dos pacientes.
Esperança para o futuro
As descobertas recentes oferecem esperança de que, mesmo em estágios avançados da doença, a motivação e a essência dos pacientes possam ser recuperadas. Ao interceptar sinais inflamatórios ou modular circuitos cerebrais, os cientistas podem abrir novas possibilidades de tratamento, proporcionando uma melhor qualidade de vida para pacientes e suas famílias.