Da infância difícil ao apoio de Nobre, CX10 conta por que não desistiu

Ao L!, camisa 10 diz que se apegou às dificuldades que enfrentou para virar jogador para ter forças contra lesões e revela veto de Nobre à sua saída. Em evolução, ele será titular

imagem cameraCesar Greco/Palmeiras
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 13/05/2016
21:17
Atualizado em 23/06/2016
12:09
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Cleiton Xavier será titular do Palmeiras na estreia do Campeonato Brasileiro, às 16h deste sábado, contra o Atlético-PR, no Allianz Parque. Trata-se de um recomeço para o jogador, que não inicia uma partida desde agosto do ano passado e tenta, enfim, deixar os problemas físicos para trás.

Uma série de três lesões musculares graves o deixou fora de combate por oito meses. O retorno ao futebol teve momentos animadores, nos jogos contra River (URU) e Santos. Agora, o camisa 10 é uma das esperanças na briga pelo título que o clube não ganha desde 1994 - e que o próprio Cleiton ficou bem perto de conquistar em sua primeira passagem, em 2009.

Nesta entrevista ao LANCE!, concedida após o treino desta sexta, o armador fala da frustração daquele ano e detalha os dramas que viveu: o das lesões, que o fizeram pensar em sair do Palmeiras, abrir mão do salário ou até desistir do futebol, e o da infância sofrida, com direito a fome e a morte de um irmão recém-nascido. Foi nesse enredo de dificuldades que ele se apegou para não se entregar ao desânimo. Paulo Nobre, principal responsável por sua volta, também teve importância na decisão de seguir em frente:

- O presidente falou que não me liberaria para clube nenhum. Outros clubes tiveram interesse, queriam um empréstimo, mas ele falou que acreditava em mim. Quando você ouve isso de um presidente que mudou o Palmeiras, não tem outra coisa melhor para fazer do que se dedicar - disse um animado Cleiton Xavier.

Saiba nas linhas abaixo o que ele projeta para o segundo semestre: quantos gols, quantas assistências, quantas taças... Vida nova para ele e para o Verdão de Cuca!

LANCE!: O que as lesões que você sofreu mudaram na sua rotina?
Cleiton Xavier: A gente está sempre fazendo manutenção, alguma coisinha. Na verdade, é mais por prevenção. Os treinos estão sendo fortes, então sempre faço gelo, coloco a botinha (usada para trabalho regenerativo). Antes do treino, a gente faz alguma coisa na academia para pré-aquecer.

Teve de mudar os horários?
Sempre chego antes, sou sempre um dos primeiros a chegar ao vestiário para fazer o pré-treino, aquecer legal, ir ajustando... Depois das lesões a gente passou a ter um pouco mais de cuidado. Nesses dias agora, depois das eliminações, tivemos uma carga de trabalho alta, tive ganho de massa muscular, então fizemos prevenção para não correr o risco de perder esses ganhos.

Você se sente preparado para jogar os 90 minutos contra o Atlético-PR?
A gente está treinando bastante. Acredito que, se não estou no ideal, estou bem próximo do nível do grupo. Esses 15 dias foram muito bons, importantes. Se não jogar os 90, espero jogar próximo disso.

Você só fez um jogo completo desde que voltou, não é? E deu uma assistência...
Foi contra o ASA, dei o passe para o primeiro gol do Gabriel Jesus como profissional e acabei ficando marcado por isso. Fico feliz (risos). Espero dar mais assistências, mas não só isso. Quero ajudar com bastante trabalho, auxiliando na marcação também. Nosso grupo está bem forte, preparado, temos elenco para brigar pelo título e vamos pegar firme.

"Olho para o nosso elenco, a quantidade de jogadores, e penso que talvez tenha sido isso o que faltou em 2009", diz Cleiton, sobre a frustração no Brasileiro daquele ano

Com o Brasileiro começando, você pensa muito naquele campeonato de 2009?
Cara, é uma coisa que nunca me saiu da lembrança. É muito difícil ganhar o Brasileiro e naquele ano esteve muito próximo para a gente. Olho para o nosso elenco, a quantidade de jogadores, e penso que talvez tenha sido isso o que faltou naquele ano. Agora, vendo a qualidade e a quantidade de jogadores, acho que faltam detalhes para a gente ajustar e brigar.

O Cuca costuma conversar individualmente com os jogadores. Ele falou com você também, até para saber das suas condições físicas?
Ele já tinha informação de todo mundo, então a conversa foi mais sobre ajustes, como ele pretende me usar. Ele conversa com todo mundo mesmo, independentemente se está jogando. Ele é aberto, deixa a gente livre para ir tirar dúvidas com ele. Está conseguindo unir todo o grupo em um mesmo objetivo, de ser campeão.

Quando ele afirma que o time será campeão, não é uma pressão a mais no elenco?
Só de você vestir a camisa do Palmeiras, cada treino é uma pressão. Quem não estiver com esse pensamento não pode vestir essa camisa. O mais importante é a gente acreditar. Se a gente acreditar, com a vontade que temos e nossa qualidade, vamos terminar o ano comemorando.

Você é muito querido pela maioria da torcida. É ídolo?
É difícil falar em idolatria quando você tem caras como Marcão, o seu Ademir, o Edmundo... Esses caras marcaram porque ganharam títulos. Eu não me vejo assim. Ganhei só a Copa do Brasil, acho que é muito pouco. Espero que a gente possa ganhar o Brasileiro, uma Libertadores, para eu ficar marcado na história.

"Procuramos todos os tipos de exame para saber se tinha algo errado, mas estava tudo certo"

Você já disse que pensou em parar. Ficou chateado com comentários sobre suas lesões?
Nem tanto com os comentários, era uma coisa sobre mim mesmo. Nunca aconteceu isso na minha carreira e, do nada, você se vê sem jogar. Você está feliz porque está voltando e vem outra contusão, uma atrás da outra, três ou quatro seguidas... Passou um filme pela cabeça. "Caramba, o que está acontecendo? Será que não consigo mais? Meus músculos não ajudam". Procuramos todos os tipos de exame para saber se tinha algo errado, mas estava tudo certo. Foi aí que pensei que era só uma fase. Conversei com amigos, família, minha esposa, e isso me ajudou a não pensar negativo.

Quem foi a primeira pessoa a saber que você pensava em parar?
Minha mulher. Até brinquei outro dia, coitada dela de me aguentar. Não que eu fosse brigar com ela, mas às vezes queria ficar no meu canto, pensando. Ela sempre esteve do meu lado e agradeço muito por aguentar. Foi daí que arrumei forças. Ela falou: "É só uma fase, Deus está preparando coisa melhor, não vamos nos desesperar. Olha quanta coisa você já passou, você vai voltar mais forte". Eu nunca deixei de trabalhar e ter fé.

No que você pensou para se motivar e não desistir?
A maior motivação a gente tem dentro de casa, da nossa infância, como foi difícil chegar onde cheguei. Era mais um motivo para não desistir.

Você já teve problemas maiores do que lesões na vida, não é? Qual foi o maior problema?
O maior problema? Não sei se a dificuldade de antes, de a gente não ter condição de botar comida na mesa. Ia para a escola e às vezes não tinha café da manhã, mas tinha que estudar. Não tinha muita perspectiva de uma melhora e foi no futebol onde encontrei uma solução, que até hoje sustenta minha família. Teve a perda do meu irmão também, quando ele era recém-nascido. Eu sinto falta. Tenho duas irmãs, seria um homem para estar mais junto comigo.

As lesões realmente não parecem um problema tão grave.
Na verdade, isso não é nada. A gente que trabalha com o corpo já espera que isso aconteça. O que não é normal é ter tantas lesões seguidas. Eu estava chateado por isso, porque eu gosto de jogar, queria estar em campo e não estava conseguindo. Pensei em sair do Palmeiras, em parar. É difícil você ver seus companheiros lá, lutando, batalhando, e não poder ajudar quando as coisas não andam.

Você disse que pensou em suspender seu salário. Chegou a falar com o Paulo Nobre?
Eu tinha essa ideia de chegar nele e falar, conversei até com meu representante, para ele falar que eu não queria receber ou até mesmo para me emprestar, para arejar a cabeça, sair um pouco. Mas o presidente mesmo falou que não me liberaria para clube nenhum. Outros clubes tiveram interesse, queriam um empréstimo, mas ele falou que acreditava em mim. Quando você ouve isso de um presidente que mudou o Palmeiras, não tem outra coisa melhor para fazer do que se dedicar.

A expectativa era de que você não treinasse todos os dias no campo, mas você está treinando. Dentro dessa evolução, acha que já pode ter sequência de jogos?
Eu espero que sim. Por eu não ter tido essa sequência no ano passado, talvez todo mundo no clube esteja ansioso, preocupado, sem saber como vou reagir aos jogos. Mas esses 15 dias foram importantes, não fiquei fora de nenhum treino, cumpri todas as cargas, até um pouco mais, para chegar no nível dos outros. Lógico que não vou jogar todas, todo mundo vai estar cansado um jogo ou outro, mas quero jogar o máximo possível.

Vamos fazer uma projeção. Você espera acabar o ano com quantos jogos, assistências e gols?
Eu espero fazer o maior número de jogos possível. Sei que não vão ser todos, por cartões, por lesões... Deus me livre, mas a gente está sujeito. Espero jogar bastante e no final do ano comemorar um título. Ou dois, né?

E os gols e assistências?
Espero que possam ser no mínimo de dez a 15 assistências. Não sou muito de fazer gol, não sou artilheiro, mas se tiver oportunidade quero fazer. Não vou prometer, mas uns três ou quatro até o fim do ano está bom.

Se um deles for como aquele contra o Colo-Colo, melhor?
Só precisa de um então (risos). Só um daquele já está bom demais!

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