As eliminações do Palmeiras em sequência, na Libertadores e na Copa do Brasil, colocaram o técnico Abel Ferreira na berlinda. Por mais que a direção do clube sequer cogite a demissão do treinador, o mau futebol apresentado pelo Verdão nos últimos meses fez com que as cobranças aumentassem.
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Entre as principais reclamações, está o fato que o Palmeiras não é mais uma equipe segura na defesa, especialmente se comparada com o time que venceu duas Libertadores no mesmo ano (edições de 2020 e 2021). Essa diferença é explicada pelas mudanças promovidas por Abel nos princípios de jogo da equipe, ou seja, os comportamentos adotados na defesa e no ataque.
Essas mudanças, vale lembrar, não são pontuais, por questões estratégicas ou adaptações ao adversário. Na verdade, são mudanças amplas, realizadas no jeito do Palmeiras jogar, isto é, na identidade da equipe.
A principal destas alterações talvez esteja na defesa, que já foi considerada o ponto forte do time: ao desembarcar no Brasil, Abel Ferreira trouxe uma ideia bastante popular em Portugal e pouco explorada no Brasil, a zona pressionante.
Neste estilo de defender, a prioridade da marcação é proteger o espaço, como faz uma defesa tradicional em zona. A diferença é que os jogadores próximos à bola tem maior liberdade para se soltar da linha de marcação e pressionar os adversários, uma característica típica de marcações individuais, cuja prioridade é marcar o oponente independentemente do espaço.
Assim, a defesa que aplica a zona pressionante tira vantagem das melhores características dos dois estilos: a organização em linhas da defesa à zona, com a agressividade da marcação individual.
Abel deixou de utilizar a zona pressionante na final da Libertadores de 2021, diante do Flamengo. Na ocasião, adotou encaixes individuais (o popular "cada um no seu"), um tipo de marcação tipicamente brasileiro. Técnicos como Cuca e Felipão são especialistas neste estilo. Atualmente, a Atalanta de Gian Piero Gasperini é o principal time do mundo a utilizar esta forma de defender.
O resultado é que o Palmeiras abriu mão da organização em linhas para perseguir os adversários por todo o campo. A defesa, então, passou a ficar mais vulnerável a bolas enfiadas nas costas da defesa, deficiência que ficou explicita no jogo de ida diante do Botafogo. Além disso, o elenco, naturalmente envelhecido, passou a se desgastar mais rápido ao longo dos jogos.
No ataque, a mudança no estilo de jogar também foi radical. O ataque posicional, baseado na ocupação racional dos espaços, perdeu rigidez. Os jogadores passaram a ter maior liberdade para circular pelo campo e aproximar da bola.
Entretanto, nem sempre essa é uma boa alternativa para se livrar de marcações fortes. Isso porque, na maioria das vezes, os movimentos de aproximação atraem o adversário para pressionar a bola, limitando ainda mais as opções de passe.
A mudança no desenho da saída de bola também agravou a dificuldade do Verdão em atacar com regularidade ao longo das partidas: durante os dois primeiros anos de trabalho, a equipe iniciava suas jogadas em uma estrutura com três defensores (não importando se três zagueiros ou dois zagueiros com um lateral) e dois volantes logo à frente.
Entretanto, na tentativa de ter maior volume ofensivo, Abel modificou a estrutura e colocou o segundo volante da equipe mais posicionado à frente, como um terceiro meia - o que justificaria, por exemplo, a escalação de Raphael Veiga ao lado de Anibal Moreno no jogo de ida diante do Botafogo, pela Libertadores. Na prática, porém, o time perde uma opção de passe na saída de bola e fica exposto a contra-ataques quando a posse de bola é perdida.
Em novembro, Abel Ferreira completará quatro anos no Palmeiras. Naturalmente, a longevidade do trabalho, incomum para os padrões do futebol brasileiro, obrigaria o treinador a fazer adaptações nas ideias que o levaram às primeiras conquistas. As mudanças, no entanto, não se mostraram acertadas e Abel precisa reconhecer isso se quiser manter o time competitivo até o final da temporada.