Ao L!, João Paulo Sampaio detalha ‘segredos’ da base do Palmeiras e avisa: ‘Virão mais jogadores extraclasse’

Coordenador das categorias de base do Palmeiras explicou ao LANCE! os processos internos que tornam o clube como excelência na formação de jovens atletas

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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 25/02/2023
00:48
Atualizado em 25/02/2023
07:00
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Na última década, o Palmeiras passou por uma reformulação em suas categorias de base e passou a ser, talvez, o melhor departamento de formação do país. Um dos grandes responsáveis por isso, senão o maior, é João Paulo Sampaio, que está próximo a completar oito anos de clube (chegou em março de 2015), mas não parece saturado com tantas conquistas e jovens promessas, pelo contrário, ele quer mais e garante que outros "Endricks" e outros jogadores extraclasse virão por aí.

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Em entrevista exclusiva ao LANCE!, o dirigente palmeirense diz não cansar do que faz e mantém a fome de melhorar a cada dia, que tem sido passada para praticamente todos os atletas que têm sido formados no clube nos últimos tempos. O DNA alviverde tem sido construído desde os mais novinhos, mas seguindo a ideia e o exemplo de quem está em cima, gerindo todo essa magnitude.

- Minha fome diária de sempre fazer o melhor, independentemente de onde eu esteja. Eu já tinha isso em mente quando eu fui atleta, treinador... Então eu não tenho aquele projeto de conquistar isso agora para no futuro eu dar o próximo passo. Todo dia eu faço meu melhor, atendo as pessoas, fazendo o melhor para o clube e essa fome nunca diminui e a gente vem há alguns anos conquistando muito, dando muito resultado - declarou antes de completar:

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- O que me move é minha motivação diária de dar o meu melhor todos os dias. Isso para mim é bem claro, é isso que eu sempre cobro dos meus colaboradores, de a fome estar sempre em alta, independente das conquistas, dos títulos, porque quem está em time grande como o Palmeiras, a gente fica aliviado, não comemora. Para a gente isso é tranquilo nos últimos anos. Não é agora, eu fazendo oito anos de clube, que isso vai diminuir, porque a gente tem uns quatro anos sendo referência na base em vários aspectos e está sempre se mantendo, porque chegar às vezes é fácil, difícil é se manter e a gente está se mantendo no topo faz tempo.

João Paulo conquistou sua segunda Copinha em 2023 (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras)

Apesar de ser elogiado constantemente por amigos, colegas de trabalho, profissionais de imprensa e até mesmo jogadores, João Paulo compartilha os méritos com os demais colaboradores e funcionários do Palmeiras. Para ele, todo esse trabalho é um legado deixado para o clube.

- Eu tenho um amigo, que eu considero muito em termos profissionais e de amizade que me falou "João, é o maior trabalho da história do futebol brasileiro, isso eu não tenho dúvida", é um cara estudioso, que é o Marcelo Teixeira, foi do Fluminense, hoje está no Bahia. Então eu fico lisonjeado por capitanear esse trabalho, mas é uma equipe que está por trás. A gente trabalha para isso, imagina que vai ser uma referência, mas a gente começou a quebrar vários recordes, como o mais novo a jogar no profissional, vendas, títulos, terminamos uma musiquinha (risos).

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- Então isso tudo é um legado, a gente está vendo que não é uma geração. A gente vê nos últimos anos, todos os times do Palmeiras do sub-10 ao sub-20, ser finalista nos torneios. Ganhar e perder faz parte, você não vai controlar isso. Mas ser protagonista, ter jogadores que chamam a atenção, ter qualidade em todos os setores... É o que a gente mais busca - explicou.

João Paulo Sampaio tem a confiança de Leila (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Mais importante dos que os títulos, e eles foram muitos em 2022, ganhando praticamente tudo o que foi disputado na temporada desde o sub-14 ao sub-20, o departamento de base do Palmeiras se preocupa com a formação de jogadores, como o próprio Sampaio disse acima. Depois de entregar Endrick ao profissional e vendê-lo ao Real Madrid, daqui a pouco será a vez de Luis Guilherme e Estevão, outros dois extraclasse. Mas o dirigente avisa: vem mais desse nível por aí.

- A gente está falando de três atletas extraclasse, não à toa Endrick com 16 anos quebrou os recordes do profissional, é a maior venda do futebol brasileiro. Luis Guilherme com 16 anos na Seleção Brasileira sub-20, acabou de jogar a final do Sul-Americano e jogar bem. Estevão está na Seleção sub-17 com 15 anos e com certeza os três vão aparecer muito cedo no profissional como o Endrick apareceu - avaliou o coordenador da base antes de completar:

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- Tudo isso pela capacidade deles, que é dentro do campo, é lá que eles chamam a atenção, não é tendo tratamento diferente, é dentro do campo que eles tem que chamar a atenção. É lá que eles serão avaliados e toda vez que isso acontece, eles são protagonistas e chamam a atenção, não apenas nossa, mas de todo o mundo. A gente tem procurado jogadores com essas características, jogadores que driblam, estamos falando de jogadores canhotos, a gente tem muitos. A gente sabe o que a gente tem em mãos e com certeza virão mais atletas com essa capacidade, com essa qualidade. A gente acha que vai acontecer um legado de muitos anos.

João Paulo Sampaio com uma geração anterior de Crias (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Confira, abaixo, a íntegra da conversa do LANCE! com João Paulo Sampaio:

Por que o Palmeiras é uma referência na base?

O Palmeiras é uma referência, mas eu sempre falo, a referência em simpatia, em tratar bem os outros, em saber perder, em deixar sempre marcas positivas por onde a gente passa, nacional ou internacionalmente. É o que gente, no mínimo, tem que fazer, porque é um clube conhecido pela igualdade, o Palmeiras foi quem começou com negro, com indígena, teve a época da guerra, de Palestra para o Palmeiras. Então é o clube da igualdade, e a gente tem que sempre valorizar o que o Palmeiras nos traz de história.

Curso para profissionais de base
O curso eu já estou sendo cobrado por muita gente, em relação a participar de palestras, eu sou pouco assíduo nisso, até porque sou muito do campo, do scout, de estar nos jogos, dificilmente me encontram na minha sala. Então eu estou sendo cobrado por pessoas que eu considero, e uma delas me pediu para dar esse curso. A única coisa que eu pedi foi alguém mediando e podem me perguntar o que quiseram, tanto quem vai participar do curso, quanto a pessoa que vai mediar durante aquelas duas ou três horas. Então é abrir para qualquer pergunta, e como eu sou muito reto, o curso vai ser muito isso, as pessoas as pessoas perguntam e eu respondo o que aconteceu, independente do que seja, para que ela saiba do dia a dia.

Diferencial do Palmeiras na base
A diferença do Palmeiras acho que são as pessoas e depois os profissionais competentes que o clube tem, porque por trás deles têm essas pessoas. O Palmeiras é muito agraciado por essas pessoas. Claro, sabe escolher, mas é aquela questão do dono, que toma conta, que quer pagar a passagem mais barata, que quer economizar, que quer escolher, que pega um copo do chão e joga no lixo. Então isso é uma diferença do Palmeiras: as pessoas. Porque estrutura, financeiro, todo mundo tem, alguns falam "ah, mas o Palmeiras compra", eu quase não comprei jogadores nesses anos, gastei muito pouco. Às vezes não querem identificar que é o trabalho e no Palmeiras, para mim, a diferença são as pessoas no dia a dia do clube, são os profissionais que estão lá.

Perfil de jogadores que estão na base do Palmeiras
​Na verdade, eu falo que para ganhar do Palmeiras tem que suar sangue, não é questão de o Palmeiras ganhar o jogo, mas ganhar do Palmeiras é muito difícil, em qualquer categoria. A gente vem com esse perfil de jogadores desde pequeno. Na Copinha do ano passado, a gente tinha 14 jogadores que poderiam jogar a Copinha deste ano, jogaram de novo e eles querendo. Aí tem o juvenil, que ganhou tudo no ano passado, aí já vem a próxima geração, que ganhou a Copa FAM.

Perfil dos jogadores quando sobem para o profissional
Eles já vêm com essa cobrança, a gente não precisa mais incutir no atleta do Palmeiras. Isso acontece quando chegam no profissional também, você tem lá as referências Gómez, Dudu, Weverton, Zé Rafael, essa galera cobra todo dia para você trabalhar, treinar, independentemente da sua idade. É um profissionalismo que está enraizado, que vem de cima para baixo, mas que os meninos já sabem. O que a gente cobra é que ganhar e perder, jogar bem e jogar mal, tudo isso faz parte, mas entrega não tem negociação.

Jogadores que chegam mais novos absorvem melhor a filosofia
Eles chegam muito cedo no clube em termos de idade. Então quando você tem um Patrick de Paula, que chegou com 18 anos, é mais difícil pegar o que o clube é. Esse tempo de clube valoriza, depois você consegue identificar quais jogadores tem essa filosofia, tem mais preparo para falar, discursar, ou até ser mais equilibrado nos jogos, porque eles estão lá desde 11 anos, 12, 13. Então tem a escola, mas você tem Patrick e alguns outros que chegam lá na faculdade já, os outros chegaram na escola, aí é mais fácil, a gente tem que entender cada caso.

Luis Guilherme está pronto para o profissional? E o Kevin?
Luis Guilherme e Kevin devem começar a treinar no profissional e jogar no sub-20 agora nesse primeiro semestre. Acho que sim, você joga uma final de Sul-Americano (Luis Guilherme), contra o Uruguai, com 16 anos, contra sub-20, sub-21, a questão física que ele tem, de arranque, de velocidade, técnica ele sempre foi muito apurado e a mental, que hoje é importante demais, ele é um menino muito do bem, muito concentrado. Com certeza ele está pronto sim, igual Kevin, outros campeões da Copinha vão começar a ter mais espaço para treinar e mostrar seu futebol no dia a dia da equipe principal.

Luis Guilherme, Estevão e Endrick: os extraclasse da base (Foto: Divulgação / Palmeiras)

Sem os reforços no profissional, jovens da base sobem mais pressionados?
Acho que a pressão é maior para o pessoal do profissional que está lá, porque estão vindo os meninos com toda essa qualidade. Para eles não, era o passo que eles queriam dar, a realização de um sonho, a pressão a mais é a concorrência interna, que é sempre alta e isso é bom para elevar o nível e o Palmeiras sempre tentar estar no patamar mais alto, porque chegando da base ou contratados, vai aumentar a concorrência interna.

Por que o Palmeiras não capta tantos jogadores na Copinha?
A Copinha fomenta o futebol, mas ela mascara muito, ela tem muita mídia e você às vezes pega um jogador na emoção, na concorrência. Neste ano, por exemplo, a gente pegou um jogador só na Copinha, no ano passado nenhum, claro que a gente tem a concorrência e o nosso nível está alto. A gente viu todas as sedes, todos os times da Copinha, a gente tem relatório de tudo, mas devido ao nível que a gente está, a gente prefere não arriscar tanto, vai no mais novo, que é o que a gente faz. Ano passado Endrick joga a final com 15 anos, neste ano o Estevão joga a final com 15. Ano que vem espero ter outro de 15 também. Então prefiro atacar no nosso interno, nos mais jovens, que têm a capacidade maior, dar espaço para eles do que para a Copinha, porque na primeira semana o jogador é milhão, depois de um mês o jogador é passe estipulado e empréstimo, e depois de dois meses ele vai para teste. Então a Copinha tem essa ilusão e a gente tem que tomar muito cuidado.

Prioridade é dar espaço para os mais novos na base
​Se a gente analisar, a gente está falando do sub-20 do ano passado, que da Copinha campeão só tinha três ou quatro jogadores no Brasileiro e na Copa do Brasil, já mudou. Se a gente analisar, está vindo a geração do sub-17, que ganhou tudo no ano passado, muitos jogadores de Seleção. Aí vem o sub-15, campeão paulista, então estão vindo gerações, a gente prefere atacar lá embaixo para que ele tenha mais tempo de formação nossa. Claro que você pode achar um jogador ou outro, mas hoje muito pouco e a gente prefere dar espaço para os nossos mais novos pensando na equipe principal, deixar jogadores mais prontos mais cedo, como Endrick, Luis Guilherme, vai chegar Estevão, virão outros sub-17 que a gente vai falar "estão prontos", porque a gente os amadureceu antes. Então a gente prefere que ele faça esse estágio na base.

Como funciona a interação com a análise de mercado?
A gente tem a análise de mercado, tem contato diário com o Anderson (Barros), principalmente quando os jogadores são jovens. Ele me pergunta o que eu acho, quem eu conheço, tem as perguntas ao nosso treinador do sub-20 (Paulo Victor Gomes), que foi campeão olímpico, então conheceu muitos jogadores da Seleção Brasileira e tem essa interação diária com a análise de mercado. O nosso analista de mercado da base foi para o Sul-Americano sub-20 e eu falei para ele "não vai me interessar muito a não ser Argentina e Uruguai no nível alto", mas quando eles estão no nível alto, eles já estão na Europa, os outros eu não tenho interesse, porque já trouxe muitos jogadores e não valeu a pena, para você ver como a interação é diária.

Quais são os próximos passos do Palmeiras na base?
​Manter a fome todos os dias, procurar os melhores jogadores, ter bons profissionais principalmente no campo, que é o que faz a diferença, captação agressiva e forte o tempo todo, e cuidar o ambiente interno, que a gente já está cuidando. A gente vai melhorar o CT de Guarulhos, com campo sintético, acomodação melhor do dia a dia na área de musculação, na área de alimentação. O que a gente tem nos agrada, mas pode melhorar. É formar mais e mais jogadores, é isso que a gente busca a cada dia.

Na base sempre há um substituto planejado
A gente tem o Luis Guilherme, mas quero outro, tem o Endrick, quero outro. Gabriel Menino foi embora, já tenho um volante. Patrick de Paula saiu, tem o Danilo, mesmo estilo, volante canhoto. É sempre estar preparado para que o profissional peça e também o mundo. Os que não jogaram no profissional e foram vendidos antes, a gente entende isso e não dá para ser somente menino, acho que os meninos vão bem na equipe principal, porque tem uma espinha dorsal ali muito bem formada e isso facilita para eles. 

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