Carnaval 2023: Atual campeã, Mancha Verde aposta no Nordeste para superar ‘divórcio’ com Leila e seguir no topo
Escola levará à Avenida o xaxado para tentar manter o título na comunidade alviverde
Quando futebol e samba se misturam, nem sempre uma coisa pode se dissociar da outra. E não há exemplo melhor disso no Carnaval de São Paulo deste ano do que a Mancha Verde.
A atual campeã da folia paulistana (segundo troféu na história) chega ao Anhembi para defender o seu título cercada de expectativa e em meio a uma disputa de bastidores com a presidente do Palmeiras, Leila Pereira.
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A mandatária alviverde rompeu oficialmente todas as relações que mantinha com a principal organizada do clube. E, por consequência, isso incluiu o aporte financeiro que dava à escola de samba por meio de suas empresas via Lei Rouanet.
Por isso, o primeiro desafio da Mancha na Avenida em 2023 é mostrar que 'pode caminhar com as próprias pernas', digamos assim, já que agora os holofotes do Carnaval estão voltadas para ela. E Leila não será o único desfalque. Responsável pelos dois títulos da agremiação, o carnavalesco Jorge Freitas já tinha anunciado a sua saída antes mesmo do desfile de 2022.
Para seguir em frente, a agremiação escolheu o Nordeste como tema, o xaxado, tradicional ritmo musical daquela região brasileira e levará ao Anhembi o enredo 'Oxente – Sou Xaxado, Sou Nordeste, Sou Brasil'.
O responsável pelo desfile será André Machado, contratado pela Mancha pouco depois do bicampeonato do ano passado vindo direto da Colorado do Brás, onde surpreendeu e fez uma apresentação digna de elogios em 2022, mas que culminou em rebaixamento.
- O enredo surgiu antes de eu chegar na Mancha Verde, tanto é que anunciaram no Desfile das Campeãs. Eu pensei que não pudesse ter o caminho e liberdade por ter já escolhido, mas graças a Deus o Paulo Serdan me deu liberdade para fazer a pesquisa e seguir o caminho que seria legal na minha visão. Eu apresentei o projeto, ele gostou e foi muito bacana. A gente pegou a ideia do ritmo do xaxado e desenvolveu em quatro partes, que são os quatro carros alegóricos - disse Machado, ao site 'Carnavalesco'.
Em sua primeira experiência como o carnavalesco principal de uma escola grande, o carioca Machado exaltou a organização da Mancha e contou como é trabalhar em uma agremiação nascida de dentro de uma torcida organizada, algo não existente sem sua terra-natal.
- Eu vou ser bem franco. Eu até tinha um certo preconceito com escolas de torcida organizada. Eu fui criado no samba e nasci no carnaval, mas de dez anos para cá, algumas estão desvinculando a torcida da escola de samba e a Mancha faz muito isso. O trabalho que o presidente fez nos últimos anos foi de separar a torcida dos apaixonados por carnaval. Essa recepção, quando eu fui na quadra, eu pensei que a comunidade teria um pé atrás. Eu estou sucedendo um cara que foi bicampeão. O Jorge Freitas tem um nome muito forte aqui em São Paulo e eu sou um cara que acabou de cair com o Colorado, mas eu tento me aproximar o máximo possível dos componentes, trago eles para me ajudar para ter essa conexão. Eu quero estar no meio do povo, cumprimentar as pessoas e ter essa troca de energia, até para ver a emoção das pessoas na avenida. Isso que é carnaval e todo mundo é igual.
A expectativa, de Machado, do presidente Paulo Serdan e de toda a coletividade alviverde não poderia ser outra que não o título. Marcada pelo visual impecável nos últimos anos, a Mancha atingiu um nível de excelência que não permite retrocessos. E o carnavalesco demonstra ter essa noção.
- Queremos o tricampeonato. Aqui a gente só pensa dessa forma. Quero dar esse presente, porque eu ganhei esse presente da Mancha, que é estar aqui hoje fazendo o que eu mais gosto. Eu tenho que retribuir esse carinho que eles têm comigo. É deixar bem claro que o carnaval não é feito apenas pelo André e sim pela comunidade inteira, mas eu tenho que trazer esse campeonato. Se não for também, não tem problema. Eu quero apresentar um carnaval para a escola. Quero fazer com que as pessoas vão para a escola com um sorriso achando que vão para a Avenida campeã do Carnaval. Se não for, é consequência do projeto e da apuração.
RAIO-X
GRÊMIO RECREATIVO CULTURAL ESCOLA DE SAMBA MANCHA VERDE
Fundação: 18/10/1995
Cores oficiais: verde, branco e vermelho
Presidente: Paulo Rogério de Aquino (Paulo Serdan)
Carnavalesco: André Machado
Mestre de Bateria: Guma Sena
Casal de mestre-sala e porta-bandeira: Marcelo Silva e Adriana Gomes
Direção de Carnaval: Paolo Bianchi
Direção de Harmonia: Marquinhos, Bruno e Danilo
Rainha de bateria: Viviane Araújo
Coreógrafos da Comissão de Frente: Wender Lustosa e Marcos dos Santos
Colocação em 2022: Campeã – grupo Especial
Ordem de desfile em 2023: Sábado (18 de fevereiro), terceira escola a desfilar (0h40)
Títulos: 2 (2019 e 2021)
Samba-enredo
OXENTE — SOU XAXADO, SOU NORDESTE, SOU BRASIL
Autores: Edinho Gomes e Gilson Bernini
Intérprete: Fredy Vianna
Mancha verde é emoção, oxente
Coração do nordestino bate no peito da gente
Somos uma só família, “êta” povo abençoado
Hoje meu samba vai no passo do xaxado
Eu vim de lá
Também sou cabra da peste
Sou das bandas do nordeste
Vila bela sim “sinhô”
Serra talhada, chão rachado, poeirento
E um sentimento que reflete o meu valor
Oh meu “Padim Ciço”, fé e devoção
Minha história tá na memória
Eu sou do tempo do valente Lampião
“Se avexe não”, na tristeza dou um nó
No arrasta pé do xote, baião e forró
Puxa o fole, sanfoneiro, a poeira vai subir
Sertanejo chorou tanto, tá na hora de sorrir
Há esperança reluzindo em cada olhar
Faz um verso de amor, amanhã vai melhorar
O cangaceiro na batalha triunfou
Até maria bonita no bando comemorou
“Olê muié rendeira”
Na embolada dançando a noite inteira
Vem violeiro, num repente ajeitado
Tô “arretado”, a zabumba tá chamando
“Não há oh gente oh não”
Coisa melhor do que cantar o meu sertão
Quanta saudade, “é tempo de voltar”
Salve mestre Vitalino
O meu orgulho, minha raiz
Patrimônio cultural desse país