Como o Palmeiras usa seu Núcleo de Saúde para aperfeiçoar estilo de Luxa
Com semana livre, clube tem aproveitado para aperfeiçoar o elenco fisicamente e deixá-lo ainda mais apto de jogar com o "perde e pressiona" pedido pelo técnico alviverde
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Ainda que o cargo tenha sido usado no Palmeiras pela primeira vez em 2015, muitos torcedores ainda têm dúvidas para entender o que faz o coordenador científico no clube. Daniel Gonçalves, ex-Vasco, assumiu a função depois da saída de Omar Feitosa e tem sido o responsável por alinhar o trabalho entre a comissão de Vanderlei Luxemburgo e o Núcleo de Saúde e Performance (NSP).
O coordenador participa de reuniões antes e depois de todos os treinos, com departamento médico, análise de desempenho, nutrição, fisioterapia, preparação física e fisiologia, para traçar os planos das atividades na Academia de Futebol. Após estes debates, Daniel é responsável por repassar as informações a Luxemburgo e sua equipe - eles trabalharam juntos no Vasco, ano passado, e possuem boa relação.
Altamiro Bottino foi o primeiro coordenador científico do Palmeiras e deixou o clube em 2017, após participar da montagem dos novos processos de recuperação e prevenção de lesões na nova Academia de Futebol. O cargo ficou vago até o fim do ano passado, quando Omar Feitosa o ocupou por poucos meses, durante a passagem de Mano Menezes. Com as mudanças no clube, a diretoria decidiu buscar um novo nome.
Daniel, 42 anos de idade, é formado em Ciência do Esporte, tem a licença A de treinador da CBF, bacharelado em Educação Física, pós-graduação em fisiologia do exercício e MBA em administração esportiva. Com passagens também por Criciúma e Flamengo, o coordenador tem sido parte importante nos treinamentos, participando de tudo que ocorre no gramado.
Ao LANCE!, ele deu detalhes de como o departamento de saúde pode moldar trabalhos que ajudem Vanderlei Luxemburgo a mudar o estilo de jogo do Palmeiras, a nova organização do NSP e qual o estágio físico do Verdão depois de um mês de trabalho.
CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA:
LANCE!: Para o departamento de saúde, qual a importância de uma semana cheia para treino, sem jogos?
Como o Vanderlei falou, é dar prosseguimento ao processo de recondicionamento. Como estamos no começo de ano, seria o pré-jogo, que chamamos de pré-temporada, mas este período ainda é preparatório da equipe e será estendido por mais algumas semanas. O Palmeiras tem de vencer jogos, então preparamos a equipe para a próxima partida e para o restante da temporada. Quando se tem um período maior, como a semana cheia, bom aproveitar todos os momentos, a estrutura do clube, os processos estabelecidos, para desenvolver o atleta como todo e a equipe também.
Até quando é possível dizer que os jogadores estarão em pré-temporada?
Difícil estabelecer prazos, porque não analisamos só por aspectos desassociados. Não é só ordem física ou tática, tem mental, emocional, cognitivo. Tem de ter pleno desenvolvimento. A equipe pode atingir padrões em um aspecto e outras questões ficam equacionadas. Difícil dar prazo. É avaliar dia a dia, semana a semana. Jogo a jogo, porque temos de vencer.
Qual a avaliação do estágio físico do time neste começo de ano?
A gente está em pleno processo evolutivo, temos muito a crescer e sincronizar as ideias de modelo de jogo do Vanderlei com demandas físicas. O perde e pressiona, se não recuperar a bola em seis segundos, baixar (a marcação) para bloco intermediário ou até bloco baixo. Estamos satisfeitos de maneira geral, tudo vai ser analisado com resultado, a grandeza do Palmeiras é ganhar jogos e títulos. Só vamos estar plenamente satisfeitos com resultados e títulos.
Como vocês, do Núcleo de Saúde, podem fazer trabalhos que ajudem no estilo de jogo que o Luxemburgo quer implementar?
Há um tema ainda bastante debatido, a caixa de areia. Alguns colocam como prática não usual, mas está inteiramente encaixada no modelo de jogo do Vanderlei, com a metodologia da comissão e traz benefícios na ciência do esporte. Na manhã (de quarta) teve um trabalho físico e analítico, de força e funcional no campo, com acelerações e desacelerações. É o que precisa fazer quando se perde a bola e precisa pressionar, como deseja o Vanderlei. Força, aceleração e desaceleração. Na caixa de areia são situações do campo, de movimentação parecida, mas em um piso mais macio. A força reativa vai ser diferente, mas permite muitas ações de aceleração e desaceleração. Um jogador de futebol faz de um e meio a duas acelerações por minuto no jogo, enquanto conseguimos de dois e meio a três na caixa de areia. Exigimos até mais do que se exige no campo, é uma situação que transfere para o modelo de jogo do Vanderlei Luxemburgo quando há o treino tático e se pede o perde e pressiona.
E a caixa de areia é apenas parte pequena de um treino, nunca é a única atividade de um dia...
Se for analisar, o Palmeiras é um time de vanguarda, com a estrutura física da Academia, processos estabelecidos antes de chegarmos. Começa quando o atleta chega no clube e faz a refeição, o pré-treino, já está se condicionando para uma resposta mais agressiva, mais rápida, mais potente no campo. A caixa de areia é um estímulo de oito a dez minutos na semana. Isto não vai dar prejuízo e vai dar ganho de força aos jogadores. O trabalho complementar na parte interna da academia é também para completar o treino. A gente tenta analisar o todo de maneira holística, de que forma vai ajudar no ponto de vista fisiológico no campo.
Neste começo de ano saíram dois coordenadores do NSP: Jomar Ottoni, da fisioterapia, e Thiago Santi, da fisiologia. Há planos de terem novos profissionais para a função?
São situações diferentes. O Jomar teve uma situação profissional (trabalhará com Ricardo Goulart na China), o Thiago foi uma readequação de função, no novo organograma não teremos estes coordenadores em um primeiro momento. A ideia é fazer algo mais horizontal do que vertical, com fluxo de informações, com um invadindo um pouquinho a área do outro, para uma construção harmônica. É só uma readequação institucional, não que os outros não fizessem assim. (Nota da Redação: o NSP tem no momento três coordenadores: Daniel Gonçalves, científico, Antonio Mello, da preparação física e Gustavo Magliocca, médico; além deles, são mais 19 profissionais, entre preparadores físicos, médicos, fisiologistas, fisioterapeutas, nutricionistas, dentista, massagista, técnico em enfermagem e podólogo)
Com a sua chegada, há uma ideia também de mudança de processos no Núcleo de Saúde e Performance?
Sobre processos, obviamente temos de adequar o que o treinador quer. O protagonismo é do treinador e jogadores. Temos que adequar os processos ao modelo de jogo e ao que temos de individualidade do plantel. As adequações são pontuais, tem muita coisa bem estabelecida. Desde a inauguração da nova Academia, há cinco anos, o Palmeiras é muito vitorioso, não se pode negligenciar isso. Boa parte dos processos foi mantida.
Diferentemente de outros coordenadores científicos, você participa ativamente dos treinos, até como parte da comissão técnica. Quais as vantagens de estar vivendo tudo tão de perto?
O que seria a função da coordenação científica? Coordenar as ciências do futebol. Não só ciências de saúde, o Núcleo é de Saúde e Performance. Faz parte das ciências do futebol, por exemplo, o assistente social, a metodologia do treino de campo. Não é só fisiologia, medicina, fisioterapia; todas as ciências impactam aqui. Na minha opinião, seria negligência da minha função não participar do campo. A interação é constante com a comissão técnica, com médico, fisioterapeuta, com a nutrição, análise de desempenho e preparação física. Fazemos um apanhado, criamos um debate para ter uma linha única de atuação, sem ruídos ou divergências.
O quanto colabora você já ter uma relação com Luxemburgo, Antonio Mello e Maurício Copertino, seus colegas de Vasco, neste início no Palmeiras?
Eu procuro cada vez mais me aprofundar no campo, tanto que fiz curso de treinador da CBF, além da experiência pregressa na preparação física e fisiologia e como coordenador. Quanto mais você conhece a pessoa, melhor fica a comunicação. Se a gente sabe que tem uns mais introvertidos, outros mais extrovertidos. Se aproveitarmos as diferenças em prol da coletividade, podemos ter processos melhores desenvolvidos.
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