Liberta-99: Evair ainda não entende expulsão e vê pênalti pior que em 93

Em relato exclusivo ao LANCE!, ídolo do Palmeiras, autor do primeiro gol na decisão que completa 21 anos nesta terça-feira, lembra final e diz que Corinthians queria contratá-lo

imagem cameraEvair entrou no intervalo para bater pênalti que abriu o placar, mas foi expulso no final (Foto: Reginaldo Castro)
Avatar
Lance!
São Paulo (SP)
Dia 15/06/2020
19:18
Atualizado em 16/06/2020
16:55
Compartilhar

Há exatamente 21 anos, em 16 de junho de 1999, o Palmeiras conquistava a Libertadores, vencendo o colombiano Deportivo Cali por 2 a 1, no tempo normal, e por 4 a 3, nos pênaltis. Ídolo no título paulista que quebrou o jejum do clube em 1993, Evair fez um relato ao LANCE! daquela decisão, na qual saiu do banco no intervalo para converter o pênalti que abriu o placar e, no fim do segundo tempo, acabou expulso sob acusação de agressão (que nega até hoje).

"Antes de ir para a Portuguesa, em 1998, e de voltar para o Palmeiras, em 1999, tive proposta do Corinthians. Se tivesse necessidade, talvez, um dia, eu iria, poderia acontecer. Mas a proposta do Palmeiras era a mesma. Não tinha motivo para enfrentar a rivalidade à toa. Minha vontade era ir para o Palmeiras.

Sempre tive vontade de voltar, sem nenhum medo de manchar o que já tinha feito no clube. Já tinha dado a minha resposta com dois Campeonatos Paulistas e dois Campeonato Brasileiros (ambos em 1993 e 1994). Eu só poderia melhorar. Na minha primeira passagem, dávamos pouco valor à Libertadores. De repente, a Libertadores ficou mais valorizada ainda, ir para Tóquio (sede do Mundial) ficou cada vez mais desejado. Isso foi mudando durante o tempo.

E precisei me adaptar a não ser titular. Não esperava ser reserva, em momento algum. Trabalhava para ser titular. De repente, me deparei com o banco. Não era o que eu pensava, mas tentei fazer parte de um grupo, que era o mais importante. Acabei adquirindo isso com o passar dos anos. Com a experiência de ter vivido em vários grupos, fui tirando coisas boas daquilo. Sempre procurei ser o mais discreto possível e falar nos momentos em que achava que havia necessidade. Isso é algo que eu trouxe da vida toda.

Quando o Felipão me chamava para entrar, em qualquer jogo, simplesmente me dizia "vai lá". E pronto. Foi assim na final também. Não existia muito essa coisa de ele me falar o que queria porque eu sabia o que fazer. Não tinha nenhuma instrução direta porque ele sabia que eu ia procurar o melhor espaço em campo, fazer o que precisava.

Entrei no começo do segundo tempo, e a bola chegou mais vezes. Teve até um lance com o Euller, que também tinha saído do banco, em que ajeitei para ele e já corri para dentro da área. São coisas que, em determinadas circunstâncias do jogo e pelas características dos jogadores, você pode tirar proveito, e tiramos proveito dessa maneira. O time sabia que a bola ia chegar e eu ia segurar, com bom toque de bola. São coisas que fizeram o nosso segundo tempo ser melhor.

Mas aquele pênalti foi mais difícil de bater do que aquele marcante, da final do Paulista de 1993, quando eu estava muito mais preparado por já saber que bateria pênaltis. Em 1999, eu estava no banco, não era o responsável. Seria o Zinho ou o Alex, mas eles conversaram e, de repente, a bola estava na minha mão. Não é que pularam fora ou se recusaram a bater. Eles sabiam que eu era mais experiente e que bateria o pênalti também.

Depois, no lance da minha expulsão, não fiz nada, na verdade. Estava naquela história de ele tirar a minha mão, eu tirar a mão dele, um empurrando o outro, e o cara se jogou dentro da área. Ficou no chão, caído, falando na língua do juiz, que queria compensar por já ter expulsado um jogador deles. Não só o Palmeiras, todos os times brasileiros sempre foram prejudicados, parece que tem uma compensação, porque podemos ser campeões do mundo, mas não ganhamos na América do Sul. Por isso, o Brasil fica muitos anos sem ganhar Libertadores e Copa América, é impressionante.

Se tivesse árbitro de vídeo, eu não seria expulso. Na verdade, até tentei ver o lance várias vezes. Tanto que a única das reprises recentes que tive curiosidade de ver mesmo foi essa final da Libertadores de 1999. Fiquei curioso em ver o lance da expulsão, e não consegui ver que fiz nada. Acho que não tinha tantas câmeras, porque não aparece nada em ângulo nenhum. Não lembro de ter feito nada, e nunca achei nada. Então, acabei mesmo sendo prejudicado.

Essa foi a parte mais difícil. Além de ser expulso, sem poder ajudar batendo pênalti, tive que acompanhar os pênaltis pelos gritos dos torcedores, porque não tinha nem televisão. No vestiário, eu, evangélico, estava ajoelhado, de um lado da cama, e o padre (Pedro Bauer, amigo de Felipão), do outro. Hoje, posso dizer que foi uma cena cômica. Mas, no dia, não tinha nada de cômico.

Quando teve silêncio, percebi que tínhamos errado e que foi o primeiro pênalti
(Zinho bateu no travessão). Depois, começaram os gritos. Quando o grito passou a ser contínuo, sem parar mais, percebi que tínhamos sido campeões. Aí, alguém abriu a porta para nos contar. Percebi que, realmente, tínhamos sido campeões.

Acabou sendo o meu último título no Palmeiras. Seria legal se tivesse o Mundial
(o Palmeiras perdeu por 1 a 0 para o Manchester United, em 30 de novembro). Mas posso dizer que minha história fechou legal. Foram 126 gols, bastante coisa. E nunca nenhum jogador do Palmeiras fez tantos gols em uma mesma temporada, nem mesmo o Heitor (maior artilheiro da história do Palmeiras), quanto os 53 que fiz em 1994. Isso tudo é algo a se lembrar."

Siga o Lance! no Google News