Thiago Martins caminhou mancando até o estacionamento da Academia de Futebol e telefonou com lágrimas nos olhos para a namorada, contando que o joelho direito voltara a traí-lo. O jovem já havia ficado seis meses parado após operar e teve uma nova lesão pouco depois de retomar os treinos. Ficou um ano fora.
Um ano e meio depois, já com uma passagem pelo Paysandu no currículo, Thiago caminhou de novo até o estacionamento da Academia, desta vez com passos firmes, e telefonou sorrindo para contar à noiva (sim, agora é noiva!) que poderia ser titular contra o Rosario (ARG), pela Libertadores, já que Roger Carvalho havia machucado.
- Quando eu recebi a notícia da segunda lesão, eu estava parado em frente à recepção, chorando, esperando meu empresário vir me buscar para me levar para casa, porque eu não tinha condição de dirigir. E nesse mesmo lugar, depois de um ano e meio, eu estava falando com minha namorada, que na verdade agora é minha noiva, que eu talvez iria jogar na Libertadores. Até mesmo o Luan (assessor de imprensa do Palmeiras) me falou: “Caraca, eu te vi chorando e hoje te vejo sorrindo” - narrou o garoto de 20 anos, ao LANCE!.
Às 16h de deste domingo, contra o Capivariano, o zagueiro fará seu segundo jogo seguido como titular do Verdão. E é claro que Bianca Scuracchio, a namorada e noiva que há três anos o acompanha, estará no Allianz Parque para torcer por ele.
- Quando ele disse que ia jogar contra o Rosario, o coração quase saiu pela boca. Foi uma emoção muito grande. Ele ama muito o que faz e estava precisando desse momento - conta Bianca, que trancou a faculdade em São Carlos no fim de 2015 para morar com Thiago Martins, primeiro em Belém, depois em São Paulo.
- Eu acabo vivendo tudo com ele, sentindo o que ele sente, porque é tudo muito intenso, né? Quando ele se machucou eu não podia largar a faculdade e vir para São Paulo, mas deixei tudo o que pude para trás para ajudar. Nos fins de semana, sempre estávamos juntos - lembra a jovem.
O relacionamento do casal e a carreira de Thiago têm andado de mãos dadas. Se o período de namoro representou a superação das dificuldades do início de carreira, o noivado representa o começo da afirmação do defensor no Palestra. O casamento, então, virá com a titularidade?
- Ah, o casamento vamos esperar mais um pouquinho. Tem que trabalhar bastante, juntar bastante dinheiro, porque não é fácil. Mas pelo menos no civil eu já vou providenciar - prometeu Thiago.
Com ajuda do pai, Thiago se prepara desde pequeno
Não é só para a noiva que Thiago Martins telefona em seus momentos mais importantes. Denis Bueno, pai do jogador, também recebeu ligações no dia da lesão e no dia em que surgiu a possibilidade de jogar contra o Rosario Central (ARG). Os dois trabalham juntos por momentos como o de quinta-feira há anos.
- Desde o início eu fiz parte dessa história, porque sou educador físico. Trabalhei muito com ele até o acerto com o Mogi Mirim, onde realmente começou a carreira. Com dez anos, quando ele falou que queria ser jogador, comecei um trabalho de preparação, com muita conversa também, mostrando o que era ser atleta - conta Denis, que se emociona ao lembrar de 2014, ano que o filho praticamente perdeu por causa da lesão.
- Para a gente que é da família, ainda mais eu que trabalhei junto dele desde os dez anos, é emocionante.
Confira um bate-bola exclusivo com Thiago Martins:
LANCE!: Já tem uma ideia de data para o casamento?
Thiago Martins: Estamos preparando aí. Primeiro tenho que pedir a família dela em noivado, porque por enquanto eu pedi só para ela. Preciso juntar as duas famílias, o que é um pouco complicado, porque eu sou de Minas Gerais e ela é do interior de São Paulo. Mas eu vou fazer um jantar, alguma coisa bem legal para pedir. O casamento ainda vai demorar (risos).
O nervosismo para o noivado é maior ou menor do que em um jogo de Libertadores?
Ah, mais para jogar, porque já faz três anos que eu estou na família, Já tenho a convivência, já tenho intimidade, então fico mais nervoso para jogar do que para pedir em noivado.
No período de pré-temporada em Itu, você deu entrevista coletiva e ainda te perguntavam sobre a chance de estar entre os 28 inscritos do Paulista. Agora você foi titular no jogo mais importante do ano. É uma prova de que é preciso estar preparado, mesmo que não pareça haver perspectiva de jogar?
Pois é, na época eu nem sabia se ia ser inscrito. Todo jogador tem que estar preparado, não importa se é segunda, terceira ou quarta opção. Tem que trabalhar forte para agarrar a oportunidade quando ela chegar. Pode ser uma, podem ser duas oportunidades, só Deus sabe quando vai ter de novo. Então você tem que entrar e jogar bem.
Você, como um dos mais jovens do grupo, observa muito os mais experientes para aprender?
Eu sou muito mais de observar as coisas do que de falar. Vejo o jeito que bate na bola, o jeito que corre, o jeito que protege, e vou adaptando ao meu estilo de jogo. O que é bom é sempre bem-vindo. O Zé Roberto não tem o que falar, um cara exemplar. Dracena, Vitor Hugo... Posso falar a verdade? Vejo um pouquinho de cada um do nosso grupo e tento me espelhar nas melhores coisas, não importa a idade. O Gabriel Jesus é 97. Tenho de buscar as melhores coisas de cada um para absorver e colocar no meu dia a dia.
O que você mudou do ano em que chegou ao Palmeiras, 2013, até agora?
Mudaram muitas coisas. Além de já ter jogado aquela vez contra a Chapecoense (estreia, na última rodada da Série B de 2013), ter a lesão, aprender a escutar mais as pessoas. Eu era muito impulsivo, queria tudo para ontem. Com a lesão, não tinha o que fazer. Eu tinha que esperar, trabalhar para voltar o mais forte possível. Com a saída para o Paysandu eu aprendi muito, cidade novas, pessoas novas, jogadores novos. Vim amadurecendo desde 2013, com certeza esse jogo foi o mais importante da minha carreira. E espero ter mais desses, porque foi muito bom, cara. Mesmo com toda pressão, foi muito bom.