Ex-Palmeiras, jovem goleiro brasileiro aposta nos conselhos de Pagliuca para brilhar no futebol europeu: ‘Acredito na mistura de culturas’

Renato tem apenas 15 anos e está há quatro na Itália, onde defendeu a Inter e agora está no Bologna. Duas seleções "brigam" para convocá-lo

Escrito por

De campeão da Taça das Favelas na Bahia para campeão nacional sub-14 na Itália, foi essa a trajetória meteórica de Renato, goleiro brasileiro de apenas 15 anos, que deixou o Brasil com apenas 11 para buscar seu espaço no futebol europeu. Com pai italiano e mãe brasileira, o garoto já teve inúmeras experiência em tão pouco tempo de vida e de carreira, inclusive na vitoriosa base do Palmeiras. Agora sua aposta é no projeto do Bologna-ITA, onde é comandado por nada menos do que Gianluca Pagliuca, um dos melhores goleiros da história.

+ Veja tabela e classificação do Brasileirão-2023 clicando aqui

Em entrevista ao LANCE!, Renato contou como saiu de uma escolinha de futebol da Internazionale em Salvador, passou pela base do Jacuipense, pela base do Verdão e acabou indo parar Itália acompanhar seu pai, que recebeu uma oferta de emprego em seu país natal. Além disso, mostrou personalidade ao abrir mão de permanecer na Inter para buscar um clube com perfil mais formador, como o Bologna, levando em conta sempre o projeto técnico e a mistura de culturas, como classificou sua experiência no Red Bull Salzburg, da Áustria. Brasileiro de nascimento, ele já foi convocado pela seleção italiana, mas tem sido monitorado pela Canarinho. A decisão, porém, ficará apenas para a hora certa.

Confira a entrevista completa com o jovem goleiro brasileiro do Bologna-ITA:

Como recebeu a oportunidade de ir para a Itália e por que decidiu encarar o desafio?

Isso aconteceu em 2019, na época em que eu representava o Palmeiras. Meu pai recebeu uma proposta de trabalho aqui em Milão, e aí eu, junto com a minha família, viemos morar na Itália, onde a Inter já me conhecia muito bem (por conta da escolinha em Salvador). Claramente eu tinha na minha cabeça que eu, com 11 anos, estava vindo para cá para jogar futebol e para encarar um grande desafio que é jogar na Europa, que era meu sonho.

Você viajou para jogar em um outro país antes mesmo de se formar como profissional. Como tem sido a adaptação tanto no campo quanto fora dele? Que dificuldades e facilidades tem encontrado?

Fora de campo não tive dificuldades, até porque meu pai é italiano e eu já conhecia muito bem o país e a língua. A dificuldade, na verdade, foi talvez dentro de campo, em que eu tive que passar de um futebol profissionalizado do Brasil, em que as crianças de 11 anos já são muito desenvolvidas, enquanto em um país como a Itália, as coisas acontecem mais devagar. Por outro lado, a organização dos campeonatos é muito boa, cada criança de qualquer idade e qualquer estado tem seu próprio campeonato e torneios. Além do futsal, que está começando a se desenvolver aqui.

Como foi seu início no futebol?

A minha experiência no gol começou na Inter Soccer (escolinha da Inter), que abriu uma unidade perto da minha casa em Salvador e foi ali que eu disputei meus primeiros dois torneios importantes, entre eles a Dani Cup, na qual eu fui notado pelos principais olheiros do país, que eram do Fluminense, do Palmeiras, do São Paulo e do Santos. Depois fui jogar na base do Jacuipense, porque tinha um grande preparador de goleiros, que foi muito importante na minha carreira, o Luciano Oliveira, que até hoje nas minhas férias, quando eu volto para o Brasil, eu procuro ele para treinar, para me manter em forma. Foi um ótimo preparador de goleiros. Aí que eu ganhei meu primeiro troféu, que é a Taça das Favelas, torneio muito importante e muito competitivo.

+ Richard Ríos foi o 18º jogador do Palmeiras a marcar na temporada; saiba quem ainda não balançou a rede

Como foi esse salto da Taça das Favelas para o Palmeiras? De que forma você avalia sua passagem no Verdão, que hoje é considerado como a melhor categoria de base do Brasil?

Depois da Taça das Favelas eu fui para o Palmeiras, em São Paulo, eu já conhecia o ambiente, porque mesmo estando em Salvador, eu ia treinar lá uma semana a cada dois meses e a minha passagem por lá foi muito importante, muito formadora para a minha carreira. Isso porque eu tive um bom preparador de goleiro, que é o Rafael Carvalho, que me ajudou nessa experiência breve, mas que foi muito formadora para mim. Aprendi e me desenvolvi muito bem.

Como foi sua passagem pela Internazionale?

Passei três anos na Inter, sempre jogando na categoria acima da minha idade. O último ano foi particularmente complicado, porque eu comecei o campeonato sub-15 com os (nascidos em) 2007 jogando muito bem, mas infelizmente passei um mês afastado dos gramados por conta do coronavírus. Depois disso, voltei ao ritmo de jogos, mas após alguns eu tive uma fratura no pé e fiquei mais dois meses afastado dos gramados, foi um período difícil. Depois eu consegui voltar a jogar ainda em tempo para terminar o campeonato nas fases finais, nas quais eu consegui fazer uma ótima campanha com o sub-14 e me tornei campeão italiano.

Por que decidiu deixar a Inter e jogar pelo Bologna?

Eu decidi recusar os muitos benefícios econômicos e o prazer de estar com a minha família aqui em Milão, recusei o projeto técnico da Inter por não acreditar nele e decidi ir para um clube mais formador, que estivesse mais interessado em valorizar e formar o jogador. Vim para o Bologna, que tem uma escola de goleiros muito boa, liderada por Gianluca Pagliuca, que é um dos melhores da história do futebol. Então eu apostei nesse projeto técnico, que é muito mais importante nessa idade do que os benefícios econômicos. Por outro lado, estou longe da minha família, mas que sempre me apoiou nas minhas escolhas, sempre esteve ao meu lado. De qualquer forma, nesses três anos de Inter eu melhorei muito a minha bagagem técnica, consegui desenvolver muitas técnicas de goleiro.

+ Palmeiras confirma ‘fator casa’ na temporada e bate recorde de invencibilidade no Allianz Parque

Aí no Bologna você pode contar com Pagliuca, que é um monstro sagrado do futebol mundial. Como tem sido essa convivência e o que tem aprendido com ele no clube?

Pagliuca foi um dos melhores goleiros da história do futebol e ter ele como treinador é muito importante para mim, pois ele me ajuda muito, durante os treinos ele fica atrás do meu gol sempre me ajudando, me dando dicas sobre quando melhorar. Durante os jogos ele me dá um apoio muito grande com a presença carismática dele. É uma pessoa muito simpática, muito aberta, sempre disposta a ouvir a sua opinião e trabalhar. Com certeza é uma ótima figura.

Com apenas 15 anos, você já tem toda essa experiência e muita história para contar, mas o que você planeja da carreira daqui pra frente? O que você sonha atingir no futebol?

Com 15 anos, eu já tive muitas experiências e muitas oportunidades no futebol, inclusive após ter recusado o Inter e antes de ter assinado com o Bologna, eu tive a oportunidade de treinar uma semana no Red Bull Salzburg, que é uma das melhores divisões de base do mundo e também tive a oportunidade de conhecer a técnica de goleiros austríaca. Acredito muito nessa mistura de culturas de goleiros para sempre melhorar a minha bagagem. Por enquanto, meu objetivo no futebol é continuar nesse percurso fundamental que eu estou fazendo e conseguir colher tudo o que tenho plantado nesses anos, que foi muito esforço e muita dedicação, virando um goleiro profissional de alto nível.

Você já teve convocações para seleção de base da Itália e tem sido monitorado pela Seleção Brasileira. Já tem na cabeça o que fazer quando (e se) tiver de optar por uma das duas? Ou ainda não pensou sobre isso?

Claramente os dois países representam uma parte importante para mim. Sendo a Itália o país do meu pai, e o Brasil o país da minha mãe. Porém, posso dizer que me sinto muito mais brasileiro, pois nasci em Salvador e passei a maior parte da minha vida por lá. Mas todo mundo sabe que o mundo do futebol é feito de oportunidades e quando chegar o momento, eu vou avaliar a situação e decidir o melhor para mim.

Siga o Lance! no Google News